Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCXXIV (624)- (29 de junho de 2019)
“PROMETEO” – III: NEOIGREJA
O Concílio diz que
todos os homens são bons e estão salvos,
Inclusive os que se
comportam muito mal!
Depois de
estudar na Parte II de La Religión del
Hombre o Homem Novo que emerge do Concílio, na Parte III de seu livro sobre
o Vaticano II, o Padre Calderón estuda a Neoigreja do Concílio, uma verdadeira
Igreja nova. A única religião verdadeira do único Deus verdadeiro foi fundada
por Jesus Cristo, o Deus Encarnado, para "ensinar a todas as nações"
(Mt XXVIII, 20), de modo a alcançar
todas as almas e a salvar o maior número delas possível. Para adaptar uma
Igreja tão ambiciosa ao homem moderno, para proteger o humanismo moderno, é
necessário reduzi-la e redefini-la, modificá-la radicalmente, ao mesmo tempo
disfarçando essa mudança. Portanto, 1
a Neoigreja não tem mais uma missão para toda a humanidade, e 2 já não interferirá na parte mundana
da humanidade. 3 Mesmo na parte
religiosa da humanidade já não será a única igreja, e 4 ela precisará ser redefinida para cumprir com seu novo papel.
1 A Tradição Católica ensina que o
"Reino de Deus" e a "Igreja" são duas expressões referentes
exatamente à mesma realidade. Ambas têm a mesma missão de alcance universal.
Mas para adaptar essa Igreja a um mundo em que a cada dia ela é menos universal
na realidade, o Vaticano II distinguirá entre o Reino de Deus que é universal
na realidade, estando presente invisivelmente no coração de todos os
homens, e a Igreja nova que é universal somente na intenção, porque está
o tempo todo visivelmente construindo e estendendo o Reino na vida dos homens.
A Neoigreja também é universal por ser o "sacramento" ou sinal eficaz
da unidade de todos os homens (LG n.
1).
2 Aqui é onde a Neoigreja libera
poderes mundanos de qualquer dominação da Igreja. A glorificação do homem fez
com que o "Reino de Deus" já não fosse potencial para todos os homens
pelo batismo, mas atual para todos os homens por natureza. Portanto, a natureza
assumiu a relevância da religião, e, assim, a Neoigreja pode sinalizar a
universalidade do Reino, mas não pode afirmá-la ou reivindicá-la.
Portanto, a política está livre da religião, e a Igreja Nova só precisa
purificá-la em seu próprio domínio. Aqui está a Neocristandade de Maritain, na
qual Mamon pode assumir o controle do mundo, como vimos desde o Vaticano II. O
Concílio foi realmente a conclusão lógica do longo declínio da verdadeira
cristandade da Idade Média. Mas então, a Neocristandade é ímpia? Não, o Mundo
Novo de Maritain, nem crente nem batizado, continua sendo libertado por Cristo
e conduzido para a glória.
3 Essa redução liberal da Igreja é seguida
pela redução ecumênica. Desde que o protestantismo rompeu a Igreja Católica, os
fragmentos espalhados têm tentado se reunir. A verdadeira Igreja não quis e não
quer participar de sua busca vã pela unidade perdida, a menos que eles se
reincorporem à Igreja Católica, mas a glorificação do homem faz com que a
Neoigreja glorifique os não católicos e queira chegar a eles. Assim, nos cristãos
não católicos, glorificará os "traços" sem vida do catolicismo,
ainda presentes, mas sem vida entre eles, como por exemplo, entre os ortodoxos,
Ordens válidas mas sem jurisdição; entre os protestantes, Escrituras, mas sem
interpretação autorizada; e os transformará em "elementos" vivos (Unitatis Redintegratio). E na humanidade
não cristã encontrará "sementes da Palavra", isto é, qualquer
verdade e bondade que sejam faíscas da Palavra que "ilumina a todos os
homens que vêm ao mundo" (Jo I, 9) (Nostra
Aetate), porque todos os seres racionais foram escolhidos por Deus para
glorificá-lo, e todos os escolhidos são salvos.
Mas como pode
o Concílio dignificar dessa maneira todos os não católicos sem degradar os
católicos? Declarando que a "Igreja de Cristo" que tudo abarca
"subsiste", isto é, existe de alguma forma especial, na Igreja
Católica (LG n. 8). Mas
"subsiste" é meramente um truque verbal – se dignifica os não
católicos, como pode não degradar os católicos? Se não degrada os não
católicos, como pode dignificar os católicos?
4 Finalmente, como se vai redefinir a
Neoigreja para cumprir com seu novo papel? Como "Povo de Deus",
necessariamente democrático, e então o sacerdócio das Ordens será dissolvido no
"sacerdócio" do batismo (I Pd II, 5), e toda a Neoigreja se torna
sacerdotal com uma missão em todo o mundo, e assim os bispos são promovidos a
governar a Igreja ao lado do Papa (LG
n. 22). Outra palavra vaga o suficiente para corresponder ao caráter vago das
noções da Neoigreja é "Comunhão", cuja atividade principal é o
"Diálogo" com todos os homens, de modo que ninguém nunca está errado,
e todos podem ser gentis com os demais. Esqueçam a
doutrina ou a verdade!
Kyrie eleison.