Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXVII (377) - (04 de outubro de 2014):
O BOM SENSO DO ARCEBISPO - I
Na
edição do mês passado do The Recusant
(www.TheRecusant.com) saiu uma tradução para o inglês da última entrevista de
Dom Lefebvre, originalmente publicada na França (Fideliter, n. 79), pouco
antes de sua morte em março de 1991. Ele é sempre agradável de se ler, e se
expressa com clareza, pois pensa a partir dos princípios católicos. Ele é
transparente, porque não tem nada a esconder, e não é ambíguo, pois não pretende
comprometer a Igreja de Nosso Senhor com o Vaticano II de Satanás. Mas notem
como as perguntas do entrevistador indicam que os leitores de Fideliter já estavam propensos a tomar a
direção que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X viria tomar uns poucos anos
depois da morte do Arcebispo. Aqui está uma seleção de perguntas e respostas,
um pouco abreviadas:
P: Por que você não pode tentar uma última
aproximação com Roma? Nós ouvimos dizer que o Papa está “pronto para recebê-lo”.
R: Isso é
absolutamente impossível, porque os princípios que agora guiam a igreja
conciliar são mais e mais abertamente contrários à doutrina católica. Por
exemplo, o Cardeal Ratzinger disse recentemente que os grandes documentos antimodernistas
dos Papas dos séculos XIX e XX prestaram um grande serviço em seus dias, mas
agora se tornaram obsoletos. E João Paulo II está mais ecumênico do que nunca
(1990). “É absolutamente inconcebível
que nós possamos concordar em trabalhar com tal hierarquia”.
P: A situação
em Roma deteriorou-se mesmo desde as negociações de 1988?
R: Oh, sim! “Nós teremos de esperar algum tempo antes de
considerar a possibilidade de fazer um acordo. De minha parte, acredito que
só Deus pode salvar a situação, já que humanamente não vemos nenhuma
possibilidade de Roma consertar as coisas”.
P: Mas há tradicionalistas que fizeram um
acordo com Roma sem ter de conceder nada.
R: Isso é
falso. Eles renunciaram à sua possibilidade de se opor a Roma. Devem permanecer
em silêncio devido aos favores que lhes foram garantidos. Passaram então a
deslizar bem lentamente, até que terminarão admitindo os erros do Vaticano II.
“É uma situação muito perigosa”. Tais concessões de Roma visam apenas a fazer
com que os tradicionalistas rompam com a FSSPX e se submetam a ela.
P: Você diz que tais Tradicionalistas
“traíram”. Não é um termo um pouco duro?
R: De jeito
nenhum! Dom Gerard, por exemplo, fez uso de minha pessoa, da FSSPX e de suas
capelas e benfeitores, e agora ele repentinamente nos abandona e se une aos destruidores
da Fé. Ele abandonou o combate pela Fé. Eles não podem mais atacar Roma. Não compreenderam
nada da questão doutrinal. É terrível pensar nos jovens que se uniram a eles
por amor à Tradição e que agora os estão seguindo para a Roma conciliar.
P: Existe algum perigo em permanecer amigo de
tradicionalistas que entregaram o jogo a Roma, e em assistir às suas Missas?
R: Sim, porque na Missa não há apenas a Missa,
mas também o sermão, a atmosfera, o ambiente, as conversas antes e depois da
Missa, e por aí vai. Todas essas coisas fazem com que você mude pouco a pouco as
suas ideias. Há um clima de ambiguidade. Se alguém está em uma atmosfera
submissa ao Vaticano, sujeito essencialmente ao Concílio, acaba por se tornar ecumênico.
P: João Paulo
II é muito popular. Ele quer unir todos os cristãos.
R: Mas unir em
quê? Não mais na Fé que uma alma deve aceitar, e que requer a conversão. A Igreja
foi distorcida: de uma sociedade hierárquica, passou a ser uma “comunhão”.
Comunhão em quê? Não na Fé. Não surpreende mais ouvir que católicos em massa estão
deixando a Fé. (Continua.)
Kyrie eleison.