sábado, novembro 28, 2015

Comentários Eleison: Novus Ordo Missae - II

Comentários Eleison - por Dom Williamson

CDXXXVII (437) - (28 de novembro de 2015):


NOVUS ORDO MISSAE – II



Onde um milagre eucarístico ocorre verdadeiramente,
Deus está a mostrar que Ele mesmo está ali presente.



               Fatos são teimosos – desde que sejam fatos. Se os leitores duvidam de que o milagre eucarístico de 1996, em Buenos Aires, seja um fato, que façam sua própria pesquisa: http://youtu.be/3gPA6D43fTI pode servir como um ponto de partida. Mas se suas pesquisas sobre o caso não os convencem, que vejam o caso paralelo de Sokólka, na Polônia, onde todo um centro de peregrinação surgiu ao redor do milagre eucarístico de 2008 [jloughnan.tripod.com/sokolka.htm]. E um pouco mais de pesquisa na internet os levariam certamente a descobrir relatos de mais milagres no Novus Ordo, ao menos alguns autênticos.

               Mas como isso é possível? Católicos tradicionais absorvem com o leite materno que o novo rito da Missa (NOM) é uma abominação aos olhos de Deus e que ajudou um incontável número de católicos a perder a fé. Isto porque o NOM, como o Vaticano II que o seguiu, é ambíguo, favorece heresias e tem conduzido para fora da Igreja inumeráveis almas, tornadas virtualmente protestantes por causa da participação regular num rito protestantizado. A maioria dos católicos tradicionais deve estar familiarizada com os sérios problemas doutrinais deste novo rito, concebido para diminuir as doutrinas católicas essenciais sobre a Real Presença, o Sacrifício propiciatório e o sacerdócio sacrifical, entre outros problemas. Então, como Deus pode fazer milagres eucarísticos por meio desse rito, e ter feito de Sokólka um centro nacional de peregrinação para toda a Polônia?

               Doutrinalmente, o NOM é ambíguo, posto entre a religião de Deus e a religião conciliar do homem. Nesse sentido, em questão de fé, a ambiguidade é mortal, sendo normalmente concebida para enfraquecer a fé, o que o NOM frequentemente faz. Mas, estando a ambiguidade aberta exatamente a duas interpretações, o NOM não exclui absolutamente a antiga religião. Num padre devoto, sua ambiguidade pode ser toda voltada para a velha direção. Isto não faz com que o NOM seja aceito como tal, porque sua ambiguidade intrínseca ainda favorece a nova direção, mas isto realmente significa, por exemplo, que a consagração pode ainda ser válida, algo que Monsenhor Lefebvre nunca negou. Mais ainda, se os milagres eucarísticos são genuínos, claramente nem todas as consagrações de bispos e as ordenações de padres do Novus Ordo são inválidas também. Em resumo, o NOM como tal é mau como um todo, mau em partes, mas não mau em todas as suas partes.

               Agora, imaginemos, com o máximo respeito, a atitude de Deus Todo-Poderoso diante do novo rito da Missa. Por um lado, Deus ama sua Igreja como a menina de Seus olhos, e a preservará até o fim do mundo (Mt. XVI, 18). Por outro lado, Ele escolheu confiar seu governo a clérigos humanos e falíveis, os quais guiará, mas a cujo livre-arbítrio Ele evidentemente concede carta branca, num nível extraordinário, para que eles governem bem ou mal a Igreja, começando pela traição a Seu próprio Filho. Agora, nos tempos modernos, a Revolução, seja ela judia, maçônica, comunista ou globalista, encontra seu principal adversário em Sua Igreja, e ela tem trabalhado especialmente sobre seus líderes para colapsá-la. Seu mais terrível sucesso foi o Vaticano II e seu NOM, que foram certamente muito mais culpa dos pastores que das ovelhas. “O fruto foi traído até mesmo pelos que deveriam tê-lo defendido”, disse São João Fisher em um momento paralelo na Contra-Reforma. Então, como Deus olhará para Suas ovelhas, muitas das quais – não todas – são relativamente inocentes em relação à traição conciliar?

               Depois do Vaticano II, alguns padres e leigos tiveram a graça de ver imediatamente o que era uma traição, e em poucos anos o movimento tradicional estava a caminho. Para outras ovelhas, Deus deu a graça de enxergar a traição depois. Mas não podemos todos admitir que há muitos bons católicos que confiaram em seus bispos, algo que os bons católicos normalmente devem fazer? E não insistiram esses bispos na mentira que era o NOM, como se ele não fosse diferente da verdadeira Missa? O que especificou o Vaticano II e o NOM foi exatamente a oficialização da heresia modernista dentro da Igreja. Deste modo, não faz sentido que, no que diz respeito à punição do mundanismo moderno, essas ovelhas tenham perdido amplamente o verdadeiro rito da Missa, mas, em relação à recompensa a seu desejo pela Missa, não tenham perdido uma Missa válida? Mas o futuro da Igreja depende das almas que compreendem a Revolução e repudiam completamente todas as ambiguidades do Vaticano II e do NOM.


Kyrie Eleison.

sábado, novembro 21, 2015

Comentários Eleison: Novus Ordo Missae - I

Comentários Eleison - por Dom Williamson

CDXXXVI (436) - (21 de novembro de 2015):



NOVUS ORDO MISSAE  –  I

Deus realizou milagres com a Nova Missa?

É o que sugerem as pesquisas.

“Fatos são teimosos”, é uma famosa citação do segundo presidente dos Estados Unidos, John Adams (1735-1826), “e quaisquer que sejam nossos desejos, nossas inclinações ou os ditames de nossa paixão, eles não podem alterar o estado dos fatos e sua evidência”. Em relação ao Novus Ordo da missa imposto por Paulo VI, em 1969, a toda Igreja de Rito Latino, há alguns fatos teimosos, aptos a perturbar “os desejos e as inclinações” de católicos que estão aderindo à tradição católica. Deixemos as sucessivas edições desses “Comentários”, antes de tudo, apresentarem alguns desses fatos. Em segundo lugar, vejamos como podem ser explicados à vista do desastroso papel desempenhado nos últimos 46 anos pelo NOM com o intuito de ajudar os católicos a perderem a Fé e, por fim, consideremos a que conclusões os sábios católicos precisam chegar. Antes de tudo, alguns fatos:

Em 18 de agosto de 1996, na paróquia da igreja de Santa Maria, no centro de Buenos Aires, Argentina, Fr. Alejandro Pezet estava terminando de distribuir a comunhão (da Nova Missa, é claro), quando uma mulher lhe avisou sobre uma hóstia descartada aos fundos da igreja. Um paroquiano que tinha acabado de recebê-la nas mãos deve tê-la jogado fora e a abandonado no chão, como se não estivesse mais própria para o consumo. Fr. Pezet recolheu-a, colocou-a corretamente num vaso de água e no tabernáculo, onde em poucos dias normalmente se dissolveria e poderia ser descartada apropriadamente. Entretanto, quando no dia 26 de agosto o sacerdote abriu o tabernáculo, qual não foi sua surpresa ao ver que a hóstia havia se transformado em uma substância sangrenta. Fotografias tiradas 11 dias mais tarde por ordem do bispo Bergoglio mostraram que ela havia aumentado consideravelmente de tamanho. Por três anos, foi mantida sob sigilo absoluto no tabernáculo, mas em 1999 o Arcebispo Bergoglio decidiu levar a cabo uma análise científica. Em 15 de outubro de 1999, na presença de testemunhas, ele permitiu que Dr. Ricardo Castañon, um neuropsicofisiologista aprovado por Roma, levasse uma mostra para teste.

Dr. Castañon levou a mostra primeiramente a um laboratório forense em San Francisco, que reconheceu nela DNA humano. Certo Dr. Robert Lawrence localizou glóbulos brancos. Certo Dr. Ardonidoli, na Itália, pensou que se tratasse provavelmente de tecido cardíaco. Um professor australiano, John Walker, reconheceu como sendo tecido muscular com glóbulos brancos intactos. Para eliminar qualquer dúvida, Dr. Castañon se dirigiu a um renomado cardiologista e patologista forense da Universidade de Columbia, Nova York, Dr. Federico Zugibe, sem dizer-lhe de onde vinha a espécie.

Observando em seu microscópio, Dr. Zugibe teria dito: “Posso dizer-lhe exatamente o que é. É parte do músculo que se encontra na parede do ventrículo esquerdo do coração, que faz batê-lo e que dá vida ao corpo. Misturado ao tecido há células brancas sanguíneas que me dizem, primeiramente, que o coração estava vivo no momento em que a mostra foi tomada, porque as células brancas sanguíneas morrem fora do organismo vivo e, em segundo lugar, que as células brancas se encaminham a uma lesão, de modo que este coração sofreu. Este é o tipo de coisa que vejo em pacientes que foram golpeados no peito”. Quando foi lhe perguntado por quanto tempo estas células permaneceriam vivas se tivessem vindo de uma amostra mantida em água, Dr. Zugibe replicou que teriam deixado de existir em questão de minutos.

Quando em junho de 1976, o Arcebispo Lefebvre estava a ponto de ordenar seu primeiro grande grupo de sacerdotes da FSSPX, apesar da desaprovação de Roma, um oficial romano veio prometer-lhe o fim de todos os problemas com Roma se somente celebrasse um NOM. Baseado em princípios, por razões doutrinais, ele se negou. Então, como Deus Todo-Poderoso pôde ter realizado milagres eucarísticos com e por meio dessa Nova Missa? Leiam aqui, na próxima semana, uma resposta sugerida.

Kyrie eleison.

sábado, novembro 14, 2015

Comentários Eleison: Infiéis pertinazes

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXXXV (435) - (14 de novembro de 2015):

INFIÉIS PERTINAZES

Quando a Europa tinha fé, podia derrotar
As hordas muçulmanas, e agora? — um retiro a se prolongar.

Enquanto os vacilantes remanescentes da Cristandade encaram hoje uma invasão muçulmana organizada pelos milenares inimigos de Deus, graças aos infelizes políticos das nações ocidentais e à mídia infame, é bom relembrarmos como a Cristandade foi tratada pelas invasões muçulmanas no passado, e como teve, então, de defender-se voltando-se para Deus. No verão de 1683, um grande exército muçulmano, algo em torno de 150 a 300 mil soldados, sitiou Viena e ameaçou engolfar a Europa de sul a leste. Os muçulmanos até conceberam capturar Roma, para a glória do Islã.

Com a ajuda de um santo capuchinho, Fr. Marco da Aviano, o Papa Inocêncio XI conseguiu reunir um exército cristão, formado por várias nações europeias, com o intuito de liberar Viena. Eis a oração do capuchinho pouco antes da batalha:

“Ó grande Deus dos exércitos, olhai-nos prostrados aqui, aos pés de vossa majestade, para impetrar-vos perdão pelas nossas culpas. Sabemos bem que merecemos que os infiéis impusessem as armas para oprimir-nos, porque as iniquidades que cometemos diariamente contra vossa bondade provocaram justamente vossa ira. Ó grande Deus, vos pedimos perdão do íntimo de nossos corações; execramos o pecado, porque Vós o abominais; estamos aflitos porque repetidamente excitamos à ira vossa suma bondade. Por amor a Vós mesmo, preferiríamos mil vezes morrer que cometer a mínima ação que vos desagrade. Socorrei-nos com vossa graça, ó Senhor, e não permitais que nós, vossos servos, rompamos o pacto que somente convosco fizemos. Tende, pois, piedade de nós, tende piedade de vossa Igreja, contra a qual o furor e a força dos infiéis já se preparam para oprimi-la. Ainda que seja por nossa culpa que tenham sido invadidas estas belas e cristãs regiões, e ainda que todos estes males que nos assaltam não sejam outra coisa que a consequência de nossa malícia, sejais todavia propício, ó bom Deus, e não desprezeis a obra de vossas mãos. Recordai que, para livrar-nos da servidão de Satanás, Vós destes vosso precioso Sangue.”

“Permitireis talvez que eles sejam pisados pelos pés daqueles cães? Permitireis talvez que a fé, esta bela pérola que procurastes com tanto zelo e que resgatastes com tanta dor, seja lançada aos pés destes porcos? Não vos esqueçais, ó Senhor, que, se vós permitirdes que os infiéis prevaleçam sobre nós, estes blasfemarão contra vosso santo Nome e zombarão de vossa potência, repetindo mil vezes: ‘Onde está vosso Deus, aquele Deus que não conseguiu libertar-vos de nossas mãos?’ Não permitais, ó Senhor, que vós sejais lembrado por ter permitido a fúria dos lobos, exatamente quando vos invocávamos em nossa miserável angústia. Vinde socorrer-nos, ó grande Deus das batalhas! Se Vós estais em nosso favor, os exércitos dos infiéis não poderão nos prejudicar. Dispersai essa gente que quis guerra! De nossa parte, não amamos outra coisa que estar em Paz convosco, conosco mesmos e com nosso próximo.”

A oração continua com o pedido para que os líderes do exército cristão e os soldados se fortaleçam com a graça de Deus, com o espírito e a coragem dos heróis do Antigo Testamento, para que possam reduzir a zero os inimigos do nome cristão e mostrar adiante o poder de Deus. Que Deus conceda a fé, a esperança e a caridade aos soldados cristãos. Em Seu nome Marco abençoará em seu caminho para a batalha. Deixemos Deus segurar o braço de Sua cólera sobre eles, e deixemos seus inimigos saberem que não há outro Deus que não Ele. Como Moisés, Marco levantará seus braços para abençoar os soldados cristãos. Deus lhes garantirá a vitória, e a ruína dos inimigos deles. Amém.

Que politicamente incorreto! “Cães” e “porcos” – Que racista! Intolerável! Mas o fato é que Deus garantiu aos cristãos uma sensacional vitória que afastou os muçulmanos por 300 anos. Agora eles estão de volta. E agora, virtualmente, não resta arrependimento para que se possa invocar Deus Todo-Poderoso...

Kyrie eleison.


Tradução por Leticia Fantin Vescovi.

Comentários Eleison: O Vaticano II Desenterrado

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXXXIV (434) - (07 de novembro de 2015):

O Vaticano II Desenterrado

Um Deus diminuído, esvaziado, retalhado,
Não atrairá. Seja Cristo novamente coroado.

Acabei de reler Pope John’s Council [O Concílio do Papa João], de Michael Davies, escrito em 1977 e com pouca necessidade de ser atualizado quase 40 anos mais tarde. Talvez Michael Davis tenha sido muito amável com o Concílio, mas existem muitas verdades importantes no livro, motivo pelo qual pode ser calorosamente recomendado a qualquer um que esteja iniciando seus estudos sobre ele. Especialmente interessante é o Apêndice VI, que consiste em uma revisão escrita pelo Professor Louis Salleron, em 1936, sobre o até então recém-surgido livro Humanismo Integral, do filósofo francês Jacques Maritain (1882-1973). Este livro interessou tanto a um padre italiano, Giovanni-Battista Montini, que ele o traduziu para o italiano. Mais tarde, tornou-se o Papa Paulo VI, o principal arquiteto do Vaticano II. Assim, Salleron desenterra as raízes do Concílio, 26 anos de ele começar.

Humanismo Integral apresenta a visão de Maritain sobre um novo futuro para uma remodelada Cristandade. A civilização burguesa está condenada, mas ao invés de a Igreja continuamente condenar a centralização do homem do humanismo, que permitiu a ascensão da Revolução Francesa (1789), que permitiu a ascensão daquela burguesia, a Revolução precisa ser reconhecida como parte de um processo histórico contínuo e inevitável, o qual o Cristianismo pode e deve aceitar. Por esse meio, enquanto todo o curso da história moderna não pode ser parado, não obstante, por Cristo o humanismo pode se tornar verdadeiramente, completamente humano, transformando-se em um “humanismo integral”. O Cristianismo, então, reconstruído sobre fundações modernas, trará Cristo ao homem moderno e o homem moderno a Cristo: eis a admirável intenção de Maritain, de Paulo V e de Dom Fellay.

Mas “de boas intenções o inferno está cheio”, diz o velho e sábio provérbio. Salleron admira muitas coisas no livro de Maritain, filósofo especialista em tomismo que sabia bem, diz Salleron, como apresentar qualquer ideia de modo a não contradizer a doutrina católica. Mas Salleron objeta fortemente contra a leitura de Maritain sobre a história moderna, e a chama de “marxista”. Karl Marx (1818-1883) também começou pelas raízes da civilização burguesa, mas concluiu que ela deveria ser completamente rejeitada pela Revolução em andamento, com o intuito de abrir caminho para o sonho de uma sociedade sem classes, que funcionou, na realidade, como o pesadelo do comunismo. Nesse sentido, Maritain rejeita as conclusões de Marx, mas aceita sua análise da história, para dessa maneira modelar um novo acordo do Cristianismo, que trabalharia para o homem moderno: nem a modernidade em fundações modernas (Marx e Wagner), nem Cristo em fundações de Cristo (Pio X – ver especialmente sua Letter on the Sillon – e Monsenhor Lefebvre), mas Cristo em fundações modernas. O resultado é aquele neocristianismo que pode ser encontrado nos documentos do Vaticano II, a saber: Cristo é a verdadeira realização do homem – não que o homem esteja ordenado a Cristo e a Deus, mas Deus e Cristo é que estão ordenados ao homem.
Infelizmente, soluções de acordo não funcionam com Nosso Senhor. Ele diz, “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto vem do maligno” (Mt. V, 37). E “aquele que não está comigo, está contra mim” (Mt. XII, 20). Uma religião do verdadeiro Deus centrada no homem é uma contradição de termos. Salleron aponta que não há nada de inevitável na marcha da história moderna tal qual Marx e Maritain imaginaram. Se o homem moderno está caminhando em direção ao Demônio, é pela livre escolha do homem. O que liberais como Maritain, Paulo VI e Monsenhor Fellay não compreendem é a realidade do mal. Não compreendem que o homem moderno simplesmente não quer Cristo, e que Deus não forçará o homem a isto. Liberais diminuirão Deus para torná-lo atraente ao homem moderno, mas a maioria dos homens modernos virará as costas, com indiferença ou com repulsa. O Vaticano II tem sido um fracasso colossal, e o “humanismo integral” tem sido só mais um exemplo da desintegração deste humanismo, porque não é centrado em Deus.

A política, a economia, os bancos, as finanças, as artes, a medicina, a lei, a agricultura, toda a sociedade moderna tem de submeter-se novamente ao Reinado Social de Cristo Rei. Esta era a solução de Monsenhor Lefebvre. É a única solução.

Kyrie eleison.

Tradução por Leticia Fantin Vescovi
Última atualização em Sáb, 14 de Novembro de 2015 18:53.




sábado, novembro 07, 2015

Comentários Eleison: Novamente, Cultura

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXXXIII (433) - (01 de novembro de 2015):

NOVAMENTE, CULTURA


Católicos, não desprezem os pagãos,
Agostinho disse, "toda verdade pertence a nós, cristãos".

Uma leitora dos “Comentários” questiona novamente o valor da cultura não católica, atacando-os por causa dos elogios a Wagner (EC9) e a T.S. Eliot (EC 406, 411). Para ela, T.S. Eliot deve ser rejeitado como um protestante, ao passo que Wagner é um diabo jacobino apaixonado pelo budismo, cuja música está carregada de impureza gnóstica. Veja, ambos, Eliot e Wagner, têm suas faltas, graves faltas quando mensuradas em relação à plenitude da verdade católica, como os “Comentários” mencionados acima apontam. Entretanto, em nossa época doentia eles têm sua utilidade, a qual pode ser resumida pelas palavras atribuídas a Santo Agostinho: “Toda verdade pertence a nós, cristãos”.

Eliot e Wagner pertencem à “cultura” de outrora. Para nossa finalidade, definiremos cultura como as histórias, a música e as imagens que homens de todas as épocas necessitam para nutrir suas mentes e seus corações. Assim definida, a cultura reflete e revela, ensina e molda. Reflete porque é o produto de algum escritor, músico ou artista que tem o talento de dar expressão ao que se passa em sua alma e na de seus contemporâneos. Se foi popular em seu tempo, a cultura revelou parte do que acontecia em suas almas. Se se tornou um clássico a partir daí, como Eliot e Wagner, é porque reflete e revela parte do que acontece nas almas de homens de todos os tempos. Assim, da extrema pobreza de sua formação unitarista, Eliot foi capaz de desenhar seu assustador retrato do homem moderno, enquanto Wagner, para além de qualquer budismo ou gnosticismo, à custa de um imenso talento preencheu suas óperas com uma riqueza de verdadeira psicologia humana que milhares de comentadores não pararam de interpretar desde então.

A cultura também molda e ensina porque o escritor, ou o músico, ou o artista, dá expressão e forma a movimentos até então informes, nas mentes e nos corações de seus contemporâneos. Shelley chamou de poetas “os legisladores não reconhecidos do mundo”. Elvis Presley e os Beatles tiveram enorme influência sobre a juventude moderna, e sobre as gerações seguintes. Picasso quase criou a arte moderna e, em grande parte, projetou o modo como os modernos visualizam o mundo a seu redor. Esses exemplos modernos da grande influência da literatura, da música e da arte sobre os seres humanos raramente podem ser apreciados porque o homem moderno é deveras ímpio, e há nele pouco que valha a pena refletir ou expressar. Contudo, a imensa influência não pode ser negada.

Em resumo, a cultura é baseada e advinda das almas dos homens. E a Igreja Católica trabalha para a salvação dessas almas. Então, como poderia negligenciar a cultura? Seus próprios escritores direcionaram os pensamentos dos homens, e seus artistas e seus músicos preencheram suas igrejas com beleza, a fim de elevar suas almas a Deus, desde o início da Igreja. “É claro”, alguém poderá objetar, “que isto é verdade em relação à cultura católica, mas nem Eliot nem Wagner foram católicos. Então, que serventia têm para a Igreja?”

No homem, há três coisas: a graça, o pecado e a natureza. Proveniente de Deus, nossa natureza básica somente pode ser boa, mas, como foi maculada pelo pecado original, também é fraca e inclinada ao mal. A natureza é como o campo de batalha da eterna guerra entre a graça e o pecado, que lutam para possuí-la. A graça eleva e cura a natureza. O pecado a derruba. Eis a luta sem fim. A Eliot e a Wagner pode ter faltado a graça, mas Deus lhes permitiu serem mestres da natureza. A Igreja é a comandante-chefe no que diz respeito à salvação das almas. Como ela poderia falhar em estudar o campo de batalha e em extrair todos os possíveis benefícios dos mestres da natureza, para conhecer as almas do tempo e ensiná-las?

Kyrie eleison.

segunda-feira, novembro 02, 2015

Comentários Eleison - O Sínodo dos Bispos

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXXXII (432) - (24 de outubro de 2015):

O SÍNODO DOS BISPOS


A lei de Deus pertence a Deus e não ao homem.
Este deve, com Cristo, bem obedecê-la em Seu nome.


Quando foi aberto em Roma, no dia 4 de outubro, o encontro de três semanas de bispos católicos de todo o mundo para discutir questões relativas à família, muitos católicos temeram que isto abalasse a doutrina moral imutável da Igreja, principalmente porque o Papa Francisco está muito determinado a se aproximar do imoral homem moderno. Contudo, católicos de mentalidade tradicional se sentiram encorajados pelo surgimento de uma substancial resistência, antes e durante o Sínodo, da parte de muitos prelados da Neoigreja que se opõem a qualquer tipo de abalo. Somente amanhã os resultados do Sínodo serão conhecidos, mas certas coisas já estão claras, quaisquer que sejam eles.

Em primeiro lugar, ninguém pode dizer que não sobrou nada de católico na Igreja Católica oficial. O conciliarismo pode até ter infectado a fé e a moral de muitos, mesmo as de seus prelados, mas afirmar que todos são completamente corruptos é uma grave injustiça e uma exagerada simplificação. Está claro que alguns deles estão fazendo o melhor que podem para defender a lei moral de Deus.
Em segundo lugar, contudo, estes bons homens (nesta perspectiva) estão lutando a partir de um posicionamento frágil, porque o dogma é o fundamento da moral, e com o Vaticano II a Neoigreja abandonou-o. O dogma fundamenta a moral porque, por exemplo, se Deus, o Céu e o Inferno (dogma) não existem, que dever teria eu de obedecer aos Dez Mandamentos (moral)? O Vaticano II, por meio de sua Declaração sobre a Liberdade Religiosa, destruiu o dogma, porque se ele ensina que um Estado deve reconhecer que todos os seus cidadãos têm o direito de praticar publicamente a religião de sua escolha, então Jesus Cristo não pode ser Deus. Porque, se ele é Deus, então o Estado (procedendo de Deus tanto quanto os homens que o compõem) não poderia garantir tal direito às religiões que negam que Jesus seja Deus. Conceder tal direito é implicitamente negar que Jesus seja Deus. Portanto, 50 anos antes do Sínodo, o Vaticano II abalou de antemão todos os subsequentes defensores da moral cristã, por mais que fossem homens decentes, ao menos que eles repudiassem o Vaticano II.

É por isto que, em terceiro lugar, como argumenta John Vennari (ninguém precisa concordar com tudo o que fala), o truque essencial daqueles que buscam modificar a moral católica no Sínodo tem sido o “voltar-se para o homem”, base de todo o Vaticano II. Eis o truque: “A Igreja de Deus foi feita para o homem. É verdade que Deus não pode mudar, mas sua Lei deve se adequar ao homem, e a Lei de outrora não mais se adéqua ao homem atual. Logo, aquela Lei deve adaptar-se aos tempos modernos”. Entretanto, a Igreja Católica foi comprada pelo Sangue de Cristo não para rebaixar Deus ao nível dos homens, mas para elevar o homem a Deus e para proporcionar-lhe, através de Cristo, meios para este fim.

Em quarto lugar, como Michael Voris diz (ninguém precisa concordar com tudo o que fala), o Sínodo está repleto de “burburinho de bispos”. Isto porque, para muitos neobispos, a doutrina católica nunca terá sido corretamente ensinada. De fato, é bem provável que eles tenham aprendido que não existe tal coisa como fé imutável. Graças ao Vaticano II, suas mentes estão à deriva, entre a moral e a antimoral de todas as religiões do mundo. Desta forma, não pode causar espanto eles raciocinarem pouco e conversarem fiado.
Em quinto lugar, como um honrado colega da Fraternidade Sacerdotal São Pio X diz (ele foi criticado anteriormente nestes “Comentários”), mesmo se amanhã o Sínodo se encerrasse com conclusões totalmente católicas, ainda assim a lei moral de Deus teria sido abalada pelo mero fato de ter sido questionada em pontos cruciais por muito tempo, pública e oficialmente. Além disso, parece certo que este Sínodo não baseia nem mesmo suas conclusões verdadeiras na verdade objetiva destas, mas no voto dos bispos, o que permite que os liberais retornem no próximo ou em outro ano, de voto em voto, até conseguirem finalmente o que querem. Hoje, o jogo eletivo lhes pertence.

Kyrie eleison.