domingo, agosto 24, 2014

Comentários Eleison: "Resistência" Fracassando?

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXXI (371) - (23 de agosto de 2014): 


"RESISTÊNCIA FRACASSANDO?


            Alguns leitores destes “Comentários” objetaram, sem dúvida, à referência feita na semana passada (CE 370) à “Resistência” estar fazendo presentemente “pouco aparente progresso”. Eles talvez preferissem um valente chamado às armas. Mas devemos permanecer na realidade. Por exemplo, quando a diocese tradicional de Campos no Brasil caiu nos braços da Neo-Roma em 2002, não dissemos não muitos de nós que dos 25 sacerdotes formados na escola de Dom Castro Mayer, ao menos alguns sairiam das fileiras? E, no entanto, nenhum deles, desde então, se tornou independente para dar continuidade à boa e verdadeira defesa da Tradição feita pelo Bispo. Assim, todos eles estão mais ou menos no deslize neomodernista. Contudo, se permanecermos na realidade, nada há que se dizer.

Primeiro de tudo, Deus é Deus, e Ele está conduzindo a presente crise ao seu modo, e não ao nosso. “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55, 8). Nós sonhamos com os sacerdotes e leigos que estão lúcidos trabalhando juntos para enfrentar seus inimigos, mas Deus não precisa da “Resistência” de ninguém para cuidar de Suas ovelhas ou salvar a Sua Igreja. Há quarenta anos, quando Dom Lefebvre procurava esperançosamente por um punhado de companheiros bispos que ficassem ao seu lado em público para lançar uma barreira no caminho do rolo compressor conciliar, ele poderia certamente tê-los encontrado, mas isso não aconteceu. De fato, quando Deus intervém para salvar a situação, como Ele certamente fará, esse resgate é obviamente obra Sua, através de Sua Mãe.

            Em segundo lugar, os mais de cinco séculos de humanismo desenfreado têm tornado o homem tão ignorante em relação a Deus, o Senhor Deus dos Exércitos, que à humanidade deve ser ensinada uma lição que só será aprendida pelo caminho mais difícil. A nona das quatorze regras de Santo Inácio para o Discernimento dos Espíritos (primeira semana) dá três razões principais para a desolação espiritual de uma alma, que pode ser aplicada à presente desolação da Igreja:

1. Deus nos castiga por nossa tibieza e negligência espiritual. Só Ele sabe atualmente qual é o merecido castigo de abrangência mundial por nossa apostasia de abrangência mundial e conseguinte mergulho no materialismo e no hedonismo.
        
2. Deus põe-nos à prova para nos mostrar o que está realmente dentro de nós, e o quanto dependemos dele. Não pensa seriamente o homem moderno que pode desempenhar melhor que o Deus Todo-Poderoso o trabalho de dirigir o universo? E não pode ser que a verdade de Deus só venha a ser conhecida quando todos os pequenos esforços próprios do homem tiverem falhado?

3. Deus nos humilha com desolação para acabar com o nosso orgulho e com a nossa vaidade. Não foi o Vaticano II – que proveio dos principais ministros de uma verdadeira religião de um verdadeiro Deus – uma explosão sem precedente de vanglória humana, ao se preferir o mundo moderno do homem à Igreja imutável de Deus? Pensou a pequena Fraternidade Sacerdotal São Pio X que poderia salvar a Igreja? A menos que a “Resistência” permaneça devidamente modesta em suas pretensões e ambições, já estará condenada.

Quais seriam então essas ambições? Em primeiro lugar, e a mais importante: manter a Fé – pois sem ela é impossível agradar a Deus (Hb 11,6) –, que está expressa na doutrina, no Credo Católico. Em segundo lugar, dar testemunho dessa Fé, especialmente por meio de exemplos, e, se necessário, até o martírio (“martyr” é a palavra grega para “testemunho”). Assim, qualquer que seja o modo como a “Resistência esteja ou não organizada, deve dedicar os seus recursos, ainda que escassos, ao que quer que ajude as almas a manterem a Fé. Então, uma vez que a sua posição em favor da Verdade seja obrigatoriamente reconhecível como tal, meramente por existir, não fracassará, pois estará dando testemunho.

Kyrie eleison.