sábado, julho 27, 2013

Comentários Eleison: Danos Contínuos

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXV - (315) - (27 de julho de 2013):
 


DANOS CONTÍNUOS - I


Quando as pessoas querem defender a péssima Declaração Doutrinária (DD) oficialmente apresentada pela Fraternidade São Pio X às autoridades romanas, em meados de abril do ano passado como base para um acordo prático entre Roma e a FSSPX, muitas vezes elas vão argumentar que como Roma rejeitou a DD, então a DD não tem mais interesse e pode ser esquecida. Mas na edição deste mês da "Recusant", a recém-surgida revista da Resistência na Inglaterra, aparece um argumento contrário, que merece grande atenção. Aqui está ele, seja citado diretamente a partir do original, ou resumido:

"A DD, tanto quanto o seu nome e os seus conteúdos deixam claro, é uma declaração dizendo que um certo número de posições doutrinárias sobre as questões de maior importância na atual crise na Igreja são aceitáveis ​​para a FSSPX. O problema é que várias posições expressas na DD não são aceitáveis." Por exemplo, no Capítulo Geral da FSSPX de julho do ano passado foi dito por um teólogo líder da FSSPX que "Esta declaração é (...) profundamente ambígua e peca por omissão contra o dever de denunciar claramente os principais erros que ainda estão desenfreados dentro da Igreja e estão destruindo a fé dos católicos. Tal como está, esta declaração dá a impressão de que nós iríamos aceitar a "hermenêutica da continuidade'."

"O dano causado pela DD é, portanto, o de uma declaração pública doutrinariamente duvidosa. E também não foi, como tal, "retirada" ou "renunciada". Na verdade Dom Fellay consistentemente se recusa a admitir que há algo doutrinariamente dúbio em sua Declaração. No máximo, ele admite ter tentado ser "muito sutil", mas não admite que tal sutileza é altamente censurável em assuntos relacionados com a defesa da Fé. Dom Fellay reclama que todo o problema é que ele "não foi bem compreendido", mesmo por membros teologicamente muito qualificados da FSSPX Ele permite que, entre outros, o padre Themann nos EUA defenda a Declaração em conferências públicas que foram gravadas e estão sendo distribuídas entre os fiéis."

É verdade que as questões poderiam ter sido piores se Roma tivesse aceitado a DD, mas isso não diminui o dano que continua sendo feito pela manifestação da DD do que é doutrinariamente aceitável para a FSSPX. Pois se Dom Fellay diz que "retira" e "renuncia" à DD, ele provavelmente quer dizer apenas que era inoportuno naquele momento, como sendo susceptível de provocar divisão na FSSPX. "Ele também nunca sugeriu que a DD seja doutrinariamente duvidosa e inaceitável. É aí que o verdadeiro problema tem estado o tempo todo, e essa questão está longe de ser resolvida: o Superior Geral parece recusar-se a fazer qualquer profissão não ambígua da posição da FSSPX".

Concluindo, o escândalo causado pela DD ainda não foi reparado. "Tentando minimizar a gravidade do assunto com a finalidade de manter ou recuperar a paz e a tranquilidade entre os fiéis, arrisca incentivar a mentalidade de que a doutrina não importa tanto assim, contanto que as coisas funcionem bem e que possamos manter a verdadeira missa, etc." Essa minimização só tornará o escândalo pior (fim do artigo na "Recusant").

Este artigo afirma muito moderadamente o problema da DD não ser publicamente colocado de lado ou retraído pelo Bispo Fellay. Mas como pode uma congregação católica manter e servir à verdade quando ela é liderada por um Superior que tão obstinadamente brinca de jogar pedrinhas na água com a Verdade? Se a FSSPX. é um bote salva-vidas, ou ela se livra desse Capitão iludido que constantemente procura fazer furos no piso do barco salva-vidas, ou a FSSPX se transforma em um barco da morte. Que Deus, em sua misericórdia abra os seus olhos.
                                                                                                                Kyrie eleison.


sábado, julho 20, 2013

Comentários Eleison: Prognóstico de Longo Alcance

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXIIV- (314) - (20 de julho de 2013)


PROGNÓSTICO DE LONGO ALCANCE


Há quase 20 anos, um certo bispo da Fraternidade Sacerdotal São Pio X mostrou que era possível prever a traição da FSSPX de Dom Lefebvre que quase aconteceu em 2009 e 2012, e que ainda está sob o risco de acontecer. Perturbado pela auto-admiração e falta de seriedade que ele tinha observado no então recente Capítulo Geral eletivo da FSSPX, aqui está um resumo (com algumas citações diretas) do que ele disse na casa da Fraternidade em Le Brémien, França, em 17 de julho de 1994 (procure na Internet: Un évêque s'est levé le Brémien – você deve encontrar o texto original em francês).

Seria bom poder dizer que na FSSPX estamos abrindo casas em todos os lugares, estamos construindo, estamos entrando em novos países, temos vocações, que todo mundo é bom e doce, jovem e entusiasta, que temos quatro bispos, e assim por diante. "Mas por que a FSSPX deveria ter qualquer proteção especial contra as forças desencadeadas hoje que têm varrido milhares de excelentes bispos e sacerdotes na Igreja mainstream? (...) Quais são as qualidades da Fraternidade, quais são as suas garantias?" Juventude, ah sim, a juventude é boa, de boa aparência, fisicamente forte, mas e quanto à idade, à experiência e à sabedoria de anos? Como se pode esperar que a juventude seja sábia?

Nos anos de 1950 e 1960, a Igreja parecia estar com boa saúde, resistindo heroicamente ao ataque do mundo pós-guerra. Na Inglaterra e nos EUA, havia um grande número de conversões a cada ano, tanto que o mundo poderia parecer estar a ponto de converter-se à fé católica. Mas o que aconteceu? Exatamente o oposto. Com o Vaticano II, a verdade parou de lutar e a Igreja Católica se rendeu ao mundo moderno.

Então me deixe dar-lhe um cenário paralelo para a Fraternidade. Na década de 1990 esta pequena adorável Fraternidade com todos os seus pequenos padres maravilhosos está resistindo heroicamente às falhas e traições da Igreja oficial. Há conversões, e as pessoas estão percebendo que a nova Igreja é falsa e não-funcional, mas justo quando a Igreja oficial parece estar a ponto de se entregar, o que podemos ver? Eu não digo nós devemos ver isso, mas o que podemos ver? A Fraternidade se rendendo e indo para a Igreja oficial. Se a Igreja Universal pode entrar em colapso, por que não, e ainda mais, uma minúscula Fraternidade?

E aqui está outra consideração. Antes do Vaticano II cada Ordem Católica e Fraternidade tinha acima dela as Congregações da Cúria Romana para que "se algo desse errado em uma Fraternidade, não excluindo uma falha por parte de seus líderes, algo sempre humanamente possível, então se poderia sempre apelar para Roma e Roma poderia intervir. Em tempos antigos ela, em geral, intervinha para o melhor, ao passo que hoje ela geralmente intervém para o pior, então agora "é melhor não estar em Roma, mas cuidado, há um preço a ser pago, ou seja, que não há ninguém acima de nós, e assim o nosso Conselho Geral, o nosso pequeno Superior-Geral, é o teto! Perigo!". A Fraternidade está jogada de volta aos seus próprios recursos. Agora, o Arcebispo Lefebvre tinha 65 anos quando fundou a Fraternidade. Mas quantos homens velhos com longa experiência a Fraternidade tem em 1994?

Em suma, por que a Fraternidade deveria ser poupada dos problemas da Igreja Universal? Eu não quero que a Fraternidade quebre – e Deus, por favor, que eu não faça nada para ajudá-la nisso; mas só posso dizer que eu não ficaria surpreso se ela quebrasse. Deus pode preservá-la, mas Ele também pode permitir que ela vá pelo caminho de toda a carne, para nos fazer perceber o quão pouco somos capazes por nós mesmos. Precisamos de sabedoria e ajuda especial de Deus.
                                                                                                                                              
Kyrie Eleison.

sábado, julho 13, 2013

Comentários Eleison: Avanços da Resistência

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXIII - (313) - (13 de julho de 2013):

AVANÇOS DA RESISTÊNCIA

A celebração do Jubileu de Prata nos EUA das consagrações episcopais de 1988 foi um grande sucesso. Uma dúzia de sacerdotes e um bispo celebraram duas missas pontificais nos dias 29 e 30 de junho no jardim da reitoria do Padre Ronald Ringrose em Viena, Virgínia, com cerca de 250 a 300 fiéis presentes em cada Missa. Liturgicamente as cerimônias podem ter deixado um pouco a desejar, pois nenhuma paróquia tem os recursos de um seminário em pleno funcionamento. No entanto, muito mais importante é que o humor das pessoas estava tranquilo, sem amargura ou raiva aparente, apenas um entendimento claro de que algo está seriamente errado com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, e que para manter a fé eles devem fazer algo sobre isso. Muitos vieram de longas distâncias para participar, até mesmo do exterior.

Um dia antes, o padre Ringrose organizou um dia inteiro de reuniões dentro de sua casa paroquial para a dúzia de sacerdotes provenientes do Brasil, Canadá, Colômbia, Inglaterra, França, México e Estados Unidos. Nenhuma organização extra foi formada, nem qualquer outro mecanismo administrativo foi colocado em prática, mas outra Declaração chegou, concluindo com uma longa citação do Arcebispo Lefebvre sobre a reconstrução da Cristandade da base para o alto. O humor dos sacerdotes estava como o das pessoas, tranquilo e resoluto, com uma unidade de propósito na simples determinação de resgatar o que podem daquilo que a liderança da Fraternidade está traindo agora.

Traindo? Mas não foi em 27 de junho que os três outros bispos da FSSPX, Tissier, Fellay e de Galarreta, também emitiram uma Declaração que parecia em grande parte reverter àquilo que a FSSPX sempre representou? Tenha cuidado. Como diziam os latinos, "o veneno está na cauda". O 11º dos 12 parágrafos declara que os três bispos têm a intenção de seguir a Providência "ou quando Roma retornar à Tradição... ou quando ela reconhecer explicitamente o direito de professar integralmente a fé e rejeitar os erros que se opõem a ela.”

Agora, o Padre Ringrose foi por cerca de 30 anos um companheiro de armas para a FSSPX nos EUA, mas ele não a está mais fazendo companhia neste caminho novo e suicida. Eis o que ele escreveu em seu boletim paroquial sobre o estado de espírito expresso neste 11º parágrafo:

"Assim, mesmo que Roma permaneça modernista, leva-nos de qualquer maneira. Estaremos satisfeitos em ser apenas mais um do panteão Conciliar, junto com os hereges, ecumaníacos, panteístas, ou qualquer outra coisa que esteja lá. A Declaração soa como se tivesse havido uma mudança de volta para o que a FSSPX sempre representou, mas a porta para um acordo (entre a FSSPX e Roma) permanece aberta. Nada mudou realmente. Apenas parece diferente. O conteúdo da lata permanece o mesmo. A etiqueta do lado de fora apenas parece um pouco mais com o Arcebispo Lefebvre".

E as pessoas parecem estar votando com seus pés. Consta que havia apenas de 200 a 300 pessoas que participaram da celebração em pequena escala do Jubileu de Prata da própria Fraternidade em Ecône, e quase metade das cadeiras estavam vazias nas ordenações sacerdotais anuais de Ecône. Certamente parece que a traição está tornando a Fraternidade cada vez mais fraca enquanto, na medida em que sacerdotes e fiéis vão acordando para o que está acontecendo, a Resistência vai ficando cada vez mais forte.

Kyrie Eleison.

sábado, julho 06, 2013

Comentários Eleison: Debate Vivaz


COMENTÁRIOS ELEISON  – por Dom Williamson
CCCXII - (312) - 6 de julho de 2013

DEBATE VIVAZ

O problema da autoridade estropiada (veja estes “Comentários” de 1 e 29 de junho) está estimulando algumas vivazes reações entre os leitores. Por um lado, valentes católicos me dizem que EU SOU um Bispo, e por isso devo agir como um bispo e assumir o comando do movimento da “Resistência”. Por outro lado, um valente padre com longa experiência de “sedevacantismo” me adverte de que não devo deixar igrejas paralelas soltas ao consagrar mais bispos, exceto no caso de Guerra Mundial, perseguição física ou velhice paralisante (bem, há aqueles que afirmam que o último já se iniciou...).

É claro que o problema remonta ao Vaticano II, quando bem no fim de um deslize de 700 anos os Padres Conciliares, ao abandonarem a doutrina da Igreja, separaram a Verdade Católica da Autoridade Católica, e ao fazer isso desacreditaram tanto a autoridade oficial da Igreja, que as almas como as mencionadas acima já não veem necessidade disso. Mas a autoridade da Igreja central, dada a diversidade natural e o pecado original de toda a humanidade, é absolutamente necessária para garantir a unidade da Igreja (e com isso a sobrevivência) não somente na verdade, mas também nos sacramentos e no governo da Igreja.

É por isso que um bispo ou padre precisa não somente do poder sacramental de sua Ordenação, poder que ele nunca poderá perder por toda a eternidade, mas também do poder de jurisdição, que é o poder de dizer (dictio) o que se passa, ou o que é certo (ius, iuris). Este segundo poder não acompanha as suas Ordens, e ele não pode dá-lo a si mesmo, pois só pode recebê-lo do alto, de um Superior da Igreja, em última análise do Papa, e o Papa de Deus. Assim, quando almas valentes me dizem que EU SOU um bispo (pelas minhas Ordens), de modo que serei um delinquente se não AGIR como tal, dizendo (dictio) à “Resistência” o que fazer (ius), o mais provável é que elas estejam confundindo os dois poderes distintos do bispo.

No entanto, eles podem estar instintivamente topando com outra doutrina da Igreja e do senso comum, ou seja, a da jurisdição suprida: em caso de emergência, onde por qualquer motivo os Superiores não estão provendo a jurisdição necessária para a salvação das almas, a Igreja supre. Por exemplo, um padre pode não ter nenhuma jurisdição como é normalmente necessário para ouvir Confissões, mas, se o penitente pedir a ele que escute  sua Confissão, então em caso de necessidade o sacerdote pode escutá-la e o sacramento será válido. Agora, é seguro e certo que a grande emergência criada na Igreja pelo Concílio Vaticano II tem até sido agravada pela notória Declaração Doutrinal de meados de abril pelo QG da FSSPX, que é a prova documental do desmoronamento da última fortaleza de pé da verdadeira Fé.

Mas a jurisdição suprida tem uma fraqueza, porque, não sendo oficial, é muito mais aberta a disputas. Por exemplo, a Roma Conciliar nega que haja algo como uma emergência na Igreja criada pelo Concílio Vaticano II, e faz pressão correspondente, com bastante sucesso, sobre a Fraternidade Sacerdotal São Pio X para que se submeta à autoridade conciliar. Tal é a necessidade de autoridade para ser oficial. Mesmo o Arcebispo Lefebvre perdeu talvez um quarto dos sacerdotes que ele ordenou porque ele não tinha poder para impedi-los de simplesmente ir embora. Tal é essa inacreditável crise da Igreja. Portanto, se um sacerdote ou leigo me pede que lhe dê comando, pode ser que ele próprio os conteste alguns meses depois, ou logo que receba o que ele considera ser um comando a que não precisa obedecer.

Mas a crise continua a ser real, e só vai piorar, a não ser que Deus intervenha para trazer o Papa ao seu senso católico, o que Deus fará quando um número suficiente de católicos implorar a Ele que abra os olhos do Papa. Mas, entre o agora e o depois, a emergência cruciante é a de aparar as arestas cada vez mais para fortalecer a autoridade não oficial. Mas que Deus Todo-Poderoso nos ajude a evitar a anarquia desnecessária.

Kyrie eleison.