terça-feira, janeiro 28, 2020

Comentários Eleison: "...Em Tentação..."?

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCLIV (654) - (25 de janeiro de 2020)



“... EM TENTAÇÃO ...”?


Deus, testai-me, castigai-me ou humilhai-me,
Mas que cair em pecado não seja meu destino.

Um leitor fez uma pergunta clássica sobre o Pai Nosso, onde diz: "E não nos deixes cair em tentação", que em latim é “Et ne nos inducas in tentationem”. A tentação frequentemente leva ao pecado, que é certamente um mal. Como pode o Deus infinitamente bom induzir-nos a um mal? No entanto, se rezamos para Ele pedindo para que não nos induza ao mal, é lógico que Ele pode fazê-lo. Mas como é possível? Pois “E não nos induzas à tentação” é a tradução literal do texto em latim e do texto original em grego – “μη εισενεγκης ημ ας εις πειρασμον” –, e a Igreja ensina que o texto original em grego foi inspirado pelo próprio Deus. Como o próprio Deus pode declarar que pode induzir-nos à tentação? É necessário, assim, que se estabeleçam quatro verdades.

1 Em primeiro lugar, Deus pode querer um mal físico, como, por exemplo, uma doença, para castigar os seres humanos moralmente maus, mas é absolutamente impossível que Deus queira um mal moral, porque isso é pecado, e não é possível que Deus peque, porque Ele é a própria Bondade, porque Ele é o próprio Ser. Pois, se algo existe, então tem de existir uma Primeira Causa, e essa Primeira Causa não pode ter limites finitos estabelecidos para o seu Ser por nenhuma causa anterior ao Seu Primeiro Ser, sendo, portanto, um Ser Infinito. Ora, onde há ser, há bondade, e vice-versa; de fato, os dois são intercambiáveis ​​– o mal é sempre a falta, em um ser, de algo devido a ele; por exemplo, a cegueira não é um mal em uma pedra, mas é um mal em um animal que normalmente tem visão. Portanto, o Ser Infinito é infinitamente bom, ou a Bondade Infinita, incapaz de querer ou de causar diretamente o mal moral. Poucas coisas são mais absolutamente certas do que isso.

2 No entanto, Deus pode permitir o mal moral, porque Ele pode tirar, e sempre tira, dele um bem maior. Nós, seres humanos, não podemos de forma nenhuma ver sempre em que consiste esse bem maior, mas no Juízo Geral, no mais tardar, todos nós veremos claramente a Sabedoria suprema de cada mal moral que Ele permitiu. Eis uma comparação útil: na parte de baixo de um tapete tecido, eu posso apenas adivinhar a beleza do padrão na parte de cima do tapete. Mas essa beleza existe, e sem ela eu não estaria vendo na parte de baixo, o que me permite pelo menos adivinhar a beleza que não é visível dessa mesma parte de baixo.

3 Objeção: mas Deus ainda está agindo para permitir o mal moral, e. g., a tentação de pecar. Por exemplo, em vários versículos de Êxodo VII-XIII, as Escrituras dizem que Deus "endureceu o coração do Faraó", para que ele pecasse contra os israelitas. Solução: não, pois sempre que Deus permite um mal moral, Ele não está cometendo nenhum ato positivo, mas simplesmente se abstendo de conceder a graça ou ajuda com a qual o pecador não teria pecado. Mas ao optar por permitir que o Faraó pecasse, ele estava positivamente induzindo o Faraó à tentação e ao pecado. Não, porque as Escrituras dizem: “Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças, antes, fará que tireis ainda vantagens da mesma tentação, para a poderdes suportar” (I Cor. X, 13). Portanto, os pecadores sob a tentação recebem de Deus toda a graça de que precisam para não pecar, desde que eles mesmos queiram não pecar. Se caem na tentação, a culpa é deles mesmos.

4 Mas sempre que os pecadores caem na tentação, Deus previu que eles o fariam. Por que, então, Ele os induziu a ela, permitindo-a e abstendo-se de dar a graça necessária para que não caíssem nela? Negativamente, porque se os pecadores caem na tentação, a culpa é somente deles mesmos. Positivamente, Santo Inácio, em seus Exercícios Espirituais (n. 322), apresenta três razões positivas pelas quais Deus pode permitir a desolação espiritual de uma alma, e as mesmas razões se aplicam à tentação espiritual: Deus pode fazer bom uso da tentação moral para castigar-nos ou para provar-nos, ou para ensinar-nos. Ele pode castigar-nos com a tentação seguinte pelo último pecado que cometemos. Então, ao pôr-nos à prova por uma tentação, Ele possibilita que obtenhamos grandes méritos, desde que resistamos e não caiamos. Padre Pio disse: “Se as almas soubessem o quanto podem merecer resistindo às tentações, pediriam positivamente para serem tentadas”. E, finalmente, Deus pode ensinar-nos o quão verdadeiramente dependentes somos de Sua ajuda por uma tentação que nos mostra quão humildes e fracos somos sem a Sua ajuda.

Concluindo, há tanto bem para nós, pecadores, que Deus pode tirar ao permitir que sejamos tentados, que nem sequer somos obrigados a pedir para não sermos tentados, mas antes devemos pedir pela graça de não cairmos quando estamos sendo tentados. Senhor, que o fogo me aqueça, mas nunca me queime. Que pela tentação eu tenha méritos, mas não caia jamais.

Kyrie eleison.

domingo, janeiro 19, 2020

Comentários Eleison: Professor Drexel - III

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCLIII (653) - (18 de janeiro de 2020)




PROFESSOR DREXEL – III


“Mas, até lá, esteja tranquila, alma minha. As ações más revelar-se-ão,
Ainda que o mundo inteiro tente ocultá-las, aos olhos humanos” (Hamlet, I, 2).

Na terceira e última parte destes “Comentários” do admirável livro do Professor Drexel escrito na década de 1970, na Áustria, “Faith is greater than obedience [A fé é maior que a obediência]”, temos o direito de pensar que é Nosso Senhor quem fala, porque em si mesma a mensagem é inteiramente ortodoxa, e no contexto da confusão na Igreja que se seguiu ao Vaticano II (1962–1965), é um claro sinal de que a Igreja oficial estava indo pelo caminho errado no século XX, tal como ainda o faz. Para os clérigos católicos, a mensagem é uma clara advertência: se eles insistem em seguir a nova direção dos homens para o abandono da verdadeira religião de Deus, encaram uma condenação assustadora no inferno quando morrem. Para os leigos católicos, o livro é um incentivo igualmente claro: se com fé e coragem permanecem fiéis à verdadeira Igreja, sua recompensa será grande no céu. Tanto para os clérigos como para os leigos, a mensagem continua completamente atual em 2020.

MAIO DE 1974.

Não te deixes abater por causa da confusão e das heresias de sacerdotes infiéis e apóstatas, cujo corpo e prazer sensual contam mais do que o amor de Minha Igreja e das almas imortais. Que todos os verdadeiros, autênticos crentes saibam que os inimigos interiores e exteriores da Igreja perecerão – para sempre –, a menos que retornem com arrependimento interior à única doutrina da Igreja.

Digo-te: surgirão sacerdotes, que estão agora sendo treinados, escondidos em silêncio para o futuro e para o tempo – que logo virá –, os quais, com espírito apostólico, seguindo os passos dos santos, por essa ordem divina e por essa unidade da Minha Igreja Católica que desejo, avançarão com uma santa reverência pelo mistério e pelo milagre da Santa Eucaristia. (Esta é certamente uma profecia referente aos jovens sacerdotes da Tradição que começariam a sair de Écône em pequenos, mas significativos números, em 1976.)

JULHO DE 1975.

Minha igreja vive em meio à apostasia e à destruição. Ela vive entre inúmeras pessoas fiéis e leais. Na história de Minha Igreja, sempre houve tempos de decadência, deserção e devastação, por causa de maus sacerdotes e pastores tíbios. Mas o espírito de Deus é mais forte, e sobre as ruínas e o cemitério da infidelidade e da traição, levantou a Igreja e a fez florescer novamente, só que menor que antes. O trabalho do meu servo Marcel em Écône não está prestes a perecer! (O “Marcel” aqui mencionado é, obviamente, o Arcebispo Lefebvre, que fundou em 1970 o seminário tradicional de Écône.)

MARÇO DE 1976.

Meu fiel filho Marcel, que está sofrendo tanto por causa da Fé, está no bom caminho. Ele é como uma luz e um pilar da verdade, que muitos dos Meus sacerdotes ordenados estão traindo. A Fé é maior que a obediência. Portanto, é Minha vontade que o trabalho para a educação teológica dos sacerdotes continue, no espírito e de acordo com a vontade de Meu filho Marcel, de modo a contribuir poderosamente para o resgate de Minha única e verdadeira Igreja. (Quem tem ouvidos para ouvir, eis aqui o mais claro respaldo da Tradição Católica.)

DEZEMBRO DE 1976.

Aqueles que se preparam para o sacerdócio e entram nos seminários sob os Bispos diocesanos, entram sem ter uma fé íntegra e profunda na Transubstanciação; e não poucos candidatos ao sacerdócio flertam com a ideia de algum dia casar-se. Portanto, não está longe o tempo em que as pessoas estarão sem sacerdotes em muitos lugares.

No entanto, aqueles sacerdotes que veem no sacrifício sacramental da Missa o mais verdadeiro e santo dos sacrifícios, e que celebram com santa reverência o mistério de Meu Corpo e Sangue, assim como meu digno servo Marcel, são perseguidos, desprezados e banidos.

Kyrie eleison.

segunda-feira, janeiro 13, 2020

Comentários Eleison: Professor Drexel - II

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCLII (652) - (11 de janeiro de 2020)




 PROFESSOR DREXEL – II


Quanto mais aguda for a dor, a angústia aqui na terra,
Mais doce será a incomparável recompensa no Céu!

Tal como acontece com muitas supostas mensagens do Céu, se alguém dissesse que a essência das mensagens dadas ao professor Drexel de 1970 a 1977 já está no Evangelho, a saber: “Bem-aventurado sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem... porque é grande a vossa recompensa nos Céus” (Mt. V, 11–12), teria toda a razão. Mas se prosseguisse, dizendo que suas mensagens não são necessárias porque já estão no Evangelho, estaria bastante equivocado. Nos anos de 1970, começou a tortura moral de muitos bons católicos desgarrados, promovida pelos sacerdotes do Vaticano II, entre sua fé católica e sua obediência católica. Foi necessário que Nosso Senhor dissesse a almas como o Prof. Drexler, reiteradamente, que aqueles que traíam eram Seus próprios sacerdotes.

De fato, os católicos que durante 400 anos foram salvos por sua obediência ao fiel Concílio de Trento (1545-1563), não podiam, para começar, compreender que não se podia mais prestar a mesma obediência ao infiel Concílio Vaticano II (1962-1965). Para o ano de 2020, a fidelidade do Arcebispo Lefebvre à fé pré-conciliar imutável e à Missa ​​teve tempo de levantar a tradição em toda a Igreja (embora ainda haja um longo caminho por percorrer), mas em 1970 era simplesmente inconcebível, exceto para umas poucas almas, que o Papa católico, os Bispos e os padres poderiam estar demolindo a Igreja. Daí a necessidade de mensagens como esta do dia 3 de julho de 1970 de Nosso Senhor (como bem se pode crer) ao Professor Drexel:

Tenham bom ânimo e não se deixem desencorajar pelos distúrbios e tentativas de demolição de Minha Igreja, nem pela subversão da ordem do mundo. É verdade que Satanás e seus poderes demoníacos estão em ação como nunca antes na história da humanidade e da Igreja. Mas, através da influência de Deus e da ação do Espírito Santo, não se está criando uma Obra que, mais do que qualquer outra obra, exige a ajuda dos anjos, das potências sobrenaturais e dos bons espíritos? Esta obra é de origem divina!

Que todos os fiéis de Minha Igreja caminhem em paz e com firmeza para o futuro.

Satanás enfurecer-se-á, e seus melhores ajudantes são os sacerdotes que se afastaram, interior e exteriormente, de sua fé e de sua consagração. Maria Imaculada, nunca tocada pelo pecado, será vitoriosa. Embora Meu rebanho que Me segue e segue a Minha cruz, e que é fiel e crê com amor na santa presença de Meu Corpo e Sangue, possa reduzir-se, no entanto, a fé e a oração, a profissão de fé e a esperança e o amor à verdade triunfarão no final. As tempestades podem vir com mais fúria. Na natureza, elas podem quebrar rochas e estourar represas. Mas Deus é todo-poderoso, a verdade é mais forte, a graça é mais rica e mais abundante, e, portanto, a Rocha que fundei durará até o fim!

Na mesma linha estão as palavras da mensagem de 5 de março de 1971 ao professor Drexel:

Não se desencorajem com a atual opressão interna e externa de Minha Igreja. É desde dentro que os servos de Deus se tornaram infiéis à sua vocação e à sua graça [...] Estes são os sacerdotes e teólogos, como se chamam a si mesmos, que me abandonaram e me traíram, e que ainda me perseguem. O número deles aumenta [...] Desde que caminhei visivelmente entre os homens, nunca os problemas da Minha única e verdadeira Igreja foram tão grandes como neste momento – e a angústia segue crescendo.

No entanto, não se desesperem. Mesmo que o rebanho do qual falei como Divino e Bom Pastor se torne muito pequeno, a Igreja que fundei sobre Pedro e que comparei a uma rocha não será destruída nem por fora nem por dentro. Mas tu e todas as almas que te foram confiadas pelo Pai deveis continuar trabalhando pela Igreja, pela fé e pelas almas. As pessoas que te ajudarem colherão bênçãos por suas boas obras, e essa bênção não pode ser comparada a nada neste mundo.

Kyrie eleison.

quarta-feira, janeiro 08, 2020

Comentários Eleison: Professor Drexel - I

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCLI (651) - (4 de janeiro de 2020)




PROFESSOR DREXEL - I


Benditas as almas que perseveram na tribulação,
Especialmente quando as provas são mais severas.

Enquanto a crise da Igreja e do mundo continua incessantemente de um ano para o outro, mais um início de Ano Novo pode ser um momento de retornar às mensagens de Nosso Senhor de princípios dos anos 70, quando inúmeros bons católicos começavam a sofrer seriamente com a confusão e a angústia que se seguiram à imposição sobre eles da nova religião do Concílio Vaticano II, que terminou em 1965. Uma dessas vítimas do Vaticano II foi o Pe. Albert Drexel (1889–1977), um prestigioso professor de filologia de Vorarlberg, na Áustria, mas também um sacerdote católico devoto, a quem Nosso Senhor passou a aparecer, a partir de 1922, com uma mensagem em todas as primeiras sextas-feiras do mês, para guiar sua devoção.
Contudo, somente a partir de 1970 as mensagens foram escritas, para serem reunidas até sua morte, depois da qual foram publicadas em um pequeno livro, ainda hoje disponível, intitulado "A fé é maior que a obediência". Nenhum católico é obrigado a acreditar que estas são palavras de Nosso Senhor mesmo, mas as mensagens da Primeira Sexta-Feira de 1970 a 1977 são sua própria validação para muitas ovelhas que reconhecem nelas a voz do Mestre. Aqui está, por exemplo, a mensagem de 5 de março de 1976, da qual as palavras acima são tiradas, justamente quando a fé da verdadeira Igreja e a obediência à falsa Igreja estavam entrando em uma fase mais aguda de conflito:
O futuro parece obscuro para ti. Conheço tua luta interior pela verdadeira percepção e a maneira de enfrentar a confusão. E assim eu vou esclarecer-te. Meu fiel filho Marcel (Arcebispo Lefebvre), que sofre muito pela fé, está indo pelo bom caminho. Ele é como uma luz e um pilar da verdade, que muitos dos meus sacerdotes ordenados estão traindo. A fé é maior que a obediência. Portanto, é minha vontade que a obra de educação teológica para os sacerdotes continue no espírito e na vontade de meu filho Marcel, para prestar grande ajuda à minha única e verdadeira Igreja e para a salvação dela.
O espírito do mundo se infiltrou na Igreja, e o Espírito de Deus abandonou muitos corações que foram chamados a proclamar Seu Espírito. Eles falam sobre outras coisas e se perdem nos truques e armadilhas de Satanás. E assim corrompem as pessoas e até as crianças [...] Esse espírito penetrou no clero, nos mosteiros e nos conventos, porque os monges e as freiras perderam e abandonaram o espírito dos Fundadores de suas Ordens. Eles se tornaram um escândalo para as pessoas e para o mundo. Eles perderam não apenas o amor pela Minha Santíssima Mãe, mas também a reverência pela Minha presença sacramental. Em contrapartida, os monges pregam sobre as coisas do mundo, do luxo, de uma vida de prazer, e as freiras não falam sobre os santos anjos, e muitas nem sequer sobre a Santíssima Virgem e Mãe Maria. Ainda assim, existem lugares de quietude e de oração, santuários especiais nos quais se honra Maria, Minha Mãe e Mãe da graça.
Talvez essa mensagem de 1976 seja um pouco antiquada, na medida em que a diferença entre os frutos do Vaticano II e aqueles do Arcebispo Lefebvre tiveram tempo de esclarecer muitas almas sobre onde o verdadeiro Espírito de Deus se encontra. Hoje, de fato, o Arcebispo está dando cada vez mais frutos fora dos limites da Fraternidade que ele fundou. No entanto, a verdadeira Igreja de Deus continua sendo despedaçada pelos lobos modernistas em pele de cordeiro, e muitas almas ainda estão sendo tentadas a abandonar a verdadeira Fé e a verdadeira Igreja. Que prestem atenção a um dos muitos trechos das mensagens ao Pe. Drexel, p. e., do dia do Ano Novo de 1971:
Uma escuridão paira sobre minha santa Igreja. A confusão está crescendo; cada vez mais sacerdotes se tornam infiéis à sua missão e à graça [...], mas enquanto o fruto dos malvados e dos ímpios termina na corrupção, o fruto das almas fiéis florescerá em uma Igreja mais pura e mais bela. Salve aqueles que entendem a hora e permanecem no meu amor, confessam Minha Mãe, seguem o caminho dos santos, e que confiam na orientação dos anjos; essas almas fiéis brilharão nas trevas, não vacilarão sob ataques e não desmoronarão em meio às provações...
Kyrie eleison.

sexta-feira, janeiro 03, 2020

Comentários Eleison: Falar Alto e Claramente!

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Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCL (650) - (28 de dezembro de 2019)



FALAR ALTO E CLARAMENTE!


"Roma não está mais em Roma", dizia o Arcebispo.
O lar espiritual dos católicos está hoje em outro lugar.

Se houve grandes mentes no passado, é porque elas pensaram em coisas grandes, o que significa, explícita ou implicitamente, coisas de Deus; e se elas realmente foram grandes mentes, seu pensamento não terá sido somente destrutivo. Uma dessas mentes foi certamente Shakespeare, da Inglaterra. Como católico, ele lutou contra a apostasia de seu país no momento em que ela atingia seu apogeu, por volta de 1600. Mas essa mudança da Inglaterra para o protestantismo significava para o escritor que, se ele não quisesse ser enforcado, eviscerado e esquartejado, teria de camuflar sua mensagem católica, como demonstrou Clare Asquith em seu livro lançado em 2005, “Shadowplay [Jogo de Sombras]”, onde ela elevou a literatura inglesa muito acima dos “patriotas” ingleses e dos anões da crítica literária.
Para dar apenas um exemplo, no apêndice do livro sobre o Soneto 152 de Shakespeare, ela mostra como, do começo ao fim do texto, sob a aplicação óbvia a uma mulher que Shakespeare conheceu, existe um segundo significado completo de aplicação muito mais ampla para ele mesmo como escritor que falhou em advertir seus compatriotas como deveria ter feito. Aqui estão as 14 linhas do soneto, juntamente com seu significado aparente:

In loving thee thou know’st I am forsworn
But thou art twice forsworn to me love swearing,
In act thy bed-vow broke and new faith torn,
In vowing new hate after new love bearing.
But why of two oaths’ breach do I accuse thee,
When I break twenty? I am perjured most,
For all my vows are oaths but to misuse thee,
And all my honest faith in thee is lost;
For I have sworn deep oaths of thy deep kindness,
Oaths of thy love, thy truth, thy constancy,
And, to enlighten thee, gave eyes to blindness,
Or made them swear against the thing they see.
    For I have sworn thee fair: more perjured eye,
    To swear against the truth so foul a lie.1

Sabes que ao amar-te quebro uma promessa, mas
jurando que me amas, tu quebras duas promessas: tu
abandonaste a cama do teu marido, e depois voltaste para ele
("nova fé", "novo amor") para tão logo abandoná-lo de novo.
Mas por que te acuso de quebrares dois juramentos quando
Eu quebro vinte? Sou eu o perjuro maior, pois
para teu próprio mal, eu fiz tantos juramentos sobre
tua bondade quando eu sabia que não eras boa.
Assim, jurei que tu eras muito gentil,
muito amorosa, muito sincera, muito fiel, e para pôr-te
em uma boa luz, eu me fiz ver o que eu
não vi, ou jurei que não vi o que o olho viu.
    Pois jurei que eras boa. Que terrível
    perjúrio da minha parte, quando isso é tão falso!

Curiosamente, o texto do soneto faz mais sentido em seu significado oculto, referindo-se à Inglaterra infiel, do que em seu significado aparente, que se refere à amante infiel de Shakespeare. Assim, “Merrie Englande” foi uma esposa fiel da Igreja Católica por 900 anos. Mas pelo Ato de Supremacia de Henrique VIII (1534), ("Em ato"), a Inglaterra rompeu seu matrimônio ("voto nupcial") com a Igreja Católica e tomou o protestantismo como amante. Em seguida, casou-se novamente com a Igreja Católica sob Mary Tudor (1553, "nova fé", "novo amor"), para sem seguida recair em adultério com o protestantismo sob Elizabeth I (1558, "rasgaste a nova fé", "novo ódio" pela Igreja Católica). Mas Shakespeare (1564-1616) se culpa por uma infidelidade ainda mais grave, porque no curso daqueles anos ele glorificou repetidamente ("para iluminar-te") a Inglaterra com seus infiéis governantes Tudor, por exemplo, em seus Dramas Históricos, glorificou os danos sofridos pela Inglaterra ("para teu próprio mal”), porque, como católico, sabia muito bem que o protestantismo seria a ruína da “Merrie Englande”. Com certeza!

E que dizer dos tempos de hoje? O padrão se repete: por mais de 1900 anos, os católicos do mundo estiveram fielmente casados com a verdadeira Igreja, mas com o Vaticano II (1962-1965), a maioria deles seguiu os maus líderes até chegar mais ou menos ao adultério com o mundo moderno (“quebraste o voto nupcial”). Então, o Arcebispo Lefebvre (1905–1991) levou muitos de volta à verdadeira Igreja Católica (“nova fé”, “novo amor” ou renovação da antiga fé e do antigo amor), para então ver seus sucessores à frente da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que ele fundou em 1970, recaírem no desejo adúltero de reunião com a Roma conciliar, fundado sobre um "novo ódio" pela verdade pré-conciliar.

Qual é a conclusão? Qualquer Shakespeare entre nós, ou qualquer católico, deve falar forte e claramente, que, como tal, a Roma de Pachamama não é outra coisa que uma abominação, da qual se deve fugir.

Kyrie eleison.

________________________
1 Ao amar-te, sabes que sou perjuro,
Mas tu o és duas vezes por teu amor jurar-me,
Em ato, quebraste o voto nupcial, rasgaste a nova fé,
Ao jurares novo ódio depois de um novo amor.
Mas por que eu te acuso de quebrar dois juramentos,
Quando quebro vinte? Eu sou mais perjuro,
Pois todos os meus votos são juramentos para teu próprio mal,
E toda a minha fé sincera em ti está perdida;
Pois tantos juramentos fiz de tua imensa bondade,
Juramentos de teu amor, de tua verdade, de tua fidelidade,
E, para iluminar-te, dei olhos à cegueira,
Ou fi-los jurarem contra as coisas que viam.
    Pois jurei que és sincera: olhos mais perjuros,
    Jurei contra a verdade tão imunda mentira.