Comentários
Eleison – por Dom Williamson
Número
DCLXXXV (685) – (29
de agosto de 2020)
VIGANÒ DILUÍDO?
Os pastores recebem de Deus a liberdade para cometerem erros?
As ovelhas ainda terão o senso católico para que sigam
perseverando.
Em uma série de declarações públicas recentes, especialmente na
de 9 de junho, o Arcebispo italiano Carlo Viganò, que ainda hoje é
membro da hierarquia oficial da Igreja, destacou-se de seus colegas
nessa hierarquia por assumir uma postura severa em relação ao
Vaticano II. Agora apareceu um teólogo italiano, o Pe. Alfredo
Morselli, tentando moderar a severidade do Arcebispo Viganò, não
exatamente defendendo o Concílio, mas argumentando, por exemplo, que
este não é o único responsável pela crise que se abateu sobre a
Igreja nos anos que se lhe seguiram. Vejamos a sua “Tese sobre o
Concílio” que foi publicada em nove pontos principais e oito
subpontos, aqui abreviados:
1 A crise atual é de uma gravidade sem precedente, essencialmente
neomodernista, mas muito mais grave do que a crise modernista
original do início do século XX.
2 No entanto, o Vaticano II não é simplesmente a causa da crise
atual, porque:
2.1 A crise começou muito antes de 1960.
2.2 Seu neomodernismo nunca teria criado raízes sem a profunda
corrupção do homem moderno.
2.3 E, da mesma forma, o pontificado do Papa Francisco foi preparado
muito antes do século XXI.
3 Devemos distinguir entre o Concílio em si e o pós-Concílio, ou o
que se lhe seguiu:
3.1 Não se pode responsabilizar o Concílio por todos os erros que
se lhe atribuem, mesmo que tenham sido cometidos em seu nome.
3.2 O Espírito Santo estava no Concílio, de modo que não se pode
dizer que não houve nada de bom neste.
4 Os textos conciliares incluem fórmulas ambíguas, das quais os
neomodernistas tiram proveito.
5 Quase todos esses problemas foram resolvidos subsequentemente por
Declarações oficiais da Igreja.
6 Os problemas vêm
menos dos erros do
que do desejo de ser
inclusivo em vez de exclusivo.
7 Um exemplo trágico desse desejo é a recusa do Concílio em
condenar o comunismo.
8 Chamar o Concílio “pastoral” não significa que não haja nada
de dogmático em seus pronunciamentos.
9 Só se pode criticar o Concílio de acordo com o ensinamento da
Igreja sobre a fé. Consequentemente:
9.1 Fé significa crer em Deus, ou seja, aceitar, e não escolher, em
quais verdades se deverá crer.
9.2 O Magistério da Igreja Católica é quem primeiramente decide
quais são essas verdades nas quais se deve crer.
9.3 Esse Magistério não está aberto à interpretação privada.
Somente ele pode interpretar suas próprias decisões.
E agora um breve comentário sobre cada uma dessas posições do Pe.
Morselli:
1 Este ponto introdutório mostra até que ponto o Pe. Morselli está
de acordo com o Arcebispo Viganò. Bravo!
2 Quem poria a culpa de uma explosão exclusivamente no detonador?
Claro que deve haver explosivos.
2.1 De fato, o Vaticano II teve uma longa ascendência, notadamente a
"Reforma" protestante e a Revolução de 1789.
2.2 Absolutamente certo. A profunda corrupção do homem moderno
formou-se ao longo dos séculos.
2.3 Isso também é verdade. Cinco
Papas
neomodernistas prepararam o sexto com
seus falsos princípios,
mas
este os superou
com sua ousadia de
colocá-los em prática.
3 Cuidado! Quem destrava a porta do estábulo não tem culpa pela
fuga do cavalo?
3.1 “Eu nunca quis que o cavalo fugisse. Eu só queria que ele
fosse livre para galopar ao sol!”.
3.2 O Espírito Santo impediu que o Concílio fosse ainda pior, mas
não privou os Bispos de seu livre-arbítrio.
4 As ambiguidades mortais foram plantadas pelos
neomodernistas, mas
aprovadas pelos “católicos”.
5 Estes “esclarecimentos” em que o Pe. Morselli acredita
normalmente não esclarecem, senão que mantêm o problema.
6 Infelizmente, foi o mesmo desejo de ser
inclusivo que fez com que as portas, outrora firmemente fechadas,
se abrissem novamente ao erro.
7 Disse o Arcebispo Lefebvre que a recusa em condenar o comunismo
estigmatizaria para sempre este Concílio.
8 Ambiguidade terrível: o Concílio “pastoral” não era
dogmático, mas tinha de ser seguido como dogma!
9 “O veneno está na cauda” – no final, o Pe. Morselli recorre
ao argumento da Autoridade!
9.1 É claro que devemos crer no que realmente vem de Deus, e não
escolhermos nós mesmos no que acreditar.
9.2 E, claro, se Deus exige que se creia, tal como o faz, isto só é
possível se Ele nos assegura um Magistério infalível para decidir.
9.3 Mas esse Magistério é constituído por oficiais da Igreja
falíveis e com livre-arbítrio, que Deus não lhes tirará, e se,
excepcionalmente, eles falharem em seu dever, Ele espera que as
ovelhas os julguem pelos seus frutos.
Em suma, a severidade do Arcebispo Viganò, julgando o Vaticano II
por seus frutos, sobrepõe-se à Autoridade do Pe. Morselli.
Kyrie eleison.