terça-feira, dezembro 30, 2014

Comentários Eleison: O Bom Senso do Arcebispo - II

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXIX (389) - (27 de dezembro de 2014): 

O BOM SENSO DO ARCEBISPO - II


Em Roma um grande Arcebispo fez, sim, pressão.
Mas o que se há de fazer quando como mingau as mentes dos romanos são?      

            Há doze semanas, os “Comentários Eleison” (de 5 de outubro) apresentaram uma primeira série de trechos da última entrevista pública de Dom Lefebvre, concedida à revista Fideliter no início de 1991. Segue aqui uma segunda e última série de trechos, que foram ligeiramente editados com o fim de lhes dar mais clareza e brevidade:

            Q: Que conclusões nós podemos tirar da Fraternidade Sacerdotal São Pio X depois de vinte anos de sua existência?

            A: O Bom Deus quis a continuidade da Tradição Católica. Estou profundamente convencido de que a Fraternidade é o meio pelo qual Deus quer guardar e preservar a Fé, a verdade da Igreja. Devemos continuar a manter fielmente os tesouros da Igreja, com a esperança de que um dia eles possam reassumir o lugar que nunca deveriam ter perdido em Roma.
           
            Q: O senhor diz frequentemente que, mais que a liturgia, é agora a Fé que nos opõe a Roma moderna.

            A: A questão da liturgia e dos sacramentos é muito importante, certamente; mas questão mais importante é a da Fé. Não é ela, porém, uma questão para nós. Temos a Fé de sempre, do Concílio de Trento, do Catecismo de São Pio X, de todos os Concílios e de todos os Papas antes do Vaticano II. Por anos eles em Roma tentaram mostrar que tudo no Concílio era completamente consistente com essa Tradição. Agora eles estão mostrando quem realmente são ao dizer que não há mais Tradição ou Depósito para se transmitir. Tradição na Igreja é qualquer coisa que o Papa esteja dizendo hoje. Você deve se submeter ao que o Papa e os bispos dizem hoje. Eis a sua famosa ‘Tradição Viva’, que foi a única base para nossa condenação em 1988.
            Agora, eles desistiram de tentar provar que o que dizem é consistente com o que Pio IX escreveu ou com o que o Concílio de Trento promulgou. Não, tudo isso é coisa do passado, perdeu a validade, como disse o Cardeal Ratzinger. Está bastante claro, e eles poderiam ter dito isso antes. Não há sentido algum em nossa conversa, em nossa discussão com eles. Agora nós sofremos por causa da tirania da autoridade, pois não há mais nenhuma das regras do passado.
            Eles estão mostrando mais e mais que nós estamos certos. Estamos lidando com pessoas que têm uma filosofia diferente da nossa, uma maneira diferente de ver, que estão influenciadas por todos os filósofos modernos subjetivistas. Para eles não existe verdade fixa, não há dogma. Tudo está evoluindo. Trata-se realmente da destruição maçônica da Fé. Felizmente, nós temos a Tradição na qual podemos nos apoiar!

            Q: O senhor tem enfatizado que tem certeza de que a Fraternidade é abençoada por Deus, porque por vários motivos ela já poderia ter desaparecido.

            A: De fato. Ela tem se mantido sob ataques muito duros. Isso é muito doloroso, mas devemos, no entanto, acreditar que a linha da Fé e da Tradição que estamos seguindo é imperecível, pois Deus não pode permitir que a Sua Igreja pereça.   
            Q: O que o senhor pode dizer para aqueles fiéis que mantém esperança de que haja um acordo com Roma?

            A: Nossos verdadeiros fiéis, aqueles que compreenderam o problema e que precisamente têm nos ajudado a seguir adiante o reto e firme caminho da Tradição e da Fé, me disseram que as aproximações que eu estava fazendo em direção a Roma foram perigosas, e que eu estava perdendo meu tempo. No entanto, eu esperei até o último minuto que pudéssemos presenciar um pouco de lealdade em Roma, e assim não posso ser culpado por não ter feito o máximo possível. Portanto, agora também, para aqueles que me dizem: “O senhor tem de chegar a um acordo com Roma”, eu acho que agora posso também dizer que fui ainda mais longe do que deveria ter ido.

Kyrie eleison.

domingo, dezembro 21, 2014

Comentários Eleison: Choro dos Salmistas

 Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXXXVIII (388) - (20 de dezembro de 2014): 


CHORO DOS SALMISTAS

Se nos tempos antigos o Povo de Deus pôs-se a por auxílio chorar.
Que se dirá dos dias de hoje – precisa ele gritar.

            A época da vinda de Nosso Redentor entre nós é certamente um momento adequado para lembrar-nos do quanto nós precisamos de Deus. É claro que sempre foi assim. Antes de Cristo, Deus veio ao cada vez mais perverso mundo pagão especialmente para os Israelitas com o Antigo Testamento a fim de preparar a chegada de Seu próprio Filho. Aqui está o Salmo 43, quase se aplica em sua integralidade tanto aos israelitas quanto aos católicos, os povos de Deus no Antigo e no Novo Testamentos (Tradução da Vulgata por Matos Soares, com títulos e parênteses acrescentados):

A. DEUS COSTUMAVA PROTEGER SEU POVO.

1 Ao mestre do coro. Dos filhos de Coré. Maskil. 2 Nós, ó Deus, ouvimos com os nossos próprios ouvidos, nossos pais contaram-nos a obra que fizeste nos seus dias nos tempos antigos. 3 Tu, com a tua mão, expulsas as gentes (pagãs), os estabeleceste a eles (nossos pais) [em seu lugar (dos pagãos)]; destruídas as nações os dilataste (nossos pais). 4 Porque não foi com a sua espada que conquistaram (nossos pais) este país, nem foi o seu braço que os salvou, mas a tua dextra e o teu braço, e a serenidade do teu rosto, porque os amaste. 5 Tu és o meu rei e o meu Deus, tu que deste as vitórias a Jacó. 6 Por ti rechaçamos os nossos adversários, e em teu nome calcamos os nossos agressores. 7 Porque não foi no meu arco que pus confiança, nem fui a minha espada que me salvou. 8 Mas foste tu que nos salvaste dos nossos adversários, e confundiste os que nos tinham ódio. 9 Em Deus nos gloriávamos sem cessar, e o teu nome celebrávamos sempre.

B AGORA ELE OS REJEITOU.  

10 Mas tu agora repeliste-nos e cobriste-nos (israelitas) de confusão, já não sais, ó Deus, à frente dos nossos exércitos. 11 Fizeste-nos ceder diante dos nossos adversários, encheram-se de despojos. 12 Entregaste-nos como ovelhas para o matadouro, e dispersaste-nos entre as nações. 13 Vendeste o teu povo por preço vil e pouco lucraste em o ter vendido. 14 Tornaste-nos o opróbrio dos nossos vizinhos, e um objeto de escárnio e zombaria para aqueles que estão ao redor de nós. 15 Fizeste de nós a fábula das nações, os povos abanam a cabeça, escarnecendo de nós. 16 A minha ignomínia está todo o dia diante de mim, e o meu rosto cobre-se de confusão, 17 à voz do que me afronta e vitupera, por causa do inimigo e do opressor.

C NÓS AINDA SOMOS FIÉIS.

18 Todas estas coisas vieram sobre nós, e, ainda assim, não nos temos esquecido de ti, nem violamos o teu pacto (mosaico). 19 Nem o nosso coração tornou atrás [para seguir os falsos deuses], nem se desviaram os nossos passos do teu caminho. 20 Quando nos humilhaste no lugar da aflição, e nos cobriste de trevas. 21 Se tivéssemos esquecido o nome do nosso Deus, e tivéssemos estendido as mãos para algum deus estranho, 22 porventura Deus não teria averiguado tudo isto? Ele que conhece os segredos do coração.

D Ó DEUS, VINDE EM NOSSO AUXÍLIO!

23 Mas, por amor de ti, somos entregues à morte todos os dias, somos considerados como ovelhas para o matadouro. 24 Desperta! Por que dormes, Senhor? Acorda! Não nos rejeites para sempre! 25 Porque escondes o teu rosto? [Por que] te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão? 26 Porquanto a nossa alma está humilhada até ao pó, e o nosso peito está como que pegado à terra. 27 Levanta-te, Senhor, em nosso auxílio, e livra-nos pela tua misericórdia. (Fim do Salmo 43.)

            Em outras palavras, houve um tempo em que Deus elevou Sua Igreja Católica a grandes alturas. Mas hoje ela está se fazendo o motivo de riso do mundo, ao ponto de alguém poder quase ter vergonha de ser um católico. No entanto, ainda existem católicos fiéis. Ó Deus, vinde em seu auxílio! Ó Deus, vinde em nosso auxílio!


Kyrie eleison.

segunda-feira, dezembro 15, 2014

Comentários Eleison: Distinções Necessárias

Comentários Eleison – por Dom Williamson
  CCCLXXXVII (387) - (13 de dezembro de 2014):  

DISTINÇÕES NECESSÁRIAS


O Concílio trabalha desde perigosos cinzas que preto tendem a se tornar.
Um católico procura o branco para do bom caminho não se desviar.

            O princípio de que o câncer de fígado me matará sem que eu tenha necessariamente câncer de pulmão (cf. CE de 29 de novembro) é incômodo, porque significa que eu posso precisar fazer distinções em vez de me comprazer com condenações generalizadas; mas as distinções são de senso comum, e correspondem à realidade. Assim, na atual confusão universal, para que eu me mantenha em contato com a realidade, há momentos em que preciso reconhecer que uma mistura de bem e mal será má na sua totalidade, mas isso não significa que suas partes boas, como partes, sejam más, nem que o que há de bom nas partes boas faça com que o todo seja bom.

            Tomem por exemplo a Missa Novus Ordo. O novo Rito, na sua totalidade, diminui tanto a expressão das verdades católicas essenciais (a Presença Real, o Sacrifício, o sacerdócio sacrificante, etc.), que é também tão mau na sua totalidade que nenhum padre deveria usá-lo, e nenhum católico deveria comparecer a ela. Mas isso não quer dizer que aquela parte da Missa que é a Forma sacramental de Consagração do pão e do vinho seja má ou inválida. “Este é o meu Corpo” é certamente válido, “Este é o cálice do meu Sangue” é muito provavelmente válido, e certamente não é invalidado pelo novo rito que é tão não católico em sua totalidade. Portanto, se eu digo que a nova Missa deve ser sempre evitada, estou dizendo a verdade; mas se digo que ela é sempre inválida, não estou dizendo a verdade, e mais cedo ou mais tarde eu pagarei o preço por ter exagerado.  

               Com o novo Rito de Ordenação sacerdotal se dá de modo similar. O novo Rito tem, em sua totalidade, reduzido severamente a expressão das verdades essenciais do sacerdócio católico, especialmente em relação ao que é um sacerdócio sacrificante, mas aquela parte do novo Rito que é a Forma sacramental é, ao menos na nova versão em latim, mais forte (pelo “et” em vez do “ut”) que a antiga versão em latim. Por isso, assumindo que o bispo ordenante é um verdadeiro bispo, e que tem a verdadeira Intenção sacramental, simplesmente não é correto dizer que nenhum sacerdote ordenado no novo Rito possa ser um verdadeiro sacerdote. E se alguém o diz, mais cedo ou mais tarde pagará um preço por se afastar da verdade.  

            Agora, a partir da descatolicização desses dois novos Ritos em sua totalidade, ainda que não se possa argumentar que suas Formas sacramentais sejam inválidas, se pode certamente argumentar que no fim elas arruinarão e invalidarão a Intenção sacramental do sacerdote ou do bispo. Mas esse é um argumento diferente, não mais em preto e branco, mas, infelizmente, em cinza. Por exemplo, o argumento é que o uso constante dos Ritos descatolicizantes irá lentamente alterar tanto a noção do sacerdote ou do bispo sobre o que a Igreja faz com aqueles Ritos, que, no fim, um ou outro não mais terá a Intenção católica de fazer o que a Igreja faz – Intenção que é necessária para a validade do sacramento. Em outras palavras, o branco está a se tornar gradualmente preto, tendo, para isto, de passar pelo cinza. Mas quem mais além do Deus Todo Poderoso pode saber com certeza quando o cinza se tornará preto? Mais uma vez, eu devo ter cuidado se quero discernir e conhecer a verdade.

            Esse jogo entre o branco e o preto, essa ambiguidade, é o que é propriamente diabólico na reforma conciliar dos Ritos sacramentais. Se eu desejo dizer a verdade, não direi ainda que eles já destruíram os sacramentos católicos, mas que certamente eles os estão solapando; e assim, se eu desejo manter a Fé católica, certamente os evitarei em sua totalidade.

Kyrie eleison.

segunda-feira, dezembro 08, 2014

Comentários Eleison: Conselho para a Resistência

Comentários Eleison – por Dom Williamson
 CCCLXXXVI - (386) - (6 de dezembro de 2014): 

CONSELHO PARA A RESISTÊNCIA


A “Resistência” poderá ou não ser estruturada,   
Mas o sofrimento será seu preço e sua marca registrada

            Chegou recentemente em minha mesa uma preciosa troca de e-mails que, tenho certeza, será apreciada por muitas almas tendo em vista suas difíceis circunstâncias atuais. Trazem um problema por que passa uma típica moradora de cidade do século XXI, que tem a Fé, mas se sente abandonada. Uma solução apresentada aqui se baseia em uma profecia de Nossa Senhora datada do século XVII! Primeiramente, o problema:

“Sou uma enfermeira da Alemanha com quarenta e oito anos de idade. Há doze anos entrei para um convento e gostei muito. Busquei aprofundar minha relação com Deus, mas depois de dez anos tive de sair de lá por causa do modernismo. Não consegui fazer meus votos finais porque a Comunidade estava longe da Verdade. Pensei que ao sair estaria agradando meu Pai celestial e me tornando um tipo de heroína a Seus olhos, mas agora estou muito triste, e me sinto abandonada por Deus, não mais como uma heroína.

            Há dois anos consegui um emprego no hospital onde trabalhava antes de entrar para o Convento, mas eis que aqui estou, de volta ao mundo onde as pessoas que me rodeiam são ignorantes ou modernas, onde praticamente ninguém tem fé alguma; e se alguém a tem, não sabe por quê. Já estou muito velha para poder encontrar um emprego mais perto dos sacramentos. O trabalho por turnos me impede de ir à Missa todos os domingos. Para chegar à Missa mais próxima se gasta uma hora de carro. Assim, aqui estou eu, sentada no escuro, com pouco acesso aos sacramentos. A situação na Igreja e no mundo é tão confusa que eu simplesmente não sei o que fazer. Qual a maneira de sair da escuridão? Aonde devo ir para descobrir o que devo fazer da minha vida?”

            E agora, em resposta ao problema, o conselho que muitos de nós que estamos na Resistência entre aspas tentando suportar a apostasia em todo o mundo, podemos guardar no coração:

            “Cara amiga, em 1634, no Equador, Nossa Senhora deu a uma freira santa uma orientação quase como que dirigida a nós nestes tempos profanos, nos quais recebemos a bênção de viver (ainda que eles não nos façam sentir que se trate realmente de uma bênção). Ela prometeu que aqui sempre existiriam, apesar da apostasia mundial, almas que permaneceriam fieis e preservariam as virtudes e o tesouro da Fé. Mas elas sofreriam um cruel, indizível e prolongado martírio. Disse ela: ‘A fim de libertar os homens da escravidão das heresias que os rodeiam, as almas escolhidas por meu Santíssimo Filho para efetivar a restauração precisarão de grandes doses de força de vontade, constância, coragem e confiança em Deus. Para sejam postas à prova essa fé e confiança dos justos, virão momentos em que tudo parecerá perdido. Este será então o feliz início da restauração’.

            Há um excelente resumo dessa mensagem de Nossa Senhora na internet em: OUR LADY OF GOOD SUCCESS: prophetic revelations made to Venerable Mother Mariana de Jesus Torres [NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO: revelações proféticas feitas à Venerável Madre Mariana de Jesus Torres].    

            Muitos de nós nos encontramos em circunstâncias similares às suas. Estamos privados do auxílio e da força que provêm de uma comunidade cercada por nossos irmãos católicos com uma regra e um Superior que nos guiem. Embora eu não tenha feito votos religiosos, me causa um tremendo sofrimento essa privação dos Sacramentos, dos sacerdotes e dos irmãos católicos, e encontrar-me tendo de trabalhar no mesmo mundo que meu coração, minha mente e minha alma rejeitam. Mas esse é o sofrimento que Deus está permitindo para muitos de nós, e é justamente o sofrimento que devemos abraçar, estando em união com Sua vontade para cada um de nós, unindo nossos sofrimentos àqueles que nosso amado Salvador sentiu e ofereceu por nós. Ao agir assim, nós somos atraídos a Ele como seus pequeninos. Ele não se esqueceu de você. Pelo contrário, por tudo o que estiver a suportar, você estará dando ao Seu Sagrado Coração e ao Imaculado Coração de Maria muito consolo necessário, e talvez possa obter graças para aqueles que perderam a Fé”.

Kyrie eleison

segunda-feira, dezembro 01, 2014

Comentários Eleison: Papas Viventes

Comentários Eleison – por Dom Williamson
  CCCLXXXV (385) - (29 de novembro de 2014):  

PAPAS VIVENTES

A Igreja precisa de Papas vivos, ainda que maus eles sejam.
Não conseguirão exterminá-la, por mais loucos que estejam.

            Em 29 de janeiro de 1949, o Papa Pio XII fez as seguintes observações sobre a importância do Papa: Se algum dia – falando puramente de modo hipotético – a Roma material colapsar; se algum dia forem enterrados sob as ruínas desta basílica Vaticana, símbolo da única vitoriosa e una Igreja Católica, os tesouros históricos e tumbas sagradas que ela guarda, ainda assim a Igreja não estará demolida ou dividida. A promessa de Cristo a Pedro se manterá verdadeira, o papado durará para sempre, assim como a Igreja, una e indestrutível, fundada sobre o Papa então vivente”.

            Como essas palavras são doutrina clássica da Igreja (apenas o sublinhado foi acrescentado), a repousar como o fazem sobre as próprias palavras de nosso Senhor (Mt 16, 16-18), não é então de se estranhar que desde 1962, quando os papas viventes se tornaram conciliares, milhões e milhões de católicos foram continuamente induzidos a se tornarem do mesmo modo conciliares e liberais. Os sedevacantistas só podem ver uma única saída para o problema, que é negar absolutamente que os Papas conciliares sejam Papas. Isto pode parecer ser senso comum, mas para a maioria dos católicos parece ainda mais ser senso comum que a Igreja designada por Deus para repousar sobre o Papa vivente não pode ter existido no decorrer da última metade do século (1962-2014) sem este.  

            É fácil ver como o declínio da civilização cristã desde o auge da Idade Média levou à presente corrupção dos Papas viventes. É fácil ver como Deus pode ter permitido essa espantosa corrupção para punir esse espantoso declínio. O que é menos fácil de ver é como a Igreja pode continuar viva quando os Papas viventes nos quais ela está fundada estão convencidos de que o liberalismo, que é guerra contra Deus, é católico. Nas próprias palavras de Nosso Senhor: Não pode uma árvore boa dar maus frutos nem uma árvore má dar bons frutos (Mt 7, 18).  
           
            Mas uma árvore metade boa e metade má pode produzir frutos metade bons e metade maus. No entanto, se vista como um todo, uma mistura de bem e mal é má, mas isto não significa que, ao ser vista parte por parte, as boas partes da mistura sejam más como as partes más. Um câncer no fígado me matará, mas isso não significa que eu tenha câncer nos pulmões. Ora, nenhum homem da Igreja vivente, como qualquer homem vivo, é completamente bom ou completamente mau. Nós todos somos uma mistura flutuante até o dia em que morremos. Pode então já ter havido um Papa vivente cujos frutos foram completamente maus? Só há uma resposta possível: não. Deste modo, a Igreja Católica pode ter vivido a metade dos últimos cinquenta anos sobre a metade boa dos frutos dos Papas conciliares, e Deus permitiu essa vida pela metade a fim de que a Sua Igreja fosse purificada, sem, no entanto, jamais deixar que isso vá tão longe a ponto de liquidá-la.  

            Assim, por exemplo, Paulo VI chorou pela ausência de vocações. Bento XVI aspirou à Tradição. Mesmo o Papa Francisco certamente pretende levar o homem a Deus quando ele rebaixa Deus ao nível dos homens. Portanto, os Papas conciliares estão terrivelmente equivocados em suas ideias, fatalmente ambíguas na Fé onde há a necessidade de que ajam absolutamente sem ambigüidades, e a Igreja esteve e está morrendo sob eles; mas quaisquer partes neles que ainda sejam boas têm possibilitado que a Igreja prossiga, e eles têm sido necessários como cabeças viventes para dar continuidade ao corpo da Igreja vivente, tal como disse Pio XII. Então não temamos que a eles seja permitido exterminar a Igreja, mas vamos de nossa parte lutar contra seu liberalismo com unhas e dentes, e orar por seu retorno à sanidade católica, pois nós precisamos deles para a vida de nossa Igreja

Kyrie eleison.