terça-feira, dezembro 30, 2014

Comentários Eleison: O Bom Senso do Arcebispo - II

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXIX (389) - (27 de dezembro de 2014): 

O BOM SENSO DO ARCEBISPO - II


Em Roma um grande Arcebispo fez, sim, pressão.
Mas o que se há de fazer quando como mingau as mentes dos romanos são?      

            Há doze semanas, os “Comentários Eleison” (de 5 de outubro) apresentaram uma primeira série de trechos da última entrevista pública de Dom Lefebvre, concedida à revista Fideliter no início de 1991. Segue aqui uma segunda e última série de trechos, que foram ligeiramente editados com o fim de lhes dar mais clareza e brevidade:

            Q: Que conclusões nós podemos tirar da Fraternidade Sacerdotal São Pio X depois de vinte anos de sua existência?

            A: O Bom Deus quis a continuidade da Tradição Católica. Estou profundamente convencido de que a Fraternidade é o meio pelo qual Deus quer guardar e preservar a Fé, a verdade da Igreja. Devemos continuar a manter fielmente os tesouros da Igreja, com a esperança de que um dia eles possam reassumir o lugar que nunca deveriam ter perdido em Roma.
           
            Q: O senhor diz frequentemente que, mais que a liturgia, é agora a Fé que nos opõe a Roma moderna.

            A: A questão da liturgia e dos sacramentos é muito importante, certamente; mas questão mais importante é a da Fé. Não é ela, porém, uma questão para nós. Temos a Fé de sempre, do Concílio de Trento, do Catecismo de São Pio X, de todos os Concílios e de todos os Papas antes do Vaticano II. Por anos eles em Roma tentaram mostrar que tudo no Concílio era completamente consistente com essa Tradição. Agora eles estão mostrando quem realmente são ao dizer que não há mais Tradição ou Depósito para se transmitir. Tradição na Igreja é qualquer coisa que o Papa esteja dizendo hoje. Você deve se submeter ao que o Papa e os bispos dizem hoje. Eis a sua famosa ‘Tradição Viva’, que foi a única base para nossa condenação em 1988.
            Agora, eles desistiram de tentar provar que o que dizem é consistente com o que Pio IX escreveu ou com o que o Concílio de Trento promulgou. Não, tudo isso é coisa do passado, perdeu a validade, como disse o Cardeal Ratzinger. Está bastante claro, e eles poderiam ter dito isso antes. Não há sentido algum em nossa conversa, em nossa discussão com eles. Agora nós sofremos por causa da tirania da autoridade, pois não há mais nenhuma das regras do passado.
            Eles estão mostrando mais e mais que nós estamos certos. Estamos lidando com pessoas que têm uma filosofia diferente da nossa, uma maneira diferente de ver, que estão influenciadas por todos os filósofos modernos subjetivistas. Para eles não existe verdade fixa, não há dogma. Tudo está evoluindo. Trata-se realmente da destruição maçônica da Fé. Felizmente, nós temos a Tradição na qual podemos nos apoiar!

            Q: O senhor tem enfatizado que tem certeza de que a Fraternidade é abençoada por Deus, porque por vários motivos ela já poderia ter desaparecido.

            A: De fato. Ela tem se mantido sob ataques muito duros. Isso é muito doloroso, mas devemos, no entanto, acreditar que a linha da Fé e da Tradição que estamos seguindo é imperecível, pois Deus não pode permitir que a Sua Igreja pereça.   
            Q: O que o senhor pode dizer para aqueles fiéis que mantém esperança de que haja um acordo com Roma?

            A: Nossos verdadeiros fiéis, aqueles que compreenderam o problema e que precisamente têm nos ajudado a seguir adiante o reto e firme caminho da Tradição e da Fé, me disseram que as aproximações que eu estava fazendo em direção a Roma foram perigosas, e que eu estava perdendo meu tempo. No entanto, eu esperei até o último minuto que pudéssemos presenciar um pouco de lealdade em Roma, e assim não posso ser culpado por não ter feito o máximo possível. Portanto, agora também, para aqueles que me dizem: “O senhor tem de chegar a um acordo com Roma”, eu acho que agora posso também dizer que fui ainda mais longe do que deveria ter ido.

Kyrie eleison.

domingo, dezembro 21, 2014

Comentários Eleison: Choro dos Salmistas

 Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXVIII (388) - (20 de dezembro de 2014): 


CHORO DOS SALMISTAS

Se nos tempos antigos o Povo de Deus pôs-se a por auxílio chorar.
Que se dirá dos dias de hoje – precisa ele gritar.

            A época da vinda de Nosso Redentor entre nós é certamente um momento adequado para lembrar-nos do quanto nós precisamos de Deus. É claro que sempre foi assim. Antes de Cristo, Deus veio ao cada vez mais perverso mundo pagão especialmente para os Israelitas com o Antigo Testamento a fim de preparar a chegada de Seu próprio Filho. Aqui está o Salmo 43, quase se aplica em sua integralidade tanto aos israelitas quanto aos católicos, os povos de Deus no Antigo e no Novo Testamentos (Tradução da Vulgata por Matos Soares, com títulos e parênteses acrescentados):

A. DEUS COSTUMAVA PROTEGER SEU POVO.

1 Ao mestre do coro. Dos filhos de Coré. Maskil. 2 Nós, ó Deus, ouvimos com os nossos próprios ouvidos, nossos pais contaram-nos a obra que fizeste nos seus dias nos tempos antigos. 3 Tu, com a tua mão, expulsas as gentes (pagãs), os estabeleceste a eles (nossos pais) [em seu lugar (dos pagãos)]; destruídas as nações os dilataste (nossos pais). 4 Porque não foi com a sua espada que conquistaram (nossos pais) este país, nem foi o seu braço que os salvou, mas a tua dextra e o teu braço, e a serenidade do teu rosto, porque os amaste. 5 Tu és o meu rei e o meu Deus, tu que deste as vitórias a Jacó. 6 Por ti rechaçamos os nossos adversários, e em teu nome calcamos os nossos agressores. 7 Porque não foi no meu arco que pus confiança, nem fui a minha espada que me salvou. 8 Mas foste tu que nos salvaste dos nossos adversários, e confundiste os que nos tinham ódio. 9 Em Deus nos gloriávamos sem cessar, e o teu nome celebrávamos sempre.

B AGORA ELE OS REJEITOU.  

10 Mas tu agora repeliste-nos e cobriste-nos (israelitas) de confusão, já não sais, ó Deus, à frente dos nossos exércitos. 11 Fizeste-nos ceder diante dos nossos adversários, encheram-se de despojos. 12 Entregaste-nos como ovelhas para o matadouro, e dispersaste-nos entre as nações. 13 Vendeste o teu povo por preço vil e pouco lucraste em o ter vendido. 14 Tornaste-nos o opróbrio dos nossos vizinhos, e um objeto de escárnio e zombaria para aqueles que estão ao redor de nós. 15 Fizeste de nós a fábula das nações, os povos abanam a cabeça, escarnecendo de nós. 16 A minha ignomínia está todo o dia diante de mim, e o meu rosto cobre-se de confusão, 17 à voz do que me afronta e vitupera, por causa do inimigo e do opressor.

C NÓS AINDA SOMOS FIÉIS.

18 Todas estas coisas vieram sobre nós, e, ainda assim, não nos temos esquecido de ti, nem violamos o teu pacto (mosaico). 19 Nem o nosso coração tornou atrás [para seguir os falsos deuses], nem se desviaram os nossos passos do teu caminho. 20 Quando nos humilhaste no lugar da aflição, e nos cobriste de trevas. 21 Se tivéssemos esquecido o nome do nosso Deus, e tivéssemos estendido as mãos para algum deus estranho, 22 porventura Deus não teria averiguado tudo isto? Ele que conhece os segredos do coração.

D Ó DEUS, VINDE EM NOSSO AUXÍLIO!

23 Mas, por amor de ti, somos entregues à morte todos os dias, somos considerados como ovelhas para o matadouro. 24 Desperta! Por que dormes, Senhor? Acorda! Não nos rejeites para sempre! 25 Porque escondes o teu rosto? [Por que] te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão? 26 Porquanto a nossa alma está humilhada até ao pó, e o nosso peito está como que pegado à terra. 27 Levanta-te, Senhor, em nosso auxílio, e livra-nos pela tua misericórdia. (Fim do Salmo 43.)

            Em outras palavras, houve um tempo em que Deus elevou Sua Igreja Católica a grandes alturas. Mas hoje ela está se fazendo o motivo de riso do mundo, ao ponto de alguém poder quase ter vergonha de ser um católico. No entanto, ainda existem católicos fiéis. Ó Deus, vinde em seu auxílio! Ó Deus, vinde em nosso auxílio!


Kyrie eleison.

segunda-feira, dezembro 15, 2014

Comentários Eleison: Distinções Necessárias

Comentários Eleison – por Dom Williamson
  CCCLXXXVII (387) - (13 de dezembro de 2014):  

DISTINÇÕES NECESSÁRIAS


O Concílio trabalha desde perigosos cinzas que preto tendem a se tornar.
Um católico procura o branco para do bom caminho não se desviar.

            O princípio de que o câncer de fígado me matará sem que eu tenha necessariamente câncer de pulmão (cf. CE de 29 de novembro) é incômodo, porque significa que eu posso precisar fazer distinções em vez de me comprazer com condenações generalizadas; mas as distinções são de senso comum, e correspondem à realidade. Assim, na atual confusão universal, para que eu me mantenha em contato com a realidade, há momentos em que preciso reconhecer que uma mistura de bem e mal será má na sua totalidade, mas isso não significa que suas partes boas, como partes, sejam más, nem que o que há de bom nas partes boas faça com que o todo seja bom.

            Tomem por exemplo a Missa Novus Ordo. O novo Rito, na sua totalidade, diminui tanto a expressão das verdades católicas essenciais (a Presença Real, o Sacrifício, o sacerdócio sacrificante, etc.), que é também tão mau na sua totalidade que nenhum padre deveria usá-lo, e nenhum católico deveria comparecer a ela. Mas isso não quer dizer que aquela parte da Missa que é a Forma sacramental de Consagração do pão e do vinho seja má ou inválida. “Este é o meu Corpo” é certamente válido, “Este é o cálice do meu Sangue” é muito provavelmente válido, e certamente não é invalidado pelo novo rito que é tão não católico em sua totalidade. Portanto, se eu digo que a nova Missa deve ser sempre evitada, estou dizendo a verdade; mas se digo que ela é sempre inválida, não estou dizendo a verdade, e mais cedo ou mais tarde eu pagarei o preço por ter exagerado.  

               Com o novo Rito de Ordenação sacerdotal se dá de modo similar. O novo Rito tem, em sua totalidade, reduzido severamente a expressão das verdades essenciais do sacerdócio católico, especialmente em relação ao que é um sacerdócio sacrificante, mas aquela parte do novo Rito que é a Forma sacramental é, ao menos na nova versão em latim, mais forte (pelo “et” em vez do “ut”) que a antiga versão em latim. Por isso, assumindo que o bispo ordenante é um verdadeiro bispo, e que tem a verdadeira Intenção sacramental, simplesmente não é correto dizer que nenhum sacerdote ordenado no novo Rito possa ser um verdadeiro sacerdote. E se alguém o diz, mais cedo ou mais tarde pagará um preço por se afastar da verdade.  

            Agora, a partir da descatolicização desses dois novos Ritos em sua totalidade, ainda que não se possa argumentar que suas Formas sacramentais sejam inválidas, se pode certamente argumentar que no fim elas arruinarão e invalidarão a Intenção sacramental do sacerdote ou do bispo. Mas esse é um argumento diferente, não mais em preto e branco, mas, infelizmente, em cinza. Por exemplo, o argumento é que o uso constante dos Ritos descatolicizantes irá lentamente alterar tanto a noção do sacerdote ou do bispo sobre o que a Igreja faz com aqueles Ritos, que, no fim, um ou outro não mais terá a Intenção católica de fazer o que a Igreja faz – Intenção que é necessária para a validade do sacramento. Em outras palavras, o branco está a se tornar gradualmente preto, tendo, para isto, de passar pelo cinza. Mas quem mais além do Deus Todo Poderoso pode saber com certeza quando o cinza se tornará preto? Mais uma vez, eu devo ter cuidado se quero discernir e conhecer a verdade.

            Esse jogo entre o branco e o preto, essa ambiguidade, é o que é propriamente diabólico na reforma conciliar dos Ritos sacramentais. Se eu desejo dizer a verdade, não direi ainda que eles já destruíram os sacramentos católicos, mas que certamente eles os estão solapando; e assim, se eu desejo manter a Fé católica, certamente os evitarei em sua totalidade.

Kyrie eleison.

segunda-feira, dezembro 08, 2014

Comentários Eleison: Conselho para a Resistência

Comentários Eleison – por Dom Williamson
 CCCLXXXVI - (386) - (6 de dezembro de 2014): 

CONSELHO PARA A RESISTÊNCIA


A “Resistência” poderá ou não ser estruturada,   
Mas o sofrimento será seu preço e sua marca registrada

            Chegou recentemente em minha mesa uma preciosa troca de e-mails que, tenho certeza, será apreciada por muitas almas tendo em vista suas difíceis circunstâncias atuais. Trazem um problema por que passa uma típica moradora de cidade do século XXI, que tem a Fé, mas se sente abandonada. Uma solução apresentada aqui se baseia em uma profecia de Nossa Senhora datada do século XVII! Primeiramente, o problema:

“Sou uma enfermeira da Alemanha com quarenta e oito anos de idade. Há doze anos entrei para um convento e gostei muito. Busquei aprofundar minha relação com Deus, mas depois de dez anos tive de sair de lá por causa do modernismo. Não consegui fazer meus votos finais porque a Comunidade estava longe da Verdade. Pensei que ao sair estaria agradando meu Pai celestial e me tornando um tipo de heroína a Seus olhos, mas agora estou muito triste, e me sinto abandonada por Deus, não mais como uma heroína.

            Há dois anos consegui um emprego no hospital onde trabalhava antes de entrar para o Convento, mas eis que aqui estou, de volta ao mundo onde as pessoas que me rodeiam são ignorantes ou modernas, onde praticamente ninguém tem fé alguma; e se alguém a tem, não sabe por quê. Já estou muito velha para poder encontrar um emprego mais perto dos sacramentos. O trabalho por turnos me impede de ir à Missa todos os domingos. Para chegar à Missa mais próxima se gasta uma hora de carro. Assim, aqui estou eu, sentada no escuro, com pouco acesso aos sacramentos. A situação na Igreja e no mundo é tão confusa que eu simplesmente não sei o que fazer. Qual a maneira de sair da escuridão? Aonde devo ir para descobrir o que devo fazer da minha vida?”

            E agora, em resposta ao problema, o conselho que muitos de nós que estamos na Resistência entre aspas tentando suportar a apostasia em todo o mundo, podemos guardar no coração:

            “Cara amiga, em 1634, no Equador, Nossa Senhora deu a uma freira santa uma orientação quase como que dirigida a nós nestes tempos profanos, nos quais recebemos a bênção de viver (ainda que eles não nos façam sentir que se trate realmente de uma bênção). Ela prometeu que aqui sempre existiriam, apesar da apostasia mundial, almas que permaneceriam fieis e preservariam as virtudes e o tesouro da Fé. Mas elas sofreriam um cruel, indizível e prolongado martírio. Disse ela: ‘A fim de libertar os homens da escravidão das heresias que os rodeiam, as almas escolhidas por meu Santíssimo Filho para efetivar a restauração precisarão de grandes doses de força de vontade, constância, coragem e confiança em Deus. Para sejam postas à prova essa fé e confiança dos justos, virão momentos em que tudo parecerá perdido. Este será então o feliz início da restauração’.

            Há um excelente resumo dessa mensagem de Nossa Senhora na internet em: OUR LADY OF GOOD SUCCESS: prophetic revelations made to Venerable Mother Mariana de Jesus Torres [NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO: revelações proféticas feitas à Venerável Madre Mariana de Jesus Torres].    

            Muitos de nós nos encontramos em circunstâncias similares às suas. Estamos privados do auxílio e da força que provêm de uma comunidade cercada por nossos irmãos católicos com uma regra e um Superior que nos guiem. Embora eu não tenha feito votos religiosos, me causa um tremendo sofrimento essa privação dos Sacramentos, dos sacerdotes e dos irmãos católicos, e encontrar-me tendo de trabalhar no mesmo mundo que meu coração, minha mente e minha alma rejeitam. Mas esse é o sofrimento que Deus está permitindo para muitos de nós, e é justamente o sofrimento que devemos abraçar, estando em união com Sua vontade para cada um de nós, unindo nossos sofrimentos àqueles que nosso amado Salvador sentiu e ofereceu por nós. Ao agir assim, nós somos atraídos a Ele como seus pequeninos. Ele não se esqueceu de você. Pelo contrário, por tudo o que estiver a suportar, você estará dando ao Seu Sagrado Coração e ao Imaculado Coração de Maria muito consolo necessário, e talvez possa obter graças para aqueles que perderam a Fé”.

Kyrie eleison

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Comentários Eleison: Papas Viventes

Comentários Eleison – por Dom Williamson
  CCCLXXXV (385) - (29 de novembro de 2014):  

PAPAS VIVENTES

A Igreja precisa de Papas vivos, ainda que maus eles sejam.
Não conseguirão exterminá-la, por mais loucos que estejam.

            Em 29 de janeiro de 1949, o Papa Pio XII fez as seguintes observações sobre a importância do Papa: Se algum dia – falando puramente de modo hipotético – a Roma material colapsar; se algum dia forem enterrados sob as ruínas desta basílica Vaticana, símbolo da única vitoriosa e una Igreja Católica, os tesouros históricos e tumbas sagradas que ela guarda, ainda assim a Igreja não estará demolida ou dividida. A promessa de Cristo a Pedro se manterá verdadeira, o papado durará para sempre, assim como a Igreja, una e indestrutível, fundada sobre o Papa então vivente”.

            Como essas palavras são doutrina clássica da Igreja (apenas o sublinhado foi acrescentado), a repousar como o fazem sobre as próprias palavras de nosso Senhor (Mt 16, 16-18), não é então de se estranhar que desde 1962, quando os papas viventes se tornaram conciliares, milhões e milhões de católicos foram continuamente induzidos a se tornarem do mesmo modo conciliares e liberais. Os sedevacantistas só podem ver uma única saída para o problema, que é negar absolutamente que os Papas conciliares sejam Papas. Isto pode parecer ser senso comum, mas para a maioria dos católicos parece ainda mais ser senso comum que a Igreja designada por Deus para repousar sobre o Papa vivente não pode ter existido no decorrer da última metade do século (1962-2014) sem este.  

            É fácil ver como o declínio da civilização cristã desde o auge da Idade Média levou à presente corrupção dos Papas viventes. É fácil ver como Deus pode ter permitido essa espantosa corrupção para punir esse espantoso declínio. O que é menos fácil de ver é como a Igreja pode continuar viva quando os Papas viventes nos quais ela está fundada estão convencidos de que o liberalismo, que é guerra contra Deus, é católico. Nas próprias palavras de Nosso Senhor: Não pode uma árvore boa dar maus frutos nem uma árvore má dar bons frutos (Mt 7, 18).  
           
            Mas uma árvore metade boa e metade má pode produzir frutos metade bons e metade maus. No entanto, se vista como um todo, uma mistura de bem e mal é má, mas isto não significa que, ao ser vista parte por parte, as boas partes da mistura sejam más como as partes más. Um câncer no fígado me matará, mas isso não significa que eu tenha câncer nos pulmões. Ora, nenhum homem da Igreja vivente, como qualquer homem vivo, é completamente bom ou completamente mau. Nós todos somos uma mistura flutuante até o dia em que morremos. Pode então já ter havido um Papa vivente cujos frutos foram completamente maus? Só há uma resposta possível: não. Deste modo, a Igreja Católica pode ter vivido a metade dos últimos cinquenta anos sobre a metade boa dos frutos dos Papas conciliares, e Deus permitiu essa vida pela metade a fim de que a Sua Igreja fosse purificada, sem, no entanto, jamais deixar que isso vá tão longe a ponto de liquidá-la.  

            Assim, por exemplo, Paulo VI chorou pela ausência de vocações. Bento XVI aspirou à Tradição. Mesmo o Papa Francisco certamente pretende levar o homem a Deus quando ele rebaixa Deus ao nível dos homens. Portanto, os Papas conciliares estão terrivelmente equivocados em suas ideias, fatalmente ambíguas na Fé onde há a necessidade de que ajam absolutamente sem ambigüidades, e a Igreja esteve e está morrendo sob eles; mas quaisquer partes neles que ainda sejam boas têm possibilitado que a Igreja prossiga, e eles têm sido necessários como cabeças viventes para dar continuidade ao corpo da Igreja vivente, tal como disse Pio XII. Então não temamos que a eles seja permitido exterminar a Igreja, mas vamos de nossa parte lutar contra seu liberalismo com unhas e dentes, e orar por seu retorno à sanidade católica, pois nós precisamos deles para a vida de nossa Igreja

Kyrie eleison.

segunda-feira, novembro 24, 2014

Comentários Eleison: Quadragésimo Aniversário



Comentários Eleison – por Dom Williamson
  CCCLXXXIV (384) - (22 de novembro de 2014):  

QUADRAGÉSIMO ANIVERSÁRIO


Há quarenta anos um grande Arcebispo analisou a doutrina conciliar,
“Não” – foi o que se ouviu ele falar.

            Ontem foi o quadragésimo aniversário da histórica Declaração de Dom Lefebvre de 21 de novembro de 1974 sobre as razões pelas quais ele e os sacerdotes e leigos que o seguiam se viram na obrigação de se manterem contra as completas mudanças da Igreja Católica e o remodelamento da religião com o despertar do Segundo Concílio Vaticano. A Declaração é tão fresca hoje como foi no dia em que foi escrita, porque a verdadeira religião católica de Deus é imutavelmente verdadeira, ao passo que a religião conciliar do homem é resolutamente falsa, e está mais que nunca a ocupar Roma.

            A Declaração consiste de dez breves parágrafos, o que dá, ao todo, pouco mais de cinquenta linhas: 1- Nós aderimos à Roma Católica, à Roma eterna. 2- Nós recusamos a Roma conciliar, neoprotestante e neomodernista. 3- A reforma conciliar está destruindo a Igreja Católica e diminuindo a nossa Fé católica, 4- algo que nem mesmo um anjo do Céu tem o direito de fazer (Gálatas 1, 8). 5- Escolhemos a Tradição, e recusamos as inovações. 6- Tudo na Igreja está sendo renovado de uma maneira oposta à doutrina católica milenar. 7- A reforma conciliar, que provém da heresia e resulta em heresia, é inaceitável para os católicos, então 8- continuaremos a formar sacerdotes tradicionais. 9- E aderimos às práticas e ensinamentos católicos de todos os tempos, 10- convencidos de que apenas agindo deste modo nos manteremos verdadeiramente como fieis católicos.

            Observe primeiramente a clara e precisa distinção (1 e 2) entre a Roma católica e a Roma conciliar. Ora, é certo dizer que a Roma conciliar está ocupando as estruturas da Roma católica; mas dizer que a Igreja conciliar, por conseguinte, não é outra que a Igreja Católica é tão tolo quanto dizer que um cuco é um rouxinol porque ocupa um ninho de rouxinol. (E dizer que o Arcebispo escreveu sobre a “Roma” católica e conciliar e não sobre a “Igreja” católica e conciliar é fazer uso de artimanhas com palavras.)

            Mas como o Arcebispo conseguiu distinguir entre o cuco conciliar e o rouxinol católico? Pela doutrina! O conciliarismo é neoprotestante e neomodernista (2). Nossa está sendo diminuída (3) em oposição à doutrina católica (6); o conciliarismo é heresia (7). Nos aderimos ao ensinamento católico (9). E as referências do Arcebispo à doutrina vão além do que oferece o resumo acima. A doutrina católica era a Estrela do Norte de sua mente e de suas ações. Mas é pelo fato de o homem moderno querer liberdade para sua mente e suas ações que ele, com efeito, quer que sua mente seja reduzida a mingau, e então a doutrina passa a não ter mais que uma função meramente decorativa. Ela não tem mais autoridade sobre a ação do homem, exceto a única e desastrosa doutrina que ensina que a doutrina não é importante. E esta desastrosa doutrina tem total autoridade. Eis porque o Arcebispo está sendo reduzido dentro da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que ele mesmo fundou, a pouco mais que uma mascote decorativa.

            Somos então impelidos a perguntar: o que é necessário para que se promova a restauração da autoridade da doutrina, o senso de realidade e o amor da verdade na Fraternidade, na Igreja e no mundo? Sofrimento, seguramente, não menos. Soljenítsin observou certa vez que só a alavanca de ferro dos eventos poderá arrebentar a camada de concreto que o homem moderno construiu em volta de seu pecaminoso estilo de vida. Verdadeiramente, Senhor tem misericórdia.

Kyrie eleison.

domingo, novembro 16, 2014

Comentários Eleison: História Interna - V

Comentários Eleison – por Dom Williamson
 CCCLXXXIII  (383) - (15 de novembro de 2014): 

HISTÓRIA INTERNA – V


Três bons jovens foram arrastados para o gelado lago mortal. 
Demos atenção a Nossa Senhora até nosso suspiro final.    

            Na ocasião em que o plano de Dom Fellay para salvar em longo prazo a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e a Igreja – a saber, a reconciliação por meio de uma fusão entre a Tradição e o Concílio – foi por água abaixo em janeiro de 2009 pela ação da publicidade mundial mediante as opiniões totalmente “politicamente incorretas” de um colega da FSSPX, alguém poderia até ter simpatizado com ele, se a tal fusão não fosse um sonho impossível. Mas a própria religião católica de Deus se mescla com sua imitação conciliar, “fruto do trabalho de mãos humanas”, como o óleo se mistura com a água, ou a verdade com a falsidade. Os católicos cuja memória consegue remontar o ano de 1988, porém, poderão se lembrar de Dom Lefebvre a taxar qualquer esforço nesse sentido como “Operação Suicídio” para a FSSPX; suicídio primeiramente para a FSSPX, mas também para o que quer que a FSSPX tenha feito pela Igreja Universal.

            Eis porque os católicos de mente esclarecida deram um grande suspiro de alívio quando, naquele mês, a Providência usou os inimigos da Igreja e sua grande mídia mundial a fim de torpedear os esforços conjuntos de Bento XVI e Dom Fellay para fundir o Concílio e a Tradição. E tais católicos puderam ter uma dramática mas discreta confirmação da Providência de que eles estavam a pensar corretamente.

            O “levantamento” por Bento XVI das “excomunhões” de 1988 dos quatro bispos da FSSPX declaradas por Roma imediatamente após suas sagrações, foi diretamente atribuído por Dom Fellay, em público, à intervenção de Nossa Senhora, graças à segunda Cruzada do Rosário da FSSPX no fim de 2008. No entanto, ela havia dito a ele por meio de sua mensageira no início do mesmo ano que, se a Cruzada não fosse dessa vez realizada na intenção da Consagração da Rússia, ela usaria os rosários rezados para algum outro propósito. Ora, se essas mensagens são verdadeiras, o Céu não poderia ter aceito tão gentilmente que Cruzada tenha sido manipulada pela política da Igreja na celebração em Lourdes do Jubileu da FSSPX em outubro de 2008.

            De qualquer modo, quando em 11 de fevereiro de 2009, três semanas depois do “levantamento”, seminaristas da casa-mãe da FSSPX em Écône, na Suíça, estavam fazendo uma excursão recreativa nas montanhas próximas, três deles foram pegos por uma avalanche, arrastados pela encosta abaixo e afogados em um lago gelado da montanha. E o que é o 11 de fevereiro? É o dia da festa de Nossa Senhora de Lourdes.

            Mera coincidência? Ou o Céu a falar através de eventos, a apontar uma simples correspondência entre a história interna dessas mensagens e a história externa da primeira das duas Cruzadas de Rosário? Os leitores que julguem por si mesmos. Se eles estão convencidos de que a Neofraternidade está no caminho certo quando busca a aprovação oficial da Neoigreja, não terão dificuldade em descartar essa série de mensagens supostamente do Céu como mais uma “revelação privada” que não merece consideração séria. Por outro lado, se para seu juízo tanto a Neofraternidade quanto a Neoigreja estão no caminho errado, então fará sentido que, por estar o mundo na iminência de um desastre inimaginável após ter negligenciado a Consagração da Rússia, Nossa Senhora tenha feito mais uma tentativa de obter essa Consagração por meio das orações lançadas pela FSSPX.    

            Não é que a FSSPX tenha sido sempre a salvação da Igreja, mas se suas orações fossem corretamente direcionadas, então, tal como Nossa Senhora deu a entender à sua mensageira, ela poderia ter conseguido de seu Filho as graças necessárias para obter essa Consagração, e por esta ela poderia ter salvo a FSSPX, a Igreja e o mundo. Mas não faz sentido agora “chorar pelo leite derramado”; pratique-se a devoção dos Primeiros Sábados, especialmente por amor a Nossa Senhora. Ela não desistirá de tentar nos salvar.


Kyrie eleison. 

segunda-feira, novembro 10, 2014

Comentários Eleison: História Interna - IV

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXII (382) - (8 de novembro de 2014):  

HISTÓRIA INTERNA – IV


Os planos romanos do bispo estavam sendo executados
Até que a Providência interveio, e eles foram refreados.


            Chegamos então ao clímax da história interna dos eventos externos das Cruzadas de Rosário da Fraternidade Sacerdotal São Pio X de seis anos atrás. Deveria Dom Fellay escolher a solução do Céu para a crise da Igreja e do mundo, confiando na promessa de Nossa Senhora em Fátima da conversão da Rússia e de um “período de paz” apenas se houver a Consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração; ou deveria ele escolher a solução humana de conversações com Roma para seja fabricada uma síntese da Tradição (2+2=4) com o Concílio (2+2=4 ou 5)? Podemos ter certeza de que não foi assim que o Demônio apresentou a escolha ao bispo, especialmente quando em junho de 2008 os romanos voltaram ao jogo.
           
            Naquele mês o Vaticano tomou conhecimento da possível Cruzada de Rosário para a Consagração da Rússia por meio de uma carta em que a mesma mensageira de Nossa Senhora havia endereçado ao Papa Bento XVI, pedindo sua bênção para a tal empresa. O Vaticano levou a carta a sério. O Cardeal Darío Castrillón Hoyos ordenou a Dom Fellay que retornasse diretamente para Roma do Havaí, onde Sua Excelência tinha ido administrar o sacramento da Confirmação. Em 4 de junho, o Cardeal Castrillón com um grupo de vários prelados romanos ameaçaram Dom Fellay, dizendo que se ele convocasse os fieis para uma Cruzada de Rosário pela Consagração da Rússia, Roma fecharia as portas para qualquer discussão futura e restabeleceria as dormentes “excomunhões”, que naquele momento haviam sido declaradas inoperantes. Isso se deu também no mesmo período em que o Vaticano tentou impor a Dom Fellay o “Ultimato Vaticano”, ou seja, as cinco condições necessárias para qualquer discussão.

            Assim, sob essa pressão romana no início do outono de 2008, Dom Fellay seguia sem decidir se fazia como Nossa Senhora havia pedido, apesar de suas repetidas solicitações. E de fato, em 5 de outubro de 2008, apesar de advertências diretas por parte dela, ele decidiu por em prática a Segunda Cruzada de Rosários, que se estenderia desde primeiro de novembro até o Natal, com a intenção de que as “excomunhões” de 1988 fossem levantadas. Naquele mesmo dia, Nosso Senhor concedeu uma demonstração de Sua ira para a mensageira de Nossa Senhora por meio de uma visão em que Ele descia Sua mão para destruir a FSSPX, enquanto se referia aos seus membros como “Fariseus e hipócritas”; e ali disse: “Eu não irei mais suportá-los”. Mas no exato momento em que a mão de Nosso Senhor caía, a mensageira viu a Santíssima Virgem Maria intercedendo em favor da Fraternidade, implorando misericórdia e dizendo: “Lembre-se da fraqueza dos homens”. A mensageira viu então a ira de Nosso Senhor ser substituída por Sua misericórdia.

            Mas a mente do bispo já havia tomado a decisão. Três semanas depois, em 26 de outubro, na Missa Pontifical que foi o auge da peregrinação da Fraternidade a Lourdes pelo centésimo qüinquagésimo Jubileu das aparições de Nossa Senhora em Lourdes, ele levou adiante o anúncio de que a segunda Cruzada de Rosários seria dedicada ao levantamento das “excomunhões” de 1988. Em 16 de dezembro ele escreveu em privado ao Papa, como fora requerido por Bento XVI, uma carta em que pedia o levantamento das excomunhões de 1988. Em 24 de janeiro de 2009, elas foram parcialmente levantadas por Roma. Dom Fellay atribuiu isso diretamente à intervenção de Santíssima Virgem Maria, e deve ter se exultado por este aparente triunfo de sua paciente diplomacia.

            Infelizmente o tal triunfo durou pouco, porque em poucos dias os inimigos da Tradição católica abriram fogo, usando a grande mídia mundial como um torpedo perfeitamente projetado para explodir na água a ameaçadora reunião do Papa católico com a Tradição católica. Quando foi tornado público o vídeo de seis minutos de 1 de novembro onde um bispo da FSSPX lançava sérias dúvidas sobre o ‘holocausto’ e as ‘câmeras de gás’ da Segunda Guerra Mundial, Bento XVI teve de correr para acobertar a mortal acusação de estar associado a “antissemitas”. O acordo FSSPX-Roma foi então bloqueado, ao menos por mais uns poucos anos. (A seguir, a conclusão).


Kyrie eleison

domingo, novembro 02, 2014

Comentários Eleison: História Interna - III

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXI (381) - (1 de novembro de 2014):  


HISTÓRIA INTERNA – III


O Vaticano II, tal como o mundo moderno, está errado.
E o bispo F.? Desde há muito tempo, enganado.

            Algum conhecimento de fundo é necessário para darmos continuidade à história das mensagens de Nossa Senhora ao Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) transmitidas há seis anos. O Vaticano II (1962-1965) arrancou a Igreja Católica de seu curso para tentar conciliá-la com um mundo moderno sem Deus. Dom Lefebvre (1905-1991) fundou a FSSPX em 1970 na intenção de ajudar católicos a se manterem no curso, e por vinte e um anos ele obteve êxito. Mas logo depois de sua morte, seus jovens sucessores começaram a sonhar de fato com uma reconciliação entre a Fraternidade e a Roma conciliar, equivocadamente convencidos (ou iludindo a si mesmos, Deus o sabe) de que eles ainda o estavam seguindo.

            Em 2000, os líderes conciliares voltaram suas atenções para a FSSPX, por ela ter realizado com sucesso uma peregrinação à Basílica de Roma na ocasião do ano do Jubileu. Contatos públicos (em oposição a privados) foram restabelecidos entre a FSSPX e os romanos, que agora estavam a tragar aquela mesma Fraternidade que até então eles tinham se mostrado incapazes de cuspir. “Vamos conversar”, disseram eles. Os líderes da FSSPX pareciam cautelosos: “Os senhores devem provar a sua boa vontade, liberando a Missa Tridentina e levantando as excomunhões impostas aos bispos da Fraternidade consagrados em 30 de junho de 1988”. Pouco aconteceu desde então, ao menos publicamente, por causa da ideia de ambas as partes sobre a necessidade do amadurecimento da reconciliação; mas em 2006, Dom Fellay, quem esteve liderando o processo de reconciliação, foi reeleito Superior Geral. Como já vimos, isto se deu pouco depois de Nossa Senhora começar a intervir com as mensagens cuja história estamos a contar.

            Em 2006, seu desejo por uma Cruzada de Rosários pela Consagração da Rússia foi adotado por Dom Fellay, que, porém, o redirecionou visando à satisfação da primeira pré-condição para as conversações com Roma: a liberação da Missa. Em 2007, Bento XVI satisfez parcialmente esta pré-condição com seu Motu Proprio. Regozijando-se como se estivesse em plena satisfação, Dom Fellay voltou-se para a segunda pré-condição: o levantamento das excomunhões; enquanto Nossa Senhora, imediatamente após o Motu Proprio, em agosto de 2007, começou a enviar-lhe uma série de mensagens solicitando insistentemente que uma segunda Cruzada de Rosários fosse dedicada à Consagração da Rússia. Mas o próprio Dom Fellay não quis se comprometer, pois sabia que essa Consagração não agradaria aos romanos. Eles queriam conversar, o que foi então aceito pelo bispo, a fim de reconciliar o irreconciliável: o Vaticano II e a Tradição Católica.
Podemos agora prosseguir com a história.

            No início de 2008, Nossa Senhora, ao ver que Dom Fellay continuava a hesitar, enviou uma mensagem na qual dizia-lhe com muita firmeza que “não usasse a (segunda) Cruzada na intenção de levantar as excomunhões”, e que se ele o fizesse “seria fatal para a Fraternidade Sacerdotal São Pio X”. Ela acrescentou que não abençoaria tal esforço, e que em vez disso usaria os rosários rezados pelos fieis para outros propósitos. E em 22 de março, no Sábado Santo, suas palavras foram mais específicas: “Diga a Dom Fellay que ele não pode dar mais nem um passo para se aproximar de Roma, por mais bem intencionado que o Santo Padre possa estar”. E reiterou: “Lembre-se: por mais bem intencionado que o Santo Padre possa estar”.       

            Vamos interromper novamente a história para ressaltar o quão pertinente essa mensagem foi para a defesa da Fé, e quão perfeitamente essa história interna corresponde aos fatos externos. Na liderança do último bastião mundial da verdadeira Fé, Dom Fellay começou a ser tentado a submetê-lo aos romanos conciliares, terríveis inimigos da Fé. Por não entender o mundo moderno, o bispo acredita que a Igreja Conciliar é a Igreja Católica, e confia nas boas intenções de suas autoridades (Dom Lefebvre, ao contrário, depois de anos de negociações com as autoridades romanas, descreveu-as – em privado – como “uma serpente”). Então, se essa história interna é verdadeira, e se Dom Fellay tomou a decisão errada, a FSSPX está condenada. Foi isso o que aconteceu? (Continua.)


Kyrie eleison. 

sábado, outubro 25, 2014

Comentários Eleison: História Interna - II

Comentários Eleison – por Dom Williamson


CCCXXX (380) - (25 de outubro de 2014):  

 HISTÓRIA INTERNA - II
            Quando a Dom Fellay foi apresentada pela primeira vez a ideia de uma Cruzada do Rosário pela Consagração da Rússia, em junho de 2006, ele ainda não sabia que ela era de fato uma diretiva de Nossa Senhora – a mensageira estava tímida demais para dizê-lo a ele. Então, na ocasião de seu retorno à Suíça, logo após o encontro com a mensageira, e sem saber que estava agindo contra a vontade do Céu, ele decidiu concordar com a ideia de uma Cruzada, mas para oferecê-la primeiramente pela liberação da Missa Tridentina, deixando a Consagração da Rússia entre as intenções secundárias. Nossa Senhora disse então à sua mensageira, que ela abençoaria a primeira Cruzada como um sinal de que as mensagens provinham realmente dela, mas que isso não se daria para confirmar que a liberação da Missa fosse realmente o que ela queria. A verdadeira resposta à crise da Igreja e do mundo estava na Consagração da Rússia, como logo ficaria muito claro para o bispo.
           
            Então, dada a resposta de Nossa Senhora, a primeira Cruzada obteve um inesperado sucesso, tanto no número de rosários rezados pelos fieis, como no cumprimento do desejo de longa data de Dom Fellay com a declaração no Motu Proprio de julho de 2007 de que a Missa Tridentina nunca havia sido revogada, emitida pelo Papa Bento XVI.

            Contudo, já em agosto de 2006, Nossa Senhora orientou sua mensageira para enviar a Dom Fellay uma carta para que dessa vez ele fosse informado completamente de todos os detalhes de seu pedido original, inclusive de que este vinha do Céu. A essa carta o bispo respondeu positivamente, dizendo que iria usar o impulso da primeira Cruzada para lançar a segunda, e que seria melhor se ele mesmo assumisse a questão. Porém, um ano mais tarde, logo depois do Motu Proprio e até o final de 2007, Nossa Senhora orientou a mensageira a mais uma vez escrever para ele, e novamente, para lembrá-lo do desejo dela de que a segunda Cruzada fosse dedicada propriamente à Consagração da Rússia.

            Mas Dom Fellay continuou hesitando em comprometer-se, e então, no início de 2008, Nossa Senhora voltou ainda mais insistentemente a reiterar o pedido para que a Cruzada fosse dedicada à Consagração. O problema de Dom Fellay foi que ele já vinha trabalhando há um longo tempo em seu próprio plano para resolver a crise da Igreja por meio de uma reconciliação entre a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e Roma; e o pedido de Nossa Senhora não se encaixava nesse plano. Assim, quanto mais progresso ele parecia fazer com os romanos em direção à reconciliação, mais difícil se tornava pra ele manter sua promessa de fazer o que ela pedia, porque ele sabia que o que ela pedia desagradaria aos romanos. De fato...

            Foi nessa época que a mensageira, sem conhecer o motivo pelo qual o bispo continuava sem atender ao pedido de Nossa Senhora, perguntou a ela se isto estava a se dar porque o bispo não tinha certeza de que o pedido procedia realmente da Santíssima Virgem. “Não”, respondeu Nossa Senhora enquanto baixava a cabeça e balançava-a suavemente de um lado a outro, “não é esse o motivo”. Ela não disse qual foi a verdadeira razão, mas apenas que não foi a descrença do bispo no fato de que era ela mesma quem havia feito o pedido.

            Aproximamo-nos do clímax do drama. Foi realmente um drama. No início de 2008 a mensagem da Santíssima Virgem referente à Consagração da Rússia se tornou ainda mais urgente, pois ela sabia que o bispo estava seriamente pensando em fazer uso da segunda Cruzada para seus próprios propósitos. Dessa vez ele pretendia conseguir a segunda das pré-condições para as discussões com Roma: o levantamento das chamadas excomunhões dos quatro bispos da FSSPX em 1988. 


Kyrie eleison.

segunda-feira, outubro 20, 2014

Comentários Eleison: História Interna - I

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXIX (379) - (18 de outubro de 2014):  

HISTÓRIA INTERNA - I


            Depois de 1917, em razão das mensagens de Nossa Senhora e dos eventos em Fátima, ficou claro para o mundo que a salvação deste e da Igreja (“um período de paz”) dependeria de duas coisas: da Consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração pelo Papa e todos os bispos do mundo, e também de os católicos fazerem a reparação ao seu Coração, que consiste em cada um receber a Confissão e a Comunhão, meditar por quinze minutos e orar um rosário em cada primeiro sábado do mês. Assim, que nenhum católico pense que nada há que se possa fazer para ajudar a Igreja e o mundo a sair de sua terrível crise atual. Cada católico que responde ao segundo pedido contribui para que o Papa responda ao primeiro.

            Mas essa resposta ainda não foi suficiente. Nos anos trinta, por exemplo, o Papa Pio XI estava bem a par do primeiro pedido feito por Nossa Senhora, mas não realizou a Consagração da Rússia. Por quê? De acordo com o Irmão Miguel da Santíssima Trindade, no segundo de seus três excelentes volumes de Toda a Verdade Sobre Fátima, o pontífice estava na época engajado em contatos diplomáticos com as autoridades russas em Moscou, e então achou que sua própria diplomacia seria uma maneira melhor de tratar com os comunistas do que a Consagração a Nossa Senhora. Ele preferiu o jeito humano ao divino de lidar com o problema, e então obviamente o problema permaneceu não resolvido. O mundo mergulhou na Segunda Guerra Mundial, e a Igreja se arruinou internamente pelo Concílio Vaticano II.

            Agora, na presente década, veio à luz uma história paralela de Nossa Senhora com mais um apelo. Desta vez, transmitido por uma mensageira de Dom Fellay, teria sido dirigido à Fraternidade Sacerdotal São Pio X, para que se organizasse uma Cruzada do Rosário na qual se rezasse pela realização da Consagração da Rússia. Vale a pena analisar em uns poucos números destes “Comentários” se essa história é verdadeira (como eu acredito que seja, e alguns outros padres também acreditam), não para desacreditar Dom Fellay (cuja preferência pelos meios humanos é tão compreensível como a de Pio XI – Deus é seu juiz), mas a fim de enfatizar o quão urgente, quase cem anos depois, a Consagração da Rússia continua a ser, e especialmente a prática da devoção dos cinco primeiros sábados. Mas a história é verdadeira? Em particular, quão confiável é a mensageira?

            Eu mesmo me encontrei com ela muitas vezes, e acredito que sua história tem toda a possibilidade de ser verídica, em primeiro lugar por ser ela uma pessoa adulta séria, que dá todos os sinais de estar dizendo a verdade; mas principalmente porque o que ela conta é uma história interna, que corresponde a um grande número de fatos públicos e eventos bem conhecidos externamente, por assim dizer, e os explica. Quanto à mensageira, os leitores têm todo o direito de desconfiar de meu julgamento pessoal, mas quanto à correspondência entre a história interna e os fatos externos, os leitores podem julgar por si mesmos.

A história começa no Domingo do Bom Pastor de 2004, quando a Santíssima Virgem Maria apareceu para a mensageira e deu a ela uma mensagem que deveria ser transmitida ao Bispo da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, na qual havia o pedido para que a FSSPX liderasse os fieis em uma Cruzada do Rosário pela Consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração; a mesma que o Céu vem pedindo desde os anos vinte. Entendeu-se na década passada, que se isso fosse feito como Nossa Senhora pediu, poderia ao fim se obter através desta as graças para a realização da tão necessária Consagração.

Em junho de 2006, a mensageira entregou a mensagem em pessoa para Dom Fellay. Ele a discutiu com ela, mas não sabia ainda que se tratava de fato de uma diretiva da Mãe de Deus. E assim, em seu caminho de volta à Suíça, ela tomou uma importante primeira decisão. Como os americanos dizem: “Fiquem sintonizados”!
           
Kyrie eleison

quinta-feira, outubro 16, 2014

Comentários Eleison: Lançamento de "Website"

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXVIII (378) - (11 de outubro de 2014): 

LANÇAMENTO DE WEBSITE


            Foi recentemente lançado na internet, no dia da festa de Nossa Senhora do Rosário, um website que pode ser de sério interesse para os leitores regulares destes “Comentários Eleison”: www.stmarcelinitiative.com. Ele oferecerá em inglês e italiano o último número dos “Comentários” e todos os anteriores desde 2007; e em francês, alemão e espanhol o último número e pelo menos os dos últimos cinco anos. E para os leitores que preferem ler em papel a fazê-lo numa tela eletrônica, o website oferecerá vários meios para escolher edições antigas e imprimi-las em conjunto.

            Uma segunda seção do website, “Livros e Palestras”, disponibilizará cópias em papel dos dois primeiros dos quatro volumes das “Cartas do Reitor” de Dom Williamson escritas nos EUA entre 1983 e 2003, gravações de seus sermões e conferências, e de todos os seminários existentes do Dr. White sobre literatura. Mais uma vez a eletrônica moderna propiciará uma variedade de meios para se pesquisar essas gravações e fazer o seu download, mas apenas umas poucas estarão ao mesmo tempo em áudio e vídeo. Pedidos de compra podem ser feitos também pelo telefone, discando + 1844 SMI SHOP, ou seja, 1 (844) 764-7467.

            Os católicos – e não católicos! – que ainda não estão familiarizados com as gravações literárias do Dr. White deveriam aproveitar essa oportunidade para ver como ele usa os clássicos da literatura mundial como uma ponte para conectar a Fé ao mundo à nossa volta. O espaço entre esses dois aumenta a cada dia. Os católicos conciliares tentaram adaptar a Fé de ontem ao mundo de hoje, e muitos perderam sua Fé no processo. Os católicos tradicionais são levados a menosprezar tanto o mundo de hoje, considerando-o como irremediavelmente perdido, quanto a literatura mundial, por considerem-na como irremediavelmente “não espiritual”, e a Fé de muitos deles têm se distanciado muito da realidade nesse processo. Dr. White tem tanto uma fé firme, como uma compreensão sólida do mundo real que hoje nos circunda, e seu domínio da literatura mundial lhe permite dar sentido a ambas para inúmeras almas, velhas e jovens, que de outro modo cairiam em uma desesperada esquizofrenia mental. Altamente recomendado.

            Uma terceira seção do website é referente às “Doações”. Ela apresentará uma variedade similar de meios eletrônicos de doação para ajudar a manter um oásis de, espera-se, bom senso no meio do atual deserto de absurdidades. Também deverá ajudar os benfeitores a doarem o quanto quiserem, quando quiserem, no horário em que quiserem, e com facilidade. Na realidade, só a despesa para configurar o website já tem sido bastante alta. Pensamos que com o tempo ele deveria provar o seu valor, mas essa tem sido uma razão a mais para que nós apelemos desde já para a generosidade de vocês. Agradecemos antecipadamente.

            A quarta seção é intitulada “Informação”. Ela dirá um pouco sobre a St Marcel Initiative, sobre como o site opera, e sobre o que Dom Williamson tem feito e espera fazer. Contudo, novidades sobre seus futuros compromissos deverão ser disponibilizadas com certa cautela, pois ele não tem apenas amigos ao redor do mundo.

            A Internet tem sérios perigos e inconvenientes, mas não há dúvida de que por uma variedade impressionante de meios eletrônicos há muitas verdades que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar. Nós esperamos gentilmente que esse novo site contribua com essa reserva de verdades. Muito trabalho tem sido feito para reuni-las, e além da contribuição de muitos trabalhadores, a de muitos benfeitores também tem sido indispensável. Nós agradecemos sinceramente a todos os interessados. Possa Deus retribuir a cada um deles, a cada um de vocês.


Kyrie eleison.          

quarta-feira, outubro 15, 2014

Abaixo-assinado contra o evento M.I.S.S.A em Ipatinga

Extraído de Missão Cristo Rei:




Acontecerá em Ipatinga no próximo final de semana um evento profano que ofende a Fé Católica. Os realizadores nomeia o evento com a palavra M.I.S.S.A e utilizam, em tom de brincadeiras, alguns símbolos católicos.

Estamos nos movimentando com um abaixo-assinado à fim requerer do Ministério Público Estadual o impedimento do evento.

Ajudem-nos assinando-o virtualmente:
http://www.peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR75439

Salve Maria!

domingo, outubro 05, 2014

Comentários Eleison: O Bom Senso do Arcebispo

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXVII (377) - (04 de outubro de 2014): 

O BOM SENSO DO ARCEBISPO - I

            Na edição do mês passado do The Recusant (www.TheRecusant.com) saiu uma tradução para o inglês da última entrevista de Dom Lefebvre, originalmente publicada na França (Fideliter, n. 79), pouco antes de sua morte em março de 1991. Ele é sempre agradável de se ler, e se expressa com clareza, pois pensa a partir dos princípios católicos. Ele é transparente, porque não tem nada a esconder, e não é ambíguo, pois não pretende comprometer a Igreja de Nosso Senhor com o Vaticano II de Satanás. Mas notem como as perguntas do entrevistador indicam que os leitores de Fideliter já estavam propensos a tomar a direção que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X viria tomar uns poucos anos depois da morte do Arcebispo. Aqui está uma seleção de perguntas e respostas, um pouco abreviadas:

P: Por que você não pode tentar uma última aproximação com Roma? Nós ouvimos dizer que o Papa está “pronto para recebê-lo”.

R: Isso é absolutamente impossível, porque os princípios que agora guiam a igreja conciliar são mais e mais abertamente contrários à doutrina católica. Por exemplo, o Cardeal Ratzinger disse recentemente que os grandes documentos antimodernistas dos Papas dos séculos XIX e XX prestaram um grande serviço em seus dias, mas agora se tornaram obsoletos. E João Paulo II está mais ecumênico do que nunca (1990). “É absolutamente inconcebível que nós possamos concordar em trabalhar com tal hierarquia”.

P: A situação em Roma deteriorou-se mesmo desde as negociações de 1988?

R: Oh, sim! “Nós teremos de esperar algum tempo antes de considerar a possibilidade de fazer um acordo. De minha parte, acredito que só Deus pode salvar a situação, já que humanamente não vemos nenhuma possibilidade de Roma consertar as coisas”.

P: Mas há tradicionalistas que fizeram um acordo com Roma sem ter de conceder nada.

R: Isso é falso. Eles renunciaram à sua possibilidade de se opor a Roma. Devem permanecer em silêncio devido aos favores que lhes foram garantidos. Passaram então a deslizar bem lentamente, até que terminarão admitindo os erros do Vaticano II. “É uma situação muito perigosa”. Tais concessões de Roma visam apenas a fazer com que os tradicionalistas rompam com a FSSPX e se submetam a ela.

P: Você diz que tais Tradicionalistas “traíram”. Não é um termo um pouco duro?

R: De jeito nenhum! Dom Gerard, por exemplo, fez uso de minha pessoa, da FSSPX e de suas capelas e benfeitores, e agora ele repentinamente nos abandona e se une aos destruidores da Fé. Ele abandonou o combate pela Fé. Eles não podem mais atacar Roma. Não compreenderam nada da questão doutrinal. É terrível pensar nos jovens que se uniram a eles por amor à Tradição e que agora os estão seguindo para a Roma conciliar.

P: Existe algum perigo em permanecer amigo de tradicionalistas que entregaram o jogo a Roma, e em assistir às suas Missas?

R: Sim, porque na Missa não há apenas a Missa, mas também o sermão, a atmosfera, o ambiente, as conversas antes e depois da Missa, e por aí vai. Todas essas coisas fazem com que você mude pouco a pouco as suas ideias. Há um clima de ambiguidade. Se alguém está em uma atmosfera submissa ao Vaticano, sujeito essencialmente ao Concílio, acaba por se tornar ecumênico.

P: João Paulo II é muito popular. Ele quer unir todos os cristãos.

R: Mas unir em quê? Não mais na Fé que uma alma deve aceitar, e que requer a conversão. A Igreja foi distorcida: de uma sociedade hierárquica, passou a ser uma “comunhão”. Comunhão em quê? Não na Fé. Não surpreende mais ouvir que católicos em massa estão deixando a Fé. (Continua.)

Kyrie eleison.