Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCII (602) (26 de janeiro de 2019)
MACABEUS? ONDE?
"Onde estarão hoje os
heroicos Macabeus?",
Gritou o Arcebispo.
Resposta: saíram para jogar.
O que significa
a reunificação da Fraternidade Sacerdotal São Pio X com Roma para a grande multidão
de habitantes do mundo, e mesmo para o grande número de seus católicos? A
resposta deve ser: muito pouco. Da mesma forma, quando os passageiros do Titanic viram uma equipe de engenheiros
descendo ao convés para investigar alguma coisa, eles podem não ter demonstrado
muito interesse, mas assim que souberam que seu grande navio estava condenado,
o interesse deles deve ter crescido bastante. A Igreja Católica atingiu o
iceberg do Vaticano II a mais de 50 anos atrás. Um grande engenheiro da Igreja
avisou o Capitão da Igreja sobre o que havia acontecido e qual seria o
resultado, e mostrou como fazer a Igreja parar de afundar. Infelizmente, o
Arcebispo Lefebvre não foi ouvido pelos capitães nem então nem desde então, e
seus sucessores desencorajados preferem hoje ouvir os capitães equivocados, que
são, se a Fraternidade já não mostra a verdadeira saída, dignos de pena.
Vamos recordar
os últimos seis anos do processo de reunificação e analisar a situação atual.
O passo
decisivo nesse processo foi o Capítulo Geral da Fraternidade de 2012, em que ela
renunciou ao princípio fundamental do Arcebispo de que sem um acordo doutrinal
entre a Fraternidade e Roma, nenhum acordo meramente prático poderia servir à
Igreja. Isto se dá porque um católico é católico em primeiro lugar por sua
virtude subjetiva de fé, submetendo sua mente e sua vontade ao credo objetivo
da Fé da Igreja. O que o erro do subjetivismo faz é transformar a Fé objetiva
em subjetiva, para que eu fique livre para acreditar no que eu quiser e,
consequentemente, comportar-me como eu quiser. Como acreditar que 2 e 2 são 4,
ou 5 ou 6 ou 6.000.000. Esta infidelidade do Vaticano II foi adotada
essencialmente pela Fraternidade em 2012, ainda que os líderes da Fraternidade
tenham imediatamente começado a assegurar a seus sacerdotes e leigos de que
nada essencial havia mudado na mesma Fraternidade. MAS:
Em 2013,
começou uma série de reuniões publicamente admitidas em Roma com as autoridades
romanas, para preparar um processo gradual de reconhecimento pleno. Este processo
foi devidamente seguido.
Em 2014, ocorreram
visitas de dignitários romanos aos seminários da FSSPX, e houve a
"concessão" temporária do Jubileu da jurisdição oficial para
Confissões da FSSPX.
Em 2015, a
"concessão" para Confissões e para extrema-unção tornou-se
permanente.
Em 2016, as Ordenações
sacerdotais na FSSPX não deveriam mais ser punidas com a suspensão "a
divinis".
Em 2017, os Matrimônios
dentro da Fraternidade se tornaram "lícitos" com a participação de um
sacerdote da Neoigreja como testemunha.
Em 2018, o
Capítulo Geral da FSSPX elegeu para seu Conselho Geral três homens que não são
tigres da Fé, e criou duas novas posições ao lado deles (Conselheiros Gerais)
para permitir que o Bispo Fellay e o Pe. Schmidberger conservassem seu poder
como os dois principais tigres da reunificação.
E em 2019? –
Roma realizou a reabsorção da Comissão
Ecclesia Dei (ED) para dentro da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF),
da qual foi retirada em 1988 para reincorporar a Roma os católicos tentados, pelas
consagrações episcopais da Fraternidade, a seguir o Arcebispo em vez de Roma.
Como tal, a ED foi concebida para ser relativamente gentil com os
tradicionalistas. Mas o Papa Francisco não está nem aí para a Tradição.
Portanto, como a Neofraternidade agora concorda com Roma que não há mais o conflito
com Roma que havia em 1988, ele pôs fim à ED. Mas a ED foi gentil com a
Tradição, enquanto os da CDF são tigres da Neoigreja. Como Chapeuzinho
Vermelho, a Neofraternidade está se lançando nas mandíbulas de Roma – "Oh,
doce Lobo Romano, para que esses dentes tão grandes?!", "É para ter
devorar melhor, sua criancinha tola!".
E a
Fraternidade? Assim como estará feliz por Roma ter dissolvido a ED porque a CFD
a tratará então como pertencente plenamente à Igreja, também arrisca a ficar
feliz se Roma vincular a ela dois Neobispos relativamente decentes para que
cuidem das Ordenações e das Confirmações, mas de fora da Fraternidade e
sempre sob o controle mesmo de Roma. Da parte de Roma, seria uma jogada
inteligente, fechando ainda mais a arapuca sobre o que resta da Fraternidade do
Arcebispo. E quantos sacerdotes da Neofraternidade sequer veriam que aqui há
"um mar de problemas", e menos ainda se poriam a "pegar em
armas, para acabar com eles"(Hamlet)?
Não muitos, pode-se temer.
Kyrie eleison