domingo, janeiro 10, 2016

Comentários Eleison: Vida na Fábrica

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDXLIII (443) - (09 de janeiro de 2016)

VIDA NA FÁBRICA

Os ambientes de trabalho atuais crucificam o homem?
Com um terço de dedo, rezem onde puderem.

Eis outra boa carta de um leitor destes “Comentários”. Ele assume uma perspectiva sensata sobre uma cena insana. Os leitores podem-se sentir desencorajados pelo que ele descreve ou encorajados por como o faz. Alguns leitores reconhecerão o que têm de enfrentar todos os dias quando vão trabalhar, e verão melhor aqui do que viram antes por que e como seu ambiente de trabalho está minando sua fé católica. Ele escreve:

Tenho trabalhado numa fábrica de automóveis há mais de dois anos, mas, embora ela pague bem, o ambiente é uma espécie de microcosmo do mundo em geral. Deixe-me explicar...

1) Mistura dos sexos – homens e mulheres trabalham juntos com grande proximidade. Esse tipo de trabalho destroi completamente a feminilidade da mulher. É claro que existem certas profissões nas quais as mulheres não podem trabalhar, mas por causa dessa falsa noção de igualdade, a companhia precisa permitir mulheres trabalhando. As histórias que ouvi sobre transgressões contra o 6º e o 9º mandamentos são realmente perturbadoras. Não preciso me alongar sobre isso. Mas o que as pessoas esperavam? Por que uma mulher deveria trabalhar num lugar como esse?

2) A mente dos homens é incapaz de fazer julgamentos morais – Generalizo, é claro, mas a maioria dos homens com os quais conversei não pensam em termos de moralidade (por exemplo, o bem e o mal), mas em quais prazeres podem mantê-los entretidos. Conversei com muitos colegas de trabalho e tentei levantar questões sobre moralidade de um modo que pudessem entender, mas parece que isso não entra em suas cabeças. Quando um homem já imergiu a si mesmo nas coisas da carne, é incapaz de pensar na alma. Pior, alguns desses colegas não têm vergonha alguma de se gabar de seus pecados. Outrora os homens tinham vergonha. Parece que não mais.

3) Eu sou meu próprio deus – A falsa liberdade é exaltada como o princípio norteador da vida dos homens. Tive algumas discussões com alguns de meus colegas, e o que encontrei todas as vezes foi a resposta de que a verdade e a moralidade são uma questão puramente subjetiva. O que você acredita ser a verdade está bem para você, mas você não pode impor sua maneira de pensar a ninguém mais. Eu disse a um supervisor meu que esse tipo de pensamento é absurdo. Eu disse: e se alguém pensar que é certo ter mais de uma esposa? Ele respondeu: a crença cabe ao indivíduo. Se um homem nega um princípio básico, como o de que a verdade não é subjetiva, então não vale a pena dialogar com ele. Em essência, cada indivíduo se torna seu próprio deus, porque ELE construiu sua própria realidade ao invés de submetê-la a algo exterior.

O ambiente de uma fábrica moderna reproduz uma espécie de impiedade. Não espero que os trabalhadores de uma fábrica sejam exemplos de virtudes espetaculares, mas diria que as fábricas modernas são exponencialmente piores que aquelas descritas por Charles Dickens em seu tempo. Posso continuar e continuar, mas o ponto a que quero chegar é este: como a graça pode operar em vidas que estão sendo destruídas através do pecado e de uma vida à procura do prazer? Como alguém alcança homens que não conseguem compreender as normas morais mais elementares? É frustrante, para dizer o mínimo. Por favor, reze por nós nas trincheiras.

A mulher se libertando da feminilidade e da família, o homem se libertando da moral e da verdade objetivas – de fato, como alguém pode se aproximar, ou mesmo dialogar com uma geração tão “perversa e descrente” (Lc. IX, 41)? Pelo exemplo, pela caridade e pela oração. Aconselhei o escritor a levar um terço de dedo ao trabalho para conseguir rezar discretamente década após década por seus companheiros de trabalho e para se proteger espiritualmente de seu ambiente. Mas ele precisará ser discreto.

Kyrie eleison.