segunda-feira, agosto 29, 2016

Comentários Eleison: Contra o N.O.M.

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXVI (476) - (27 de Agosto de 2016):


CONTRA O  N.O.M.


Se se pretende o sacrifício da Missa descartar,
Como poderão os pobres católicos não errar?

            O princípio, em tese, é claro: Para seguir Nosso Senhor, nas palavras imortais de Santo Agostinho, precisamos “matar os erros, mas amar os que erram”. Isso significa que nós jamais devemos matar os erros matando também os que erram (ou seja, aqueles que estão em erro, a menos que sejam perigosos e incorrigíveis), e não devemos jamais amar os que erram e então amar também os seus erros. Na prática pode ser muito fácil de escorregar da matança do erro para a matança do que erra, ou escorregar do amor ao que erra para o amor ao seu erro. Em outras palavras: “A Igreja é intolerante nos princípios porque crê, e é tolerante na prática porque ama. Os inimigos da Igreja são tolerantes nos princípios porque eles não creem, e intolerantes na prática porque não amam”. Isto está bem dito.

            No caso de alguém ainda pensar que o autor destes “Comentários” escorrega da compaixão pelas ovelhas desgarradas no Novus Ordo para o amor aos erros da Missa Nova de Paulo VI, vão aqui extratos da carta de um leitor mais velho cuja própria amarga experiência levou-o à conclusão de que aos católicos Novus Ordo não merece ser demasiadamente concedido o benefício da dúvida.. Obviamente ele deparou com algo do pior da Neoigreja. Por seus frutos...

            Eu era uma criança típica da escola primária em uma paróquia de duas mil e quinhentas famílias em um bairro que era quase 60% católico. Todos nós éramos formados na antiga religião, e quando a revolução conciliar começou a destruir a Igreja nos anos setenta, todos nós tínhamos a sensação de que alguma coisa ia mal. Pois bem, todo católico tem o dever de ser fiel à Tradição e de descobrir onde ela se encontra, por exemplo, nos materiais de leitura disponíveis para todos. Por cinquenta anos eu mesmo tenho argumentado, rogado e orado para que meus amigos católicos e suas famílias leiam as coisas que já li, mas eles simplesmente não querem fazê-lo. A grande maioria gosta da religião conciliar: divórcio e anulações fáceis, pregadores acomodatícios, feminismo, democracia, adultério, homossexualismo e amor meloso mantêm a todos no Novus Ordo, refletindo o oposto de um amor à verdade.

            Eu diria que conheço a mentalidade Novus Ordo porque por mais de dois anos eu tive contato próximo com juízes, sacerdotes e leigos do Novus Ordo. Posso assegurar ao senhor que não é o amor pela verdade que os motiva. Pode-se confiar nessas autoridades da Igreja para fazer exatamente o que quase todos, se não todos, os católicos Novus Ordo querem que façam, que é ignorar suas vidas pecaminosas. Parece que os únicos “pecadores” que elas pretendem admoestar, instruir ou aconselhar são os fumantes, poluidores, católicos tradicionalistas insensíveis e responsáveis por famílias numerosas. Lembro que mais de 90% dos católicos casados usam algum tipo de controle de natalidade e ensinam as suas crianças a fazerem o mesmo. O Novus Ordo tornou-se uma organização global de apaziguamento de consciências e fonte de novidades em larga escala. Os católicos Novus Ordo realmente acreditam que todo mundo vai para o Céu. “Trabalhar sua salvação com temor e tremor” (Fl 2, 12) não é um pensamento que os entretenha.

            O controle de natalidade foi nos tempos modernos um marco na virada da vontade Deus para a vontade do homem. Não usar controle de natalidade para aqueles que vivem em uma cidade grande pode parecer quase impossível, mas quem está errado: Deus ou a cidade moderna? Deus deu a Sua igreja em 1968 uma grande oportunidade para manter-se nos trilhos quando Ele inspirou um Paulo VI relutante a permanecer fiel à doutrina imutável da Igreja, mas uma grande quantidade de homens da Igreja foram prontamente infiéis ao Papa. E o resultado foi essa “organização de apaziguanemento da consciência” denunciada acima. E quem pode negar que a substituição do verdadeiro sacrifício da Missa tem contribuído imensamente desde 1969 para que um grande número de católicos abandonem suas vidas sacrificatórias que conduzem ao Céu, desfrutar da vida fácil e ir para o Inferno? Que responsabilidade a dos sacerdotes!


Kyrie eleison.  

segunda-feira, agosto 22, 2016

Comentários Eleison: Bispo Fellay III

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXV (475) - (20 de Agosto de 2016):

 BISPO  FELLAY  –  III


Três Bispos disseram a verdade, mas “Ninguém tão cego
Como aquele que não quer ver” – ele se encerra em seu ego.

Lendo as duas questões recentes destes “Comentários” sobre a mentalidade que induz o Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X a buscar implacavelmente a um acordo meramente prático com as autoridades da Igreja em Roma, um bom amigo recordou-me de que as ideias foram expressas há quatro anos em sua Carta de 14 de abril de 2012, na qual ele responde aos outros três bispos que o havido advertido seriamente contra a tentativa de qualquer acordo meramente prático com Roma. Muitos dos atuais leitores destes “Comentários” podem ter esquecido, quiçá nunca souberam, daquele aviso ou da resposta do Bispo Fellay. Certamente, a troca das cartas diz muita coisa que vale a pena recordar. Aqui estão elas, resumidas tão cruelmente como de costume, com breves comentários:

A principal objeção dos três bispos a qualquer acordo prático com Roma realizado sem um acordo doutrinal era o abismo doutrinal entre a Roma Conciliar e a Fraternidade Católica Tradicional. Meio ano antes da morte do Arcebispo Lefebvre, ele disse que quanto mais se analisa os documentos e a repercussão do Vaticano II, mais se percebe que o problema é menos os erros clássicos em particular, mesmo a liberdade religiosa, a colegialidade e o ecumenismo, do que “uma total perversão da mente” em geral, subjacente a todos os erros específicos e procedendo de “uma nova filosofia completa fundada no subjetivismo”. Contra o argumento-chave do Bispo Fellay de que os Romanos já não são tão hostis, mas benevolentes para com a Fraternidade, os três bispos responderam com outra citação do Arcebispo: tal benevolência é apenas uma “manobra”, e nada poderia ser mais perigoso para o “nosso povo” do que “colocar-nos nas mãos dos bispos conciliares e da Roma modernista”. Os três bispos concluíram que um acordo meramente prático destroçaria a Fraternidade e a destruiria.

Para esta profunda objeção, tão profunda quanto o abismo entre o subjetivismo e a verdade objetiva, o bispo Fellay respondeu (google Bispo Fellay, 14 de abril de 2012): — 1 que os bispos estavam sendo “muito humanos e fatalistas”. 2 A Igreja é guiada pelo Espírito Santo. 3 Por trás da benevolência real de Roma pela FSSPX está a Providência de Deus. 4 Equivaler os erros do Concílio a uma “super-heresia” é uma exageração inapropriada, 5 o que logicamente irá conduzir os tradicionalistas ao cisma. 6 Nem todos os Romanos são modernistas, pois cada vez menos deles acreditam no Vaticano II, 7 a tal ponto que se o Arcebispo estivesse vivo hoje, não teria hesitado em aceitar o que está sendo oferecido para a FSSPX. 8 Na Igreja sempre haverá o joio e o trigo, então o joio Conciliar não é motivo para um recuo. 9 Como eu desejo aconselhá-los aos três, mas cada um dos senhores em diferentes posições “forte e apaixonadamente não conseguiram me compreender”, e até me expuseram em público. 10 Opor a Fé à Autoridade é “contrário ao espírito sacerdotal”.

E finalmente, os brevíssimos comentários sobre cada um dos argumentos do Bispo Fellay:

1 “Muito humano”? Como disse o Arcebispo, o grande abismo em questão é mais filosófico (natural) do que teológico (sobrenatural). “Muito fatalista”? Os três bispos foram muito mais realistas que fatalistas. 2 Os homens da Igreja conciliar estão guiados pelo Espírito Santo enquanto eles destroem a Igreja? 3 Por trás da malevolência real de Roma está a firme resolução de dissolver a resistência da FSSPX contra a nova religião Conciliar – assim como aconteceu com as Congregações Tradicionais no passado! 4 Apenas os mesmos subjetivistas não conseguem enxergar o abismo entre subjetividade e Verdade. 5 Os católicos objetivistas firmes na Verdade estão longe do cisma. 6 Os maçons mantêm um cinturão em Roma. Ninguém que não seja modernista possui poder para falar ali. 7 Acreditar que o Arcebispo teria aceitado as ofertas atuais de Roma é equivocar-se completamente sobre ele. O problema básico só tem piorado desde a sua época. 8 A colher do Bispo Fellay está muito curta para ele cear com os (objetivos) demônios Romanos. 9 Os três bispos compreenderam muito bem o Bispo Fellay, mas ele não quis dar ouvidos ao que os três diziam a ele. Terá sido por ele considerar-se infalível? 10 São Paulo certamente imaginou que a Autoridade poderia se opor à Fé – (Gl I, 8-9 e II, 11). São Paulo carecia de “espírito sacerdotal”?

Kyrie Eleison.

Traduzido por Cristoph Klug

                                                                                                                                  

segunda-feira, agosto 15, 2016

Comentários Eleison: Bispo Fellay II

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXIV (474) - (13 de Agosto de 2016):

BISPO FELLAY – II

Sejamos cabeças-duras, mas de maneiras gentis.   
A suavidade da mente faz o tolo, o sentimental.  

Um erro nunca é propriamente refutado até que seja desraigado. Em outras palavras, para verdadeiramente se superar um erro, alguém precisa mostrar não somente que ele é um erro, mas por que é um erro. Suponhamos, com o “Comentário” da última semana, que a declaração do dia 28 de junho do Superior Geral da Fraternidade São Pio X, esperando que o pio sacerdócio da Fraternidade resolverá a crise da fé na Igreja, comete o erro de colocar a carroça do sacerdócio antes do cavalo da fé. Mostremos que este erro tem suas raízes na quase universal subvalorização da mente e supervalorização da vontade de nossa época, que resultam, mesmo que inconscientemente, num desprezo pela doutrina (exceto pela doutrina dos Beatles de “tudo do que você precisa é amor”).

E já no início da Declaração há um indício desse erro quando ela diz que o princípio central condenado na Pascendi, a grande condenação do modernismo por Pio X, é o da “independência”. Não. O princípio que ele constantemente condena como sendo a raiz do modernismo é antes o agnosticismo, a doutrina pela qual a mente não pode conhecer nada além do que aparece aos sentidos. Sobre esse desconhecimento segue a independência da mente em relação a seu objeto, seguido, por sua vez, pela declaração de independência da vontade em relação a todas as outras coisas das quais não quer depender. Está na natureza das coisas que a mente deve primeiro suicidar-se antes que a vontade possa declarar sua independência. Então, quando a Declaração põe no coração da Pascendi a independência antes do agnosticismo, este é um indício de que a Declaração é antes uma parte do problema da Igreja do que de sua solução.

E de onde vem, por sua vez, essa degradação da mente e da doutrina? Principalmente de Lutero, que chamou a razão humana de “prostituta” e que, mais que qualquer outro, lançou a Cristandade no caminho sentimental para sua autodestruição hodierna. Mas isto levou todos os 500 anos? Sim, porque houve uma resistência natural e católica ao longo do caminho. Mas Lutero estava certo quando disse ao Papa que, no final, iria destruí-lo - “Pestis eram vivus, functus tua mors ero, Papa” – Na vida, fui tua peste; morto, serei tua morte, Papa”.

A este radical e gigante erro da degradação da mente e da doutrina podem ser atribuídos dois sub-erros no caso do autor da Declaração de 28 de junho: em primeiro lugar, sua má compreensão de Monsenhor Lefebvre, e, em segundo lugar, sua muito grande compreensão da Senhora Cornaz (pseudônimo Rossinière).

Como muitos de nossos seminaristas em Écône, quando o mesmo Monsenhor Lefebvre presidia lá, Bernard Fellay estava, com razão, fascinado e encantado pelo notável exemplo, ante nossos próprios olhos, de o que um sacerdote católico pode e deve ser. Mas a coluna vertebral do sacerdócio de Monsenhor e de sua heroica luta pela Fé não foi sua piedade – muitos modernistas são “piedosos” – mas sua doutrina, doutrina do eterno sacerdócio, profundamente alérgica ao liberalismo e ao modernismo. Tampouco Monsenhor disse alguma vez que sua Fraternidade salvaria a Igreja. Antes, que seus sacerdotes deveriam salvaguardar os incalculáveis tesouros da Igreja para tempos melhores.
A pessoa que realmente disse que os sacerdotes da Fraternidade salvariam a Igreja, como o Pe. Ortiz nos lembrou, foi a Senhora Cornaz, uma mãe de família de Lausanne, Suíça, cuja vida abarcou a maior parte do século XX e quem, entre 1928 e 1969, recebeu comunicações supostamente do céu sobre como os casais deveriam santificar o sacerdócio (!). As comunicações começaram novamente em 1995 (!), quando ela encontrou um sacerdote da Fraternidade a quem ela persuadiu, e, através dele, Monsenhor Fellay, de que eram os sacerdotes da FSSPX que estavam destinados pela Providência a salvar a Igreja propagando as “Moradas de Cristo Sacerdote” dela. Com toda sua autoridade, o Superior Geral apoiou seu projeto, mas a reação negativa dos sacerdotes da Fraternidade fê-lo rapidamente renunciá-lo em público. Interiormente, entretanto, terá a visão mística dela sobre o exaltado futuro da Fraternidade permanecido nele? Parece bem possível. Como Martin Luther King, o Superior Geral “tem um sonho”.

Kyrie eleison.

Traduzido por Leticia Fantin


sábado, agosto 06, 2016

Comentários Eleison: Bispo Fellay - I

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXIII (473) - (3 de Agosto de 2016):

BISPO FELLAY – I


A Fraternidade acha que a todos irá salvar?
Foi a partir do orgulho que veio a queda a se dar.

Depois da reunião de 26 a 28 de junho dos Superiores da FSSPX na Suíça, o Superior Geral fez não somente para o público geral o Comunicado de 29 de junho, já examinado nestes “Comentários” há três semanas, mas também uma Declaração em 28 de junho para o benefício dos membros da FSSPX, ou seja, primariamente para os sacerdotes da FSSPX. A Declaração é em si mesma críptica, mas uma vez decifrada (com a ajuda do Pe. Girouard), ela se mostra carregada de significados para o futuro da Tradição Católica. Segue um mero esquema dos primeiros seis parágrafos da Declaração e o texto completo do sétimo:

(1-4) A Igreja e o mundo estão em crise, porque em vez de girar em torno da Cruz de Cristo, eles giram em torno do homem. A FSSPX se opõe a essa “desconstrução” da Igreja e da sociedade humana.

(5) O remédio próprio de Deus para essa desordem foi inspirar um Arcebispo a fundar uma congregação hierárquica católica em torno do sacramento da Ordem Sagrada – Jesus Cristo, Sua Cruz, Seu Reinado, o sacrifício e o sacerdócio, fonte de toda ordem e de toda graça, é do que se trata a Fraternidade fundada por Dom Lefebvre.

(6) Por isso, a FSSPX não é nem conciliar (pois gira em torno de Cristo) nem rebelde (pois é hierárquica).

(7) “Terá chegado o momento da restauração geral da Igreja? A Divina Providência não abandona a Sua Igreja cuja cabeça é o Papa, o vigário de Cristo. Por isso um sinal incontestável dessa restauração geral será o Papa manifestando sua vontade de proporcionar os meios para reestabelecer a ordem no sacerdócio, na Fé e na Tradição. Esse sinal será a garantia da unidade católica necessária da família e da Tradição”.       

Os primeiros seis parágrafos claramente levam ao sétimo. E não é desarrazoado interpretar o sétimo como significando que quando o Papa Francisco der a aprovação oficial à Fraternidade, então isso será a prova de que finalmente é chegado o momento em que toda a Igreja Católica voltará a se reerguer, para que o sacerdócio católico, a Fé católica e a Tradição católica sejam restaurados, e para que todos os tradicionalistas se juntem à Fraternidade Sacerdotal São Pio X sob seu Superior Geral. Dom Fellay parece estar repetindo aqui para o benefício de todos os sacerdotes da Fraternidade sua constante visão do glorioso papel dela, porque na reunião suíça, segundo ouvimos, ao menos alguns de seus Superiores questionaram essa glória vindo na forma de reunião com a Roma oficial. Mas esses Superiores em oposição estavam certos, porque Dom Fellay está aqui sonhando! É um sonho nobre, mas mortal.

O sonho é nobre porque se trata da honra de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Sua Igreja, de Seu Sacrifício, do Arcebispo Lefebvre, do sacerdócio católico, e assim por diante. O sonho é mortal porque gira mais sobre o sacerdócio do que sobre a Fé, e enquanto ele acredita muito corretamente que o Papa Francisco e os romanos sejam os portadores da Autoridade católica, não leva em conta quão distantes estão de sustentar a Fé católica. Se se pode dizer que o Arcebispo Lefebvre salvou o sacerdócio católico e a Missa, isso foi para ele apenas um meio de salvar a Fé. A Fé é para o sacerdócio como o fim para o meio, e não como o meio para o fim. Que seria do sacerdócio sem a Fé? Quem acreditaria nos Sacramentos? Quem precisaria de sacerdotes?

E quanto a essa Fé, o Papa atual e os oficiais romanos que mantêm o controle em torno dele perderam seu apego à Verdade como sendo única, objetiva, não contraditória e exclusiva, e com isso eles perderam seu apego à verdadeira Fé, ou melhor, perderam a Fé. Isso significa que se o Papa Francisco de fato aprovar oficialmente a Fraternidade, não se tratará de modo algum de um sinal de que a Fraternidade terá restaurado a sanidade da Igreja, mas, em vez disso, que a Igreja oficial terá absorvido em sua insanidade a Fraternidade.

Kyrie eleison.