domingo, agosto 30, 2015

Comentários Eleison: Romanos implacáveis

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXXIV (424) - (29 de agosto de 2015): 


ROMANOS IMPLACÁVEIS


Leitores, cuidado, este meu conselho aceitem:              
Quando o acordo chegar, às letras miúdas atentem!  

Rumores que chegam da Fraternidade Sacerdotal São Pio X parecem confirmar a especulação destes "Comentários" da semana passada (ver CE 423 de 22 de agosto), de que Roma quer um acordo com a FSSPX. Os rumores falam de um encontro secreto ocorrido no início deste mês, no qual os líderes da FSSPX discutiram sobre finanças e um "preâmbulo doutrinal". Terá sido o mesmo preâmbulo mencionado pelo Cardeal Müller em 3 de agosto? Aquele redigido por Roma para a FSSPX assinar? O Cardeal disse que ele seria necessário para qualquer acordo, ao mesmo tempo em que Dom Schneider afirmou não ter visto nenhum problema doutrinal, já que o Vaticano II foi meramente “pastoral". Mas independentemente dos rumores, vamos recordar as bases imutáveis do problema.

Os dezesseis documentos oficiais do Concílio Vaticano II apresentam em conjunto uma nova visão de Deus, da vida e do homem, uma nova religião em sintonia com o mundo moderno centrado no homem, mas em choque com a religião católica centrada em Deus que não mudou essencialmente por mais de mil e novecentos anos. Ambas as religiões ensinam sua visão de Deus, da vida e do homem, ambas são doutrinais, mas as duas doutrinas se chocam. No entanto, por hábeis ambiguidades – a ambiguidade é a marca dos dezesseis documentos – os sacerdotes do Concílio foram persuadidos de que não havia conflito, e então, quando eles votaram a favor dos documentos, houve três razões pelas quais os católicos de todo o mundo seguiram a nova religião: o choque dela com a verdadeira Fé foi habilmente disfarçado; foi ela imposta aos católicos por quase todas as autoridades da Igreja, desde os Papas; ela era mais fácil de praticar do que a religião pré-conciliar.

Mas Deus suscitou um verdadeiro pastor, Dom Lefebvre, para insistir sobre o choque doutrinário, para enfrentar as autoridades infiéis da Igreja, e para dar continuidade à prática da religião pré-conciliar por quaisquer almas que desejassem se dar ao trabalho. E estas estavam em número suficiente para que a Fraternidade do Arcebispo já estivesse espalhada pelo mundo no momento de sua morte, em 1991. Mas seus sucessores na liderança de sua Fraternidade nasceram depois da Segunda Guerra Mundial, em um mundo bastante diferente daquele do Arcebispo, que nasceu antes da Primeira Guerra Mundial. Eles não viram o mundo ou a doutrina como ele viu, então não tiveram a mesma motivação que ele teve para seguir enfrentando as autoridades da Igreja, mesmo que ainda não estivessem querendo o relaxamento conciliar da disciplina da Igreja (querido agora por mais e mais tradicionalistas). Então, foi simplesmente uma questão de tempo até que o magnetismo de Roma exercesse sua força de atração.

Com relação aos romanos, eles estavam obstinados em sua nova religião conciliar, e assim, a partir do ano 2000, deram abertamente as boas-vindas a todas as aproximações feitas pela FSSPX, porque a doutrina e a prática do catolicismo imutável desta eram uma reprimenda às suas novidades maçônicas, e uma constante ameaça para eles, como um último agrupamento invencível do inimigo na retaguarda de uma invasão que de outra forma teria sido completamente bem sucedida. Portanto, tal como os romanos querem absorver a FSSPX em sua Neoigreja, assim os atuais líderes da FSSPX querem pôr a si mesmos novamente sob a autoridade da Igreja oficial de Roma. É um casamento realizado no Inferno, no qual doces homens da Neoigreja como Dom Schneider não veem nenhum problema porque eles não enxergam, ou não querem enxergar, o choque subjacente entre as bases das doutrinas.

Portanto, o Cardeal Müller está certo em relação a isto. Se dois homens têm diferentes visões de Deus, da vida e do homem, qualquer acordo entre eles só poderá ser relativamente superficial. Assim, se a FSSPX não pode ser levada a abandonar o dogma, ou melhor, a minar todo o dogma católico com o super dogma maçônico de que todo dogma é pieguice, então a FSSPX é obrigada a atuar dentro das muralhas de Roma como um cavalo de Troia. Eis porque o Cardeal insistirá em um preâmbulo. Se escrito por Roma ou pela FSSPX, isso não tem importância, contanto que a massa dos tradicionalistas, tal como a massa dos católicos depois do Vaticano II, se deixe enganar pelas ambiguidades doutrinais. Estas serão brilhantes.


Kyrie eleison.

segunda-feira, agosto 24, 2015

Comentários Eleison: Romanos Contraditórios?

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXXIII (423) - (22 de agosto de 2015):  

ROMANOS CONTRADITÓRIOS?


Perdeu-se a doutrina? A apostasia, então, a vitória há de conquistar.  
A doutrina deve ser preservada, custe o que custar.

Dois romanos, homens da Igreja, parecem contradizer um ao outro em observações que fizeram recentemente sobre as relações entre Roma e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, mas uma explicação para a contradição pode ser a de que Roma está fazendo com a Fraternidade uma velha prática policial. Pela tática do “policial bom, policial mau”, quando a polícia quer obter uma confissão de um criminoso, primeiro é a este enviado um policial bruto para maltratá-lo até que esteja em uma condição bastante lamentável, necessitando de todos os tipos de simpatia. Então um policial realmente agradável é-lhe enviado, exalando uma simpatia que frequentemente faz com que finalmente se abra e confesse seu crime.

O “policial mau” neste caso é ninguém menos que o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o Cardeal Müller, que no início deste mês, em uma entrevista para o katholisch.de, website oficial da Conferência Alemã de Bispos, disse, sobre o acordo Roma-FSSPX, que Não há nenhum avanço substancial. O Santo Padre deseja que nós continuemos tentando: “com tenacidade e paciência”. A pré-condição para uma reconciliação completa está na assinatura de um preâmbulo doutrinal que garanta um acordo integral nas questões essenciais da Fé. Nos meses anteriores, ocorreram encontros de diferentes tipos, realizados para fortalecer a confiança mútua.

Aqui é claramente afirmado que a FSSPX terá de assinar um texto doutrinal agradável para a Roma neomodernista, caso deseje um acordo com Roma. O Cardeal também está sendo o “policial mau” quando revela que ocorreram “encontros de tipos diferentes” entre os romanos e a FSSPX para fortalecer a confiança mútua. Ou estaria a FSSPX feliz por Roma estar expondo à luz do dia os contatos que de outra forma permaneceriam desconhecidos?  Mais ainda, será que quem quer que tenha a fé católica estará novamente tranquilizado diante de um acordo mútuo sendo estabelecido com os neomodernistas?  Mas agora vem o “policial bom”.

Anteriormente, neste mesmo ano, o Bispo Athanasius Schneider visitou dois seminários da FSSPX a fim de discutir sobre um tópico teológico específico com um grupo de teólogos da Fraternidade e com Sua Excelência o Bispo Fellay. Recentemente ele deu uma entrevista para um site hispânico, Rorate Caeli em espanhol, na qual, entre outras coisas, ele comentou sobre essas visitas favoravelmente. Disse que foi tratado com respeito cordial, e que observou em volta um respeito pelo Pontífice reinante, o Papa Francisco. Depois de suas visitas ele não conseguiu ver nenhuma razão para negar ao clero e aos fieis da FSSPX o reconhecimento canônico oficial, e por isso devem ser aceitos tais como são. Dom Schneider confirmou que não vê problema doutrinal, no caminho de um acordo, que venha a minimizar a importância do Vaticano II; disse que o Concílio foi primeiramente pastoral, e para o seu tempo.

Então, quem realmente representa Roma? O Cardeal Müller ou o Bispo Schneider? Certamente ambos. Se a tática romana do "policial bom, policial mau" não for consciente, é sem dúvida instintiva. Roma, ao manter suas opções abertas, pode continuar a jogar com a FSSPX tal como um pescador joga com um peixe, enrolando a linha e então soltando-a um pouco, dando esperanças e em seguida golpeando-as, inclinando a vara e a endireitando novamente, e novamente, até finalmente cansá-lo e fisgá-lo. Infelizmente, alguém pode suspeitar pelos “encontros” que os líderes da FSSPX sejam cúmplices deste jogo de Roma.


Kyrie eleison.

segunda-feira, agosto 17, 2015

Comentários Eleison: Alquimia dos Artistas

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXXII (422) - (15 de agosto de 2015):  

ALQUIMIA DOS ARTISTAS


Pensar que dois e dois são quatro, 
E não cinco nem três,
O coração do homem tem sido há muito tempo ferido,
E por muito tempo permanecerá assim. 
(A.E. Housman, 1859-1936.)

Uma leitora destes “Comentários” repassou-me em maio um vídeo na Internet (encontrado aqui), que disse estar na época circulando amplamente pelo Facebook e exercendo "uma grande influência sobre as pessoas”. O vídeo mostra um bem conhecido artista negro americano, Will Smith, sendo entrevistado sobre "Progressive Thought Patterns [Padrões Progressivos de Pensamento]", que é um pomposo título para um divertido monte de bobagens. Mas então, quem nunca recorreu ao Facebook ou aos ídolos do entretenimento para ouvir coisas que façam sentido? É interessante para os católicos ver como exatamente o mesmo absurdo kantiano que tem devastado a Igreja (ver a Pascendi como a chave do Vaticano II) tomando também as ruas, espalhando-se entre as pessoas comuns que não têm o mínimo conhecimento de Kant ou da Pascendi. Eis o que Will Smith disse ao entrevistador (com uns poucos comentários inseridos em itálico):

"Eu não quero ser um ídolo (o que ele certamente é, por ter sido altamente bem sucedido em Hollywood), eu quero ser uma ideia, entende? Eu quero representar uma ideia. Eu quero representar possibilidades. Quero representar magia. É isso. Você está em um universo, em que dois e dois são quatro. Mas dois mais dois é igual a quatro apenas se você aceita que dois mais dois seja igual a quatro. Dois mais dois será o que eu quiser que seja, entende? E há um poder redentor (observe essa palavra – então, o que seria Redenção?) ao se fazer uma escolha, entende? Como quando você sente que você é um efeito (talvez ele tenha querido dizer "causa") de todas as coisas que estão acontecendo. Faça uma escolha, como decidir o que você será, quem você será, como você fará isto. Apenas decida, e então desde esse instante o universo se moverá do seu jeito. É como a água, ela quer-se mover, circular, e outras coisas, entende? Então, em relação a mim, eu quero representar possibilidades. Quero representar a ideia de que você pode realmente fazer o que você quiser.

“Um de meus livros favoritos é O Alquimista de Paulo Coelho, e eu realmente acredito nisso. Eu acredito que posso criar qualquer coisa que eu quiser criar. Se eu puder pôr minha cabeça nisso, estudar e aprender os padrões (...), eu sinto muito fortemente que nós somos aquilo que nós escolhemos ser. Eu me considero um alquimista. Um alquimista é basicamente um químico místico, certo? E uma das grandes coisas que um alquimista costuma fazer é pegar chumbo, pegar um pedaço de chumbo, e fazer o chumbo transformar-se em ouro. Então eu a conecto (minha ideia, presumivelmente) simbolicamente à capacidade de transformar chumbo em ouro. Minha avó costumava dizer: 'A vida dá a você um limão, então vai em frente e faz uma limonada’ (eis aqui o bom e velho senso comum de duas gerações atrás. Não para Will Smith). Para mim isso é alquimia. Esse é o mesmo conceito por trás d’O Alquimista”.

O que está logo acima reproduz as próprias palavras de Will Smith, não para zombarmos dele, mas para mostrar Kant agindo nas pessoas comuns, que estão longe de ser leitoras de Kant. Notem que Will Smith não é completamente desprovido de senso comum. Se a palavra “alquimia” realmente significa fazer limonada com limões, então ela respeita a realidade. Mas se a palavra se aplica a fazer ouro a partir de chumbo, como também é o caso, então está sendo empregada para um sonho, que tem sido sonhado ao longo dos séculos e representa um escape da realidade, ou pior, a recusa da realidade natural, e mesmo o recurso ao auxílio de demônios para fazer-se uma distorção preternatural dela.

Pois bem, Will Smith é um artista, e seu vídeo é bastante divertido, então nada ali nos obriga a levar a sério qualquer coisa que ele diga. Mas justo recentemente um matemático profissional no auge de sua profissão falou-me do desprezo pela realidade objetiva que observa entre seus colegas. O verdadeiro problema vai muito além de um mero entretenimento.
                                                                                                                            

Kyrie eleison.

sábado, agosto 08, 2015

Comentários Eleison: Comida, Água

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXXI (421) - (8 de agosto de 2015):  

COMIDA, ÁGUA


Sem Deus o homem não vive bem, vive mal.
Sua “civilização” logo colapsará de um modo infernal.

Não me agrada ser um profeta da desgraça, mas o que me escreveu um aposentado do governo dos EUA, com muitos prêmios nacionais por seus serviços, sobre o que ele vê aproximar-se, deve ser dito, pois eu tenho certeza de que é verdade.

            “O Ocidente está caminhando rapidamente para a destruição, já que continua a abandonar Deus e Sua Santa Igreja Apostólica. Minha família e eu vivemos na desolação do Novus Ordo. Assistimos à Missa em uma capela da FSSPX, mas estamos orando e vigiando, porque a FSSPX parece ter aceitado a sua absorção e destruição pelos modernistas. A solução para o problema é a Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Nossa Senhora. Mas neste momento o Papa não tem interesse em fazê-la, nem a Cúria. Nosso Senhor informou-nos que a Consagração será feita, mas tarde. Eu creio que acontecerá logo após o início do Castigo, que será diferente de tudo o que se pode imaginar. 

“Eu mantenho-me informado sobre as notícias referentes à economia mundial, ou, devo dizer, sobre o esquema Ponzi dos bancos centrais. É algo que não pode continuar para sempre. A dívida não é nem dinheiro nem moeda nem riqueza, é escravidão; um laço que será colocado em volta do pescoço das pessoas comuns para o controlo de seus trabalhos e de suas riquezas. Acredito que um colapso econômico ocorrerá dentro de um par de anos. Ele será como a tulipamania em 1637 na Holanda, quando as pessoas perceberam que os bulbos das tulipas realmente eram apenas o que eram: bulbo, e não ouro. Cada potência mundial está imprimindo tanto papel moeda sem correspondência na produção de bens quanto pode, e está mentindo sobre suas cifras econômicas. Todas as economias colapsarão como uma avalanche, e serão aniquiladas.

“Como o homem moderno tem-se tornado uma criatura de extremo conforto e extrema ingratidão, só se pode imaginar como as pessoas reagirão quando não tiverem mais à disposição coisas gratuitas, Internet, televisão, telefones celulares, ou vales-refeição. Será o caos. Os poderosos estão condicionando as pessoas para este momento, inclusive criando bodes expiatórios. Isso foi feito muitas vezes antes para justificar as decisões más e destrutivas da elite criminosa, e dar cobertura aos que verdadeiramente causaram o problema, nomeadamente aqueles expostos pelo Padre Denis Fahey.

“O Governo dos EUA espera uma impressionante perda de vidas como resultado do colapso, e mesmo assim não faz nada. O mal será desencadeado quando as pessoas perceberem a incrível amplitude e profundidade da crise, e transformarem suas cidades em zonas de violência e depravação indescritíveis. A população sem Deus e sem moral estará empenhada somente na sobrevivência. Em um instante o mundo moderno será parado de surpresa. O homem encarará a dura realidade de sua fraqueza, de sua total falta de controlo, de sua verdadeira dependência de Deus.

“Excelência, as pessoas chegaram a um ponto em que sabem fazer de tudo com um telefone celular, mas são incapazes de cultivar uma batata, de bater um prego, de realizar um serviço rudimentar de encanamento. Quando o esquema Ponzi colapsar, apenas os ofícios práticos e o verdadeiro sacerdócio terão algum valor; carpintaria, serviço de encanamento, eletricidade, gestão de água, gestão de resíduos, mecânica, agricultura, criação de animais (exceto fazendas industriais), e isso é tudo. Os jovens católicos devem ser estimulados a entrar nesses ramos, e então criar um novo sistema de parceria.  As universidades corruptas de hoje, atualmente sustentadas pela dívida do mercado, serão claramente inúteis. A verdade, mais do que nunca, é agora necessária. Os católicos tradicionais devem ser instruídos a abraçar as práticas tradicionais, as funções tradicionais, e os estilos de vida tradicionais. Sem dúvida devemos abandonar o catolicismo exclusivo de Missa dominical ao estilo Bing Crosby, mas devemos também abraçar o trabalho diário necessário para restaurar, em nossas vidas diárias, Cristo como nosso Rei e a Santíssima Virgem Maria como Nossa Rainha. Os fiéis devem ser aconselhados a se preparar para a segurança de suas famílias e de outros necessitados, o que envolve a estocagem de alimentos e de água, já que a maioria dos supermercados contém apenas um suprimento de produtos para a população local para 36 horas."


Kyrie eleison.

sábado, agosto 01, 2015

Comentários Eleison: Autoridade Vacilante

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXX (420) - (1 de agosto de 2015):  


AUTORIDADE VACILANTE


Fere o Pastor, todas as ovelhas estão dispersas.
A autoridade está de cabeça para baixo, às avessas.

Frequentemente algumas boas almas desejam que eu, como um jogador de beisebol, “vá em direção à base para rebater a bola", e assuma uma posição de autoridade à frente do atual movimento da Resistência. Permitam-me propor, sem impor, as razões da minha séria relutância em tentar qualquer coisa do tipo.

A autoridade na Igreja tem sido "alvejada" de cima até em baixo. O atual Papa (não sou sedevacantista) perdeu seu juízo católico, se é que alguma vez teve um. Mas mesmo se a sua eleição como Papa foi inválida por um ou outro motivo, foi convalidada por sua aceitação universal como Papa pela Igreja de praticamente todo o mundo. Em todo caso, ninguém mais é Papa, nem pode sê-lo, e, portanto, ele tem a suprema autoridade na Igreja. Pois bem, a Igreja foi designada por Nosso Senhor como uma monarquia, com toda a autoridade descendendo nela desde Deus e através do Papa. Pois, por definição, a autoridade só pode provir de cima. Como disse Jefferson na Declaração da Independência dos Estados Unidos, a autoridade concedida desde baixo sempre pode ser abolida de baixo mesmo. A autoridade desde baixo é sem dúvida uma contradição em termos. Não é verdadeira autoridade, absolutamente.

Portanto, a menos que esse Papa desse a mim autoridade para liderar a “Resistência”, o que é obviamente inconcebível, eu nunca terei a autoridade católica oficial para estar à frente dos resistentes.  Posso eu ter autoridade de suplência devido à emergência?  Teoricamente sim, mas a autoridade de suplência é relativamente fraca. É suprida desde cima (pela Igreja) quando, por exemplo, um penitente pede a um sacerdote em circunstâncias incomuns que ouça sua confissão, ou seja, quando normalmente o sacerdote não teria jurisdição para fazê-lo. A autoridade de suplência vem da Igreja, desde cima, mas é acionada apenas pela demanda desde baixo. Se não há demanda, não há autoridade de suplência.

Tomemos o caso mesmo de Dom Lefebvre. Em primeiro lugar, era muito importante para ele que os estatutos da FSSPX original fossem oficialmente aprovados pelo bispo diocesano de Genebra, Lausana e Friburgo.  Em segundo lugar, se, por exemplo, um sacerdote da FSSPX quisesse sair dela e ir para a direita ou para a esquerda, o Arcebispo não tinha poder para impedi-lo ou castigá-lo, e só lhe restava não ter mais nada que ver com ele. E se esse sacerdote fosse em direção à Igreja Novus Ordo, ele seria a qualquer tempo recebido, como se pode imaginar, de braços abertos. A FSSPX sob Dom Fellay tem querido mais e mais ser normal, e tem fingido ser normal, mas na verdade é uma estrutura fraca, na medida em que nunca teve qualquer jurisdição mais que a de suplência (esta é uma razão pela qual Dom Fellay tanto quer ser reintegrado à Igreja oficial).

Agora, isso foi para o Arcebispo!  E eu não sou Dom Lefebvre. Portanto, algumas boas almas podem vir a mim pedir por orientação, como fazem, mas não está em minhas mãos reivindicar uma jurisdição de suplência, por causa da enorme confusão que reina na Igreja. No momento, eu estou mais e mais inclinado a não impor nem mesmo um juízo verdadeiro a quem quer que seja, porque as almas estão tão confusas agora, que a mínima imposição estaria sujeita a aumentar, ao invés de diminuir, essa confusão. "FERE O PASTOR, E SERÃO DISPERSAS AS OVELHAS” (Zacarias 13, 7) foi citado por Nosso Senhor no Horto do Getsêmani (Mt 26,31), e isso continuará a acontecer na Igreja, mais e mais, até que Deus, por Sua misericórdia, restaure o Pastor – o que Ele fará somente quando a humanidade reaprender a valorizar um verdadeiro Pastor de Deus. Até lá, o dom de Deus de um tal Pastor arriscaria fazer mais mal do que bem. Assim, devemos todos, nesse ínterim, aceitar a nossa justa punição: a confusão universal!

É por isso que eu darei, a qualquer um que me pedir, as minhas razões para agir como estou agindo, mas preferencialmente proporei essas razões em vez de impô-las, e normalmente não objetarei as pessoas que discordam de mim.

Kyrie eleison.