terça-feira, junho 26, 2018

Comentários Eleison: A FSSPX Cinquentista

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DLXXI (571) (23 de junho de 2018):



 A FSSPX CINQUENTISTA

Fazei uma coisa e outra, como diz Jesus.
Quando ajudar seu irmão, não se esqueça de Deus.

Os paralelismos entre o estado da Igreja Universal na década de 1950 e o estado da Fraternidade Sacerdotal São Pio X nos anos 2000 continuam surgindo, porque é a mesma doença que aflige tanto a Igreja quanto a FSSPX. Em que consiste essa doença? Em um desejo de alcançar o homem que se afasta cada vez mais de Deus, tanto que a imagem do verdadeiro Deus é distorcida para além de todo reconhecimento ao ser levada ao nível do ímpio homem moderno sem Deus. Com a Igreja, a Fé de todos os tempos devia ser adaptada para adequar-se ao nosso mundo moderno, dando origem ao Concílio Vaticano II. Com a FSSPX, a Tradição Católica de todos os tempos, fez-se para ajustar-se àquele Concílio, dando origem ao deslizamento da FSSPX. “As mesmas causas produzem os mesmos efeitos”.

Ano passado foi o centenário das grandes aparições de Nossa Senhora em Fátima, Portugal. Ela alertou sobre terríveis desastres que poderiam acontecer à humanidade se suas advertências não fossem ouvidas. Os homens da Igreja reagiram inadequadamente, porque depois de vários anos Ela teve de dizer à Irmã Lúcia que até mesmo as boas almas não estavam prestando atenção suficiente aos seus pedidos, enquanto as pessoas más estavam, é claro, seguindo seu caminho pecaminoso. Assim, a primeira parte do reinado do Papa Pio XII (1939-1958) foi marcada pela sua devoção a Fátima, mas na década de 1950 ele foi persuadido a dividir o aspecto devocional das aparições do seu aspecto político, nomeadamente a Consagração da Rússia, e de fazer caso omisso do aspecto político, mantendo o devocional, um grande erro. Ora, vemos exatamente o mesmo erro sendo cometido por certos Superiores da Fraternidade em 2010.

Um confrade da Fraternidade Sacerdotal São Pio X escutou no ano passado (2017) sermões sobre o tema de Fátima (1917) de dois de seus membros mais antigos. Donde ele esperava um tratamento completo das aparições de Fátima, tudo o que ele ouviu foram palavras piedosas, de modo nenhum falsas, mas ambos os pregadores retrataram um mundo com boa saúde! A grandeza, a bondade e a misericórdia de Nossa Senhora foram mencionadas e, naturalmente, o Seu Imaculado Coração como um poderoso local de refúgio para nós, católicos. Mas nosso colega continua:

“Não houve uma só palavra sobre a situação catastrófica em que se encontram hoje os indivíduos, as nações e a Igreja. A Primeira Parte do Segredo de Fátima foi mencionada, mas nem a Segunda e nem a Terceira o foram. As nações não estão com todos os tipos de problemas? Não está a Madre Igreja com o Papa Francisco à frente em um conflito inimaginável? Dada esta situação, como alguém pode ousar passar em silêncio a Segunda e a Terceira Partes, nem sequer mencioná-las?

Nossos Superiores estão assumindo uma enorme responsabilidade. Eles estão embalando nossos católicos para dormir, um sono religioso – “Nós temos a verdadeira Missa, temos a Fé, temos priorados, somos membros da Igreja Católica... do que mais precisamos?” Sermões como esse impedem qualquer reação, não há engajamento nas batalhas da Mãe de Deus, nenhuma palavra de advertência contra os aparelhos eletrônicos de hoje. Eis como os católicos se tornam mornos.

“Quando as crianças de Fátima foram obrigadas a olhar para o fogo do inferno, as suas orações, esforços e sacrifícios aumentaram acentuadamente. Nós, católicos do século XXI, já não precisamos de tal visão do Inferno, tal visão da condição catastrófica da política atual e da Igreja Católica? Muitos de nossos fiéis nem percebem que algo importante está sendo ocultado deles. Quando ouvem sermões desse tipo, ficam entusiasmados, elogiam os pregadores, são felizes como podem sê-lo. Infelizmente, é muito compreensível que os homens prefiram o que é leve e agradável ao que é duro e verdadeiro”.

Kyrie Eleison.

*Traduzido por Cristoph Klug.

quarta-feira, junho 20, 2018

Comentários Eleison: Roma Prepara-se?

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DLXX (570) (16 de junho de 2018):



ROMA PREPARA-SE?


Como alguém pode fingir que a luta pela fé é inexistente?
O que mais poderia ser nossa situação presente?


No contexto da crise que envolveu a Igreja Católica no último meio século desde o Vaticano II (1962-1965), dois movimentos recentes das autoridades da Igreja em Roma podem parecer surpreendentes, porque ambos os movimentos parecem favorecer a Tradição Católica que o Papa Francisco dá tantas indicações de querer arrancar de uma vez por todas. O Lobo Mau realmente quer ser gentil com a Chapeuzinho Vermelho da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, ou esses dois outros movimentos astuciosos a prenderão em seu covil Conciliar? Estará Roma também preparando-se para o Capítulo Geral da Fraternidade em meados de julho?


O primeiro dos dois movimentos foi em meados de fevereiro deste ano, quando a Comissão Ecclesia Dei, lançada em Roma em 1988 para desacelerar a Tradição Católica, porque esta estava ameaçando acelerar, concedeu à semitradicional Fraternidade de São Pedro o uso dos ritos litúrgicos fortemente tradicionais da Semana Santa. Estes são os ritos que se utilizaram durante séculos e séculos antes da reforma da liturgia realizada pelo Cardeal Bugnini na década de 1950, que pavimentou o caminho para a Missa Nova na década de 1960. Como os ritos da Semana Santa, estes mais antigos estão se tornando cada vez mais populares entre os católicos que repudiam a Missa Nova, porque contêm tantas características contrárias a esta liturgia modernista que Paulo VI impôs por meio de enganos administrativos à Igreja Universal em 1969. Roma está finalmente afastando-se da Missa Nova?


Dificilmente. Como diz a famosa frase de Virgílio: “Seja o que for, não confio nos gregos, mesmo quando trazem presentes”. Este presente para a Tradição pode facilmente ter sido projetado por Roma para persuadir todos os tipos de Chapeuzinhos Vermelhos, especialmente os participantes do Capítulo Geral de Julho, de que o Grande Lobo Mau não é tão mau assim. O Capítulo é importante para Roma: esse bastião da Fé erigido pelo Arcebispo deve ser desmantelado, porque a verdadeira luta do Arcebispo Lefebvre pela Fé foi um obstáculo real na marcha progressiva da Nova Ordem Mundial, fora de toda proporção para o tamanho da Fraternidade. A luta foi severamente enfraquecida desde sua morte, mas Roma teme que o Capítulo a reanime. Roma quer outro liberal como Superior Geral, ou pelo menos um candidato condescendente, mas não um lutador pela fé!


O outro movimento surpreendente de Roma foi em 16 de maio, quando um conhecido jornalista do Vaticano, Andrea Tornielli, destacou um extrato de um livro recentemente publicado, escrito por um oficial romano sobre o Papa Paulo VI (1963-1978). O extrato é um relato detalhado da conversa de setembro de 1976 entre o Papa e o Arcebispo Lefebvre, tida dois meses depois da Missa celebrada pelo Arcebispo em frente a uma enorme multidão em Lisle, na França. Essa missa marcou o início do movimento tradicional, e então o Papa quis refrear o Arcebispo. A conversa que durou pouco mais de meia hora foi anotada pelos romanos naquela época, e foi descrita de maneira um pouco diferente pelo Arcebispo depois, mas os romanos guardaram o conteúdo para si mesmos nos últimos quarenta e dois anos. Por que publicá-la agora?


A resposta deve estar no “um pouco diferente”. O admirável site da Internet da América Latina, Non Possumus, publicou, um ao lado do outro, os detalhes divulgados pelos romanos e o relato do próprio Arcebispo sobre a conversa. Os leitores de Non Possumus podem comprovar por si mesmos como os romanos encobriram a cegueira de Paulo VI e sua própria vilania. Exemplo notável: Paulo VI acusou o Arcebispo de fazer seus seminaristas jurarem contra o Papa... algo absolutamente falso. O Arcebispo declarou-se disposto a jurar sobre um crucifixo que o Papa o havia acusado de tal juramento. Um porta-voz romano negou oficialmente que houvesse qualquer menção a esse juramento.


Do mesmo modo, a versão de Roma passa por cima do abismo entre o modernismo de Paulo VI e a Fé do Arcebispo, como se os capitulares não precisassem se preocupar com a enorme lacuna entre a Roma Conciliar e a Fraternidade: que eles elejam outro liberal para seu Superior, mas um candidato condescendente já será suficiente!


Kyrie eleison.

sábado, junho 16, 2018

Comentários Eleison: Preparam-se os liberais

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DLXIX (569) (09 de junho de 2018):  


PREPARAM-SE OS LIBERAIS

Capitulantes, a Igreja e a Fé vêm primeiro,
E Menzingen tem de sair perdendo!

Nem todos estão dormindo. Alguém na França está vigiando como os liberais estão-se preparando para assumirem o iminente Capítulo Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, no qual ela tem sua última chance – provavelmente a última mesmo – para defender a Fé Católica contra o Vaticano II, como o fez Dom Lefebvre. Quem quer que seja essa pessoa, ela escreveu um excelente artigo no Fidélité catholique francophone denunciando certas palavras sinistras do Secretário Geral da Fraternidade, o Pe. Christian Thouvenot, ditas em uma entrevista à revista do Distrito alemão da Fraternidade, no início deste ano. O que se segue deve muito a este artigo.

Em primeiro lugar, as palavras sinistras: “É provável que a questão do presente status de Prelazia Pessoal seja levantado no Capítulo Geral (em julho). Mas só o Superior Geral está na chefia da Fraternidade, e ele é o único responsável pelas relações entre a Tradição e a Santa Sé. Em 1988, Dom Lefebvre deixou este ponto bem claro”. Estas palavras são sinistras porque permitem que se interprete que Menzingen, o Quartel-general da Fraternidade no qual o Pe. Thouvenot trabalha, esteja preparando membros e seguidores da Fraternidade para que o Capítulo Geral seja o momento e o lugar no qual Dom Fellay legalmente tomará para si a responsabilidade de aceitar a oferta de Roma de uma Prelazia Pessoal, e, aceitando-a, mutile de uma vez por todas a habilidade da Fraternidade de defender a Fé resistindo à Missa Novus Ordo e ao Concílio Vaticano II. E estas palavras são sinistras porque são ambíguas ou falsas.

Em primeiro lugar, não é o Superior Geral sozinho o chefe da Fraternidade. Pelos Estatutos da Fraternidade estabelecidos por Dom Lefebvre, é verdade que, uma vez eleito o Superior Geral, ele tem notáveis poderes ao seu dispor, e pelo prazo de no mínimo doze anos, porque o Arcebispo queria que o Superior Geral tivesse tempo e poder para fazer algo, sem ser impedido como ele mesmo tinha sido pelos Padres do Espírito Santo. Mas o encontro do Capítulo Geral a cada seis ou doze anos está acima do Superior Geral, e ele deve seguir as políticas decididas ali. Hoje, na teoria, o Capítulo Geral de 2012 decidiu que qualquer “normalização canônica” da Fraternidade requereria uma maioria de votos do Capítulo Geral inteiro, mas, na prática, Dom Fellay já prosseguiu para “normalizar” com Roma as confissões da Fraternidade, as ordenações e os matrimônios. E hoje seu Secretário Geral fala como se o Capítulo Geral não tivesse mais nada por dizer, como se Dom Fellay sozinho pudesse “normalizar” o restante. Será que todos os quarenta futuros capitulantes de julho estão cientes do que Menzingen está dizendo? Eles concordam com isso?

Em segundo lugar, o Pe. Thouvent afirma que Dom Fellay – sozinho? – é responsável pelas relações entre a Tradição Católica e a Santa Sé. Não há dúvida de que ambos, Roma e o próprio Dom Fellay, gostariam deste quadro, pois Roma poderia garfar toda a “Tradição” de uma vez só, e Dom Fellay estenderia seu império. Mas “Tradição” é uma coleção de variadas e heterogêneas sociedades e comunidades religiosas que certamente não concordam todas em serem garfadas pela Roma Conciliar, ou lideradas por Dom Fellay. Por esta razão, Dom Lefebvre repetidamente se recusava a ser chamado chefe da Tradição Católica. Mas ambos, Dom Fellay e seu Secretário, estão jogando o jogo da Roma Conciliar.

E, em terceiro lugar, se o Arcebispo insistia, no tempo das sagrações, em 1988, que ele sozinho ainda estava no controle das relações da Fraternidade com Roma, era porque sabia que os jovens colaboradores ao seu redor não eram páreos para os astutos romanos, como vimos nós mesmos desde a sua morte em 1991. Não foi por confiança na estrutura da Fraternidade que ele dotou o Superior Geral de uma graça especial para estar à altura dos romanos conciliares. Quando os homens querem errar, não é necessariamente uma estrutura que irá salvá-los. Mas o que o Arcebispo poderia fazer? Ele teria de morrer algum dia!

Leitores, se vocês conhecem algum capitulante de julho, pergunte-o se ele sabe o que o Secretário Geral está dizendo!  

Kyrie eleison.

Traduzido por Leticia Fantin.

domingo, junho 03, 2018

Comentários Eleison: Mozart contestado

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DLXVIII (568) (02 de junho de 2018)



MOZART CONTESTADO

A natureza precisa de música: que ambas sejam, assim, apreciadas.
Paga caro quem faz com que elas sejam desprezadas.


Depois que o número 550 destes “Comentários” elogiou Mozart (27 de janeiro de 2018), um leitor escreveu em privado para dizer que tinha um problema com o famoso compositor: Mozart foi um maçom entusiasta, que na segunda metade de sua vida não compôs nenhuma obra importante para a Igreja Católica, e suas óperas tratam das relações entre homem e mulher e da moralidade de maneira muito casual. Ora, a música é tão importante na alma das pessoas que as objeções deste leitor merecem ser respondidas em público, para que as pessoas que ainda não conhecem Mozart possam ser encorajadas – mas não forçadas, obviamente – a fazer dele a música de seus momentos de lazer. Portanto, vamos destacar alguns princípios para cada uma das três objeções do leitor.

O fato de que Mozart foi um maçom levanta um princípio importantíssimo: o artista e sua arte não estão separados, mas são distintos. O que constitui a bondade moral do artista como pessoa não é o mesmo que constitui a bondade artística dos artefatos que produz (Summa Theologiae, 1a 2ae, Q57, Art. 3). Assim, Picasso era pessoalmente um canalha, mas sua arte, puramente como arte, é brilhante, enquanto incontáveis pintores vitorianos podem ter sido muito morais, mas suas pinturas são tão sombrias quanto a água de poço. Assim, a Maçonaria certamente entrou em algumas das músicas posteriores de Mozart, notavelmente a “Flauta Mágica”, mas a música está em suas próprias bases, e certamente deve sua beleza não à guerra da Maçonaria contra Deus, mas aos pais católicos de Mozart e sua educação inicial na altamente católica Áustria da Imperatriz Maria Teresa.

O fato de que, em segundo lugar, o maduro Mozart nunca completou outra obra importante para a Igreja é verdadeiro na medida em que a “Missa em Dó Menor” e o “Réquiem” estão inacabados, mas com que frequência essas duas obras são tocadas, e com que efeito religioso! Além disso, há alguma peça musical tantas vezes executada ou cantada em igrejas e capelas católicas como o seu “Ave Verum Corpus”? E se distinguimos a música implicitamente da explicitamente católica, alguém pode negar que Mozart, como Shakespeare, é um tremendo portador de valores católicos, no caso de Mozart, os valores de harmonia, ordem, beleza e alegria para incontáveis ouvintes? E não são esses grandes artistas, implicitamente, e pela herança católica, uma misericórdia de Deus para permitir que os pós-católicos desfrutem dos valores católicos sem perceberem? Se os pós-católicos se apercebessem disso, não repudiariam esses valores como os liberais que atualmente “desconstroem” Shakespeare nas chamadas “universidades” e, sem dúvida, Mozart nos “conservatórios de música”? Na verdade, os atores e músicos liberais de hoje podem chegar perto do coração de Shakespeare ou do de Mozart? O que isso diz sobre esse coração? Não liberal!

E em terceiro lugar, o fato de que algumas das óperas de Mozart sejam em parte tão despreocupadas a ponto de incorrerem no desprezo de Beethoven – “Eu nunca escreveria essas óperas tão frívolas”, disse ele – deixa de lado a parte séria das mesmas óperas. Ao lado do flerte de Zerlina estão as chamas da condenação de Don Giovanni; ao lado do Conde mulherengo está sua sincera desculpa à sua sofrida Condessa; ao lado de Seraglio está o resplendor do perdão. A vida real num mundo caído é ao mesmo tempo cômica e séria. Veja como, no início de “Don Giovanni”, Mozart combina musicalmente o duelo e a morte de um duelista com o pânico borbulhante do criado coelho de Dom Giovanni, Leporello. Mozart certamente, como Shakespeare, “via a vida com firmeza, e a via completa”, como disse Matthew Arnold de Sófocles.

No entanto, um lado de Mozart segue sendo o de um menino travesso (cf. o filme “Amadeus”), e ele é parte integrante de uma cristandade já decadente no final do século XVIII. Mas quando comparado com a decadência da música desde então, sua música não é quase angelical, sem que esteja tão distante de nossos tempos a ponto de parecer inacessível? Qualquer homem prejudica sua alma se acostumando a ouvir música que é lixo, com pouco ou nenhum valor intrínseco de melodia, harmonia ou ritmo. Ele não prejudicará sua alma se acostumar-se a ouvir Mozart, muito pelo contrário.

Kyrie eleison.

*Traduzido por Cristoph Klug