sábado, agosto 30, 2014

Comentários Eleison: Moisés Explica

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXXII (372) - (30 de agosto de 2014): 


MOISÉS EXPLICA

            Se há algum católico que procure por uma explicação mais profunda sobre a loucura que se segue em Gaza, deveria ler Moisés no Antigo Testamento. Ele diz, por exemplo, que se os israelitas não mantiverem os mandamentos de Deus, serão feridos com “loucura, cegueira e embotamento do espírito” (Dt 28, 28), dentre muitas outras maldições. Como disse o Pe. Meinvielle, os judeus são uma raça teológica, e não podem escapar de seu destino teológico – eles estão ligados a Deus como nenhum outro povo na terra.

            No Deuteronômio, Moisés dá aos israelitas suas últimas instruções solenes antes de sua morte e da entrada deles na Terra Prometida. No capítulo 28 (que tem paralelo com Levíticos XXVI), Moisés deixa bem claro o espírito de Jeová (ou Yahweh), o Deus do Antigo Testamento, o mesmo Deus do Novo Testamento: os judeus serão especialmente abençoados (v. 1-14) se obedecerem ao único Deus verdadeiro, e serão especialmente amaldiçoados (v. 15-68) se desobedecerem a Ele. De qualquer modo, eles são uma raça especial, à qual é dado um conhecimento especial do verdadeiro Deus para uma missão especial que devem cumprir para Ele, com uma recompensa especial ou castigo especial recebidos Dele, dependendo de como cumpram essa missão.

            Não é de se estranhar que os judeus pensem que sejam especiais! Entre as bênçãos listadas por Moisés, Deus os elevará “acima de todas as nações” (v.1); “os confirmará como um povo consagrado a Ele” (v.9); para ser “posto à frente, e não na cauda” (v. 13). Mas é de se notar que em cada um destes três versículos Moisés faz a superioridade dos israelitas dependente de sua obediência a Deus: se eles “ouvirem a voz de Deus e mantiverem todos os Seus mandamentos” (v.1); se eles “ouvirem Seus mandamentos e andarem pelos Seus caminhos” (v.9); se eles “obedecerem os mandamentos de Deus, os observarem e os porem em prática” (v.13).

            Por outro lado, se os israelitas tentarem ser a nação superior segundo seus próprios termos, desobedecendo a Deus (v. 15), então uma infinidade de maldições cairá sobre eles (v. 16-68), e serão desprezados, odiados e espezinhados por todas as nações: serão “dispersados por todos os reinos da terra” (v. 28); serão feridos com “loucura, cegueira e embotamento do espírito” (v. 28 – pensem em Gaza!); o estrangeiro que habita no meio deles “se elevará cada vez mais”, e estará na frente, e eles estarão na cauda (v. 43-44); o inimigo porá um “jugo de ferro” sobre seu pescoço (v. 48); o Senhor Deus os afligirá com todos os tipos de sofrimento (v. 59-61), e eles serão “tirados da terra que entraram para possuir” (v. 63). E sofrerão tudo isso por não haverem mantido e cumprido as palavras da lei de Deus (v. 58).

            Quem dera se todas essas bênçãos e maldições anunciadas pelo grande Moisés pudessem fazer com que os israelitas reconhecessem e servissem ao seu Messias e Deus Encarnado quando Ele veio, como fora profetizado por Moisés (Dt 18, 15-18)! Não! Em vez disso, eles o crucificaram, e já por cerca de dois mil anos vêm trazendo em suas cabeças todas as maldições de Moisés. Eles fizeram deles mesmos a mais desprezada e oprimida nação da terra, e perderam seu direito à Terra Prometida, sendo expulsos e dispersos por toda parte desde a destruição de Jerusalém em 70 d.C.

                 Nem a recuperação de sua posse da Terra Santa significa que a maldição está sendo levantada, pois eles estão fazendo isso nos seus próprios termos, e não nos de Deus, e então essa retomada se torna parte da maldição. Como disse Platão (Górgias), é melhor sofrer do que cometer uma injustiça, e, portanto, segundo a realidade espiritual, deve-se ter ainda mais compaixão pelos israelenses do que pelos palestinos. Paciência. Nós “todos temos pecados e precisamos da glória de Deus (Rm 3, 22-23).


Kyrie eleison.

domingo, agosto 24, 2014

Comentários Eleison: "Resistência" Fracassando?

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXXI (371) - (23 de agosto de 2014): 


"RESISTÊNCIA FRACASSANDO?


            Alguns leitores destes “Comentários” objetaram, sem dúvida, à referência feita na semana passada (CE 370) à “Resistência” estar fazendo presentemente “pouco aparente progresso”. Eles talvez preferissem um valente chamado às armas. Mas devemos permanecer na realidade. Por exemplo, quando a diocese tradicional de Campos no Brasil caiu nos braços da Neo-Roma em 2002, não dissemos não muitos de nós que dos 25 sacerdotes formados na escola de Dom Castro Mayer, ao menos alguns sairiam das fileiras? E, no entanto, nenhum deles, desde então, se tornou independente para dar continuidade à boa e verdadeira defesa da Tradição feita pelo Bispo. Assim, todos eles estão mais ou menos no deslize neomodernista. Contudo, se permanecermos na realidade, nada há que se dizer.

Primeiro de tudo, Deus é Deus, e Ele está conduzindo a presente crise ao seu modo, e não ao nosso. “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55, 8). Nós sonhamos com os sacerdotes e leigos que estão lúcidos trabalhando juntos para enfrentar seus inimigos, mas Deus não precisa da “Resistência” de ninguém para cuidar de Suas ovelhas ou salvar a Sua Igreja. Há quarenta anos, quando Dom Lefebvre procurava esperançosamente por um punhado de companheiros bispos que ficassem ao seu lado em público para lançar uma barreira no caminho do rolo compressor conciliar, ele poderia certamente tê-los encontrado, mas isso não aconteceu. De fato, quando Deus intervém para salvar a situação, como Ele certamente fará, esse resgate é obviamente obra Sua, através de Sua Mãe.

            Em segundo lugar, os mais de cinco séculos de humanismo desenfreado têm tornado o homem tão ignorante em relação a Deus, o Senhor Deus dos Exércitos, que à humanidade deve ser ensinada uma lição que só será aprendida pelo caminho mais difícil. A nona das quatorze regras de Santo Inácio para o Discernimento dos Espíritos (primeira semana) dá três razões principais para a desolação espiritual de uma alma, que pode ser aplicada à presente desolação da Igreja:

1. Deus nos castiga por nossa tibieza e negligência espiritual. Só Ele sabe atualmente qual é o merecido castigo de abrangência mundial por nossa apostasia de abrangência mundial e conseguinte mergulho no materialismo e no hedonismo.
        
2. Deus põe-nos à prova para nos mostrar o que está realmente dentro de nós, e o quanto dependemos dele. Não pensa seriamente o homem moderno que pode desempenhar melhor que o Deus Todo-Poderoso o trabalho de dirigir o universo? E não pode ser que a verdade de Deus só venha a ser conhecida quando todos os pequenos esforços próprios do homem tiverem falhado?

3. Deus nos humilha com desolação para acabar com o nosso orgulho e com a nossa vaidade. Não foi o Vaticano II – que proveio dos principais ministros de uma verdadeira religião de um verdadeiro Deus – uma explosão sem precedente de vanglória humana, ao se preferir o mundo moderno do homem à Igreja imutável de Deus? Pensou a pequena Fraternidade Sacerdotal São Pio X que poderia salvar a Igreja? A menos que a “Resistência” permaneça devidamente modesta em suas pretensões e ambições, já estará condenada.

Quais seriam então essas ambições? Em primeiro lugar, e a mais importante: manter a Fé – pois sem ela é impossível agradar a Deus (Hb 11,6) –, que está expressa na doutrina, no Credo Católico. Em segundo lugar, dar testemunho dessa Fé, especialmente por meio de exemplos, e, se necessário, até o martírio (“martyr” é a palavra grega para “testemunho”). Assim, qualquer que seja o modo como a “Resistência esteja ou não organizada, deve dedicar os seus recursos, ainda que escassos, ao que quer que ajude as almas a manterem a Fé. Então, uma vez que a sua posição em favor da Verdade seja obrigatoriamente reconhecível como tal, meramente por existir, não fracassará, pois estará dando testemunho.

Kyrie eleison. 

sábado, agosto 16, 2014

Comentários Eleison: A Conferência Sobre Dickens

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXX (370) - (16 de agosto de 2014): 


A CONFERÊNCIA SOBRE DICKENS


            A Conferência sobre Dickens, que se deu há duas semanas na Casa Rainha dos Mártires em Broadstairs, na Inglaterra, foi muito bem, dentro de seus modestos limites. No sábado houve apenas uma pequena chuva, e no domingo fez sol o dia inteiro. Cerca de 30 participantes – a maioria da Inglaterra, mas também da Dinamarca, França e EUA – desfrutaram bastante da casa, da companhia de católicos, e das três palestras de David White sobre os três romances de Charles Dickens (1812-1870), o escritor mais querido da Inglaterra depois de Shakespeare.

            “Dentro de seus modestos limites” porque fora das Missas assistidas com muita devoção no sábado e no domingo, houve aparentemente pouco de sobrenatural nos temas tratados na Conferência. Digamos que foi uma sessão de sanidade mais que de santidade, mas nós notamos imediatamente que ao menos em inglês as letras que formam a palavra “sanidade” (“sanity”) ocupam três quartos da palavra “santidade” (“sanctity”). A graça se constrói sobre a natureza, mas dificilmente se pode construir sobre a insanidade e a corrupção da natureza às quais o mundo em torno de nós vem se entregando, dia após dia. A sanidade é, portanto, mais do que nunca importante, mesmo para propósitos sobrenaturais. Se a “Resistência” está presentemente fazendo tão pouco aparente progresso, não é porque não resta sanidade suficiente ao redor para reconhecer e expulsar a podridão mental, e a podridão que obstrui a verdadeira obediência e santidade?

            Na primeira palestra, o Dr. White falou sobre David Copperfield, o favorito de Dickens dentre todos os seus romances, e que tem uma relação especial com Broadstairs, pois durante as muitas visitas a trabalho ou de férias à sua querida cidade litorânea, ele conheceu uma excêntrica senhora idosa que vivia em uma pequena casa que ainda existe em frente ao mar. Ela o impressionou tanto que ele fez dela uma personagem em David Copperfield chamada Betsy Trotwood, uma excêntrica velhinha que acolhe o herói órfão do romance e o protege até ele encontrar seu rumo na vida. Dickens pôs na boca da personagem seu próprio ódio ao puritanismo e ao calvinismo, disse o Dr. White. Ao menos uma vez em sua vida, Dickens disse que o catolicismo é a verdadeira religião, embora nunca tenha se tornado católico. Contudo, ele tinha um respeito supremo pelo Evangelho de Cristo, e personagens genuinamente de bom coração interagem nas páginas de seus romances.

            Na tarde de sábado seguiu-se uma visita à casa de “Betsy Trotwood” na beira-mar, que é agora o Museu Dickens; cheio de objetos de lembrança dickensianos e com um conservador dickensiano. Então, a segunda conferência foi sobre A Casa Desolada, o primeiro romance do segundo período de Dickens, quando a Inglaterra estava se tornando mais sombria. A Casa Desolada ataca, em particular, advogados e a lei, e ataca em geral, disse o Dr. White, um Sistema que está mais e mais no controle da sociedade, desmoralizando e esmagando as ovelhas inocentes. A política está perdendo a importância, e a aristocracia o contato com a realidade; mas um Sistema inumano avança, e terminará por colapsar sob sua própria falsidade, ao modo do Vaticano II, acrescentou o Dr. White.   
   
            Na manhã de domingo foi apresentada a terceira palestra, cujo tema foi Tempos Difíceis, outro de seus romances obscuros, que trata da completa ausência de verdadeira educação; e isso há 150 anos! Dickens sabia que sem a educação do coração os seres humanos se tornam frios e inumanos. O Dr. White se apoiou em suas décadas de ensinamento na Academia Naval dos EUA para destacar o retrato da imensa estupidez dos robôs sociais fabricados por uma “educação” que despreza a história, as artes, a música, a literatura e especialmente a poesia. O resultado, diz ele, é o desinteresse sem limites dos jovens de hoje, um reflexo do puro niilismo.

             No entanto, os participantes da conferência voltaram para casa sem se sentir desinteressados ou niilistas, mas muito revigorados. Deo Gratias.


Kyrie eleison.

domingo, agosto 10, 2014

Comentários Eleison: Israelenses, Israelitas?

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXIX (369) - (09 de agosto de 2014): 


ISRAELENSES, ISRAELITAS?


            Admitamos então (CE 368) que as ordens do Deus Todo-Poderoso para exterminar certos povos no Antigo Testamento (por exemplo: I Sm 15) foram atos de justiça e misericórdia para com os próprios pagãos, e um ato também designado para ajudar os israelitas a seguirem adiante na preparação do berço para a chegada, muitos séculos depois, do Deus Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo. Este berço os israelitas proporcionaram, especialmente a Santíssima Virgem Maria, a quem toda a raça humana tem uma dívida sem limites de gratidão. Quem quer de nós que chegue ao Céu, só o faz por sua intercessão.

            Então, que relação pode haver entre esses judeus por meio dos quais veio a salvação (Jo 4, 22), e os tantos judeus de hoje que estão massacrando os palestinos ou apoiando moralmente ou financeiramente o massacre? A maioria dos judeus de hoje são judeus Askenazi, e podem muito bem não ser descendentes de Abraão; mas seja como for, é certo que eles absorveram do Talmude, o livro sagrado do Judaísmo pós-cristão que Nosso Senhor chamou de “o fermento dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16, 11), que é o espírito de seus inimigos implacáveis que o crucificaram e têm combatido Sua Igreja desde então.  Como pode esse Povo Eleito ter se tornado consistentemente um dos Seus piores inimigos? (Se esta simples pergunta parece “antissemita”, nos recordemos que a verdade é boa, enquanto que o “antissemitismo” é mau; então, nenhuma verdade pode ser “antissemita”, e nada que seja “antissemita” pode ser verdade. O que se segue é a verdade, e nada tem que ver com o chamado “antissemitismo”).

            Em primeiro lugar, se o Povo Eleito se voltou contra seu Deus, o problema pode parecer cronológico, mas não é. Em todo o Antigo Testamento houve israelitas que se voltaram contra Deus, como, por exemplo, os adoradores do bezerro de ouro, ou os judeus exilados na Babilônia. Deus teve de punir frequentemente seu próprio povo “de dura cerviz” e rebelde. Da mesma forma, desde o início do Novo Testamento até os nossos dias houve sempre judeus notáveis convertidos, como São Paulo, que foi tão judeu quanto poderia sê-lo (cf. Rm 9, 1-5; II Co 11, 21-22; Fl 3, 4-6). A diferença entre os israelitas e os israelenses é a mesma diferença que sempre houve entre aqueles de qualquer raça que amam a Deus e aqueles que se rebelam contra Ele. A verdadeira linha “judaico-cristã” estende desde Abel, passando, por exemplo, por Abraão, Moisés, Davi e a Mãe de Deus até a Igreja Católica. A falsa linha “judaico-cristã”, mas verdadeiramente “judaico-maçônica” se estende desde o amaldiçoado Caim, passando, por exemplo, pelos assassinos dos profetas de Deus, por Anás e Caifás, até a moderna Maçonaria, que foi criada pelos judeus e continua controlada por eles com o propósito de lutar contra a Igreja Católica, ainda que muitos maçons ignorem este fato.

            Muito bem, mas não é especialmente acentuado o contraste entre israelitas e israelenses? Sim, porque como diz o velho ditado, “Quanto mais altos eles são, maior sua queda”. Como aqueles membros do Povo Eleito se recusaram a ser os servos especiais de Deus, como têm feito desde a Encarnação, acabaram sendo obrigados a se tornarem servos especiais do Diabo. Não houve para eles possibilidade de escolha entre uma coisa e outra. E o que estava por trás dessa recusa? Em uma só palavra: orgulho. Em vez de usar os dons especiais que Deus os deu para a Sua glória, eles os redirecionaram para a sua própria glória. Antes que o Messias chegasse, eles o conceberam erroneamente como seu salvador material ao invés de salvador espiritual, de modo que, quando Ele veio, eles se recusaram a reconhecê-Lo, e desde então lutam contra Ele por ter substituído sua religião mosaica racialmente exclusiva com a religião católica racialmente inclusiva, aberta a todas as raças.

            E o que os católicos podem fazer para resistir à esmagadora dominância material dos outrora Eleitos à nossa volta? Materialmente, quase nada, mas uma simples alma que esteja a orar espiritualmente e sinceramente para o reino de Deus vir, e para que seja feita a Sua vontade, pode fazer com que Deus mova montanhas, o que é brincadeira de criança para Ele, que permite esse domínio apenas para nos levar de volta para Si.


Kyrie eleison.

domingo, agosto 03, 2014

Comentários Eleison: um Deus Vingador?

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXVIII (368) - (02 de agosto de 2014): 

UM DEUS VINGADOR?

            O mais recente horrível ataque lançado contra os praticamente indefesos palestinos em Gaza suscita na mente de muitas pessoas um obstáculo ao verdadeiro culto ao verdadeiro Deus, pois é bem sabido que muitos dos israelenses de hoje alegam ter, desde o Antigo Testamento, o direito concedido por Deus de se apossar de todas as terras ocupadas pelos palestinos, se necessário, pela força. Uma pessoa razoável pode levantar duas questões: que tipo de Deus pode, mesmo remotamente, ser mobilizado para “justificar” tal bárbara crueldade, juntamente com completo desprezo por qualquer opinião do mundo que condene tal barbaridade? E que tipo de “Povo Eleito” é esse? A resposta a ambas as questões gira em torno de Nosso Senhor Jesus Cristo, quem, obviamente, é o centro de toda a história humana.     

            O Antigo Testamento conta a história da humanidade antes de Cristo, especialmente a história dos israelitas, o povo que Deus escolheu dentre o resto da raça humana para agir como berço do Deus Encarnado que haveria de descer do Céu: Jesus Cristo. Passados mil anos desde Adão, a humanidade tinha se tornado tão corrupta que Deus teve de lavar o mundo para removê-la, e recomeçar com as oito almas salvas na Arca de Noé. Passados outros mil anos, a humanidade estava novamente tão corrompida que Deus tirou Abraão da degenerada cidade de Ur para que viesse a ser o fundador de uma raça que deveria se manter limpa de toda contaminação humana circundante, e que deveria vir a ser limpa o suficiente para agir como aquele berço. Aqui está a origem dessa exclusividade racial observada nos judeus desde então. Tudo começou com Deus, mas caiu nas mãos do homem.
           
            Os judeus foram outrora de fato, por causa de Jesus Cristo, o Povo Eleito. A respeito disto, São Tomás escreveu um tremendo artigo na Suma Teológica, no qual ele mostra como cada simples detalhe na decoração do Templo exclusivo dos israelitas em Jerusalém apontava em direção a Jesus Cristo (Ia IIae, 102, 4). No entanto, para limpar a Terra Prometida a fim de que os israelitas a tomassem, não há dúvida de que o Deus Todo-Poderoso deu a eles mais de uma vez o comando para exterminar totalmente os pagãos que ocupavam a terra, e Ele puniu o Rei Saul severamente por não observar estritamente esse comando (I Sm 15). O que poderia justificar tal comando?

            É o que também explica o extermínio de toda a humanidade (exceto oito almas) por Deus no tempo de Noé. Em primeiro lugar, os pecados dos homens. Deus criou os homens para o Paraíso, e eles escolheram o pecado que leva ao Inferno. Pois de fato o pecado ofende antes de tudo a Deus. Então, o sentido de Deus e o sentido do pecado se perdem juntos, como se constata em tudo à nossa volta hoje em dia. Uma geração ateia como a nossa não tem como compreender a justiça de Deus. Em segundo lugar, a misericórdia de Deus, que anda de mãos dadas com a Sua justiça, e que é hoje em dia igualmente incompreendida. Mas tendo em vista a realidade do Inferno, não é por misericórdia que Deus põe fim à existência dos homens, de maneira que eles possam se arrepender antes que morram, ou, pelo menos, parar de pecar para que não caiam ainda mais profundamente no Inferno?

            Assim foi também com os inimigos pagãos dos israelitas no período entre Abraão e Jesus Cristo. Ler o Antigo Testamento é ver o quão frequentemente os israelitas foram tentados pelos pagãos que estavam em torno deles a abandonar o verdadeiro Deus e adorar demônios. Como disse uma vez o Cura d’Ars: “Retirem os sacerdotes, e dentro de vinte e cinco anos os homens estarão adorando bestas”. Os israelitas têm um crédito eterno por seu êxito em prover o berço para o Messias. São exemplos: São Joaquim e Santa Ana, especialmente sua filha, a Santíssima Virgem Maria, os doze Apóstolos e todos os outros bons israelitas que contribuíram para o início da Igreja Católica de seu Messias. Já no que diz respeito aos israelenses de hoje, veremos na próxima semana.  


Kyrie eleison.