Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCLXVII (667) – (25 de abril de 2020)
O Sepultamento da Igreja – II
Para que nos salvemos,
que soluções devemos cultivar?
Desde Fátima, todos
os católicos as conhecem.
Há duas
semanas, estes “Comentários” levantaram uma pergunta dupla sobre como a Igreja
Católica, em sua aflição atual, comparável ao tempo que passou Nosso Senhor
entre Sua crucificação e Sua ressurreição, poderia, em primeiro lugar,
sobreviver em seu “túmulo”, e depois levantar-se dele. Uma primeira parte da
resposta foi, em geral, que, no que Deus Todo-Poderoso pode ou quer fazer, ele
não se limita ao que os seres humanos podem pensar; de fato, espera-se que ele
faça o inesperado. No quinto Mistério gozoso do Santo Rosário, sua própria mãe
ficou desconsertada com a aparente indiferença à felicidade dela por parte de
seu Filho, que sempre fora tão obediente.
Então, em
particular, estes "Comentários" sugeriram que, embora seja
absolutamente anormal que a Igreja sobreviva como estando em um túmulo
praticamente sem a ajuda superior de um Papa ortodoxo ou de Bispos, sem a
estrutura de uma diocese ou paróquia ou Congregação oficial, todavia, onde há a
verdadeira Fé e um mínimo de bom senso e caridade, a Igreja pode sobreviver
mesmo em grupos pequenos e desarticulados, pelo menos por um tempo, até que a
Providência restaure uma hierarquia normal para acabar com a desordem. Por
exemplo, podemos olhar para a desordem que nos rodeia hoje em dia, e podemos
chegar a dizer que é o fim da Igreja; mas se Deus permitiu, é certo que não é o
fim da Igreja, algo que Ele nunca poderia permitir (Mt. XXVIII, 20).
Resta a
segunda parte da pergunta levantada há duas semanas, a saber: como a Igreja
poderá sair de seu atual túmulo ou levantar-se dele. A pergunta tem uma
importância especial, porque é tentador ver o problema de uma maneira
demasiadamente humana, e procurar uma resposta demasiadamente humana. Assim,
enquanto o Arcebispo Lefebvre costumava dizer que a solução está nas mãos de
Deus – e essa é a verdade, e não somente uma saída fácil –, seus sucessores à
frente da Fraternidade Sacerdotal São Pio X assumiram a posição de que não
podemos esperar indefinidamente para resolver o estado insatisfatório da
Fraternidade dentro da Igreja oficial. Em vez disso, eles devem procurar obter
o quanto antes o reconhecimento oficial devido à fidelidade da Fraternidade, e
que será de imenso benefício para toda a Igreja. E, com base nisso, os
sucessores do Arcebispo em vários momentos desde 2012 se regozijaram por
estarem a um ás, como disseram, de selar um acordo com Roma que finalmente
daria à Fraternidade o reconhecimento oficial que ela merece.
Mas esses
sucessores viram a madeira, e não a árvore. Como está a Roma de hoje, se não
casada com a nova religião da Pachamama e do Vaticano II e soldada a ela? E o
que foi a Fraternidade do Arcebispo senão um bastião da verdadeira Fé que
deveria ser defendida pela formação de verdadeiros sacerdotes para dar
continuidade à verdadeira religião católica como era antes do Vaticano II? O
confronto foi direto, porque a mudança de religião foi radical. Portanto, se a
Roma de hoje concedeu – ou concede – qualquer coisa à Fraternidade, isso é algo
que só é possível se a Fraternidade baixa sua guarda. Assim, a oficialização
dos matrimônios e das confissões da Fraternidade fez muito para desarmar a
resistência da Fraternidade à Roma oficial, e através da Roma oficial à sua
religião conciliar e à apostasia mundial.
O que os
sucessores do Arcebispo não compreenderam, como o Arcebispo compreendeu bem, é
a amplitude e a profundidade sobrenaturais dessa apostasia. Eles estão muito
perto dela. Eles estão muito perto do mundo moderno, do qual ela brota. É por
isso que eles procuram respostas humanas para um problema que só pode ter uma
solução divina. O problema está muito além dos cálculos, das manobras ou da
política dos homens, inclusive dos clérigos.
Como Daniel,
os homens devem voltar-se para Deus e, para voltarmos para Deus, devemos passar
por Sua Mãe, como Deus deixou claro em Fátima em 1917, exatamente quando o
problema moderno estava surgindo em toda a sua força, com a Revolução Comunista
na Rússia. De fato, Deus nos deu a solução sobrenatural no momento em que o
Diabo deve ter pensado que estava realmente ganhando, e essa solução é a
Consagração (não a secularização) da Rússia (não de todo o mundo) ao Imaculado
Coração de Maria (nem mesmo ao Sagrado Coração) pelo Papa (não pelas
autoridades de nenhuma outra religião que não seja a católica) em união com
todos os Bispos católicos do mundo (e não apenas pelo Papa). Aqui está como a
Igreja sairá do seu túmulo. E é somente dessa maneira, porque Sua Mãe disse
isso. Que a Fraternidade exorte todos os seus sacerdotes e seguidores a
praticarem intensamente os primeiros sábados, a fim de que contribua para que
haja a Consagração.
Kyrie eleison.