domingo, julho 31, 2016

Comentários Eleison: Tomismo Essencial

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXII (472) - (30 de julho de 2016):


TOMISMO AUTÊNTICO

Verdade que é verdade exclui toda contradição.
“Verdade” que admite o erro é verdadeira ficção.


O modo como o modernismo pode combinar sinceridade aparente e boa fé com dissolução da verdade é tão perigoso para a fé real dos católicos que dificilmente consegue ser descrito ou analisado com muita frequência. A pergunta recente de um leigo tradicionalista provê outra oportunidade para fazê-lo. Ele pergunta se um sacerdote da Fraternidade Sacerdotal São Pio X estaria sendo sensato ao ler regularmente uma revista tomista conciliar, baseando-se no fato de que a FSSPX não forneceu até o momento esse material de leitura regular sobre o pensamento e a doutrina do grande filósofo e teólogo da Igreja, Santo Tomás de Aquino. A resposta é que é melhor que esse sacerdote, no mínimo, seja muito cuidadoso, porque o tomismo conciliar é uma contradição em termos reais que pode, em termos modernistas, facilmente fingir-se – e aqui está o problema – de não contraditório.


O tomismo conciliar é uma contradição em termos reais porque o ensinamento de Santo Tomás se esforça, e normalmente é bem sucedido, em se conformar à ordem una e única plantada nas coisas reais, fora de nossas mentes, pelo uno e único Deus real. De modo contrário, o Vaticano II procedeu de uma suposição de que o homem moderno desestabilizou essa ordem nas coisas, centrada em Deus e estática (ver a seção de abertura da “Gaudium et Spes”), e, portanto, para a religião de Deus fazer algum sentido para o homem moderno, deve ser remodelada em termos dinâmicos e centrados no homem, o que faz com que o tomismo não seja mais unicamente fiel à realidade, mas seja de algum modo antiquado.


Em termos modernistas o tomismo pode permanecer um monumento histórico do pensamento humano, um sistema intelectual magnífico, cuja lógica e consistência são totalmente admiráveis. Assim, os seminaristas da FSSPX, por exemplo, podem aprendê-lo como um catálogo telefônico, mas se eles se deixam levar pelo feitiço do Vaticano II, não verão mais o tomismo como o único modo de combater os erros modernos, e serão facilmente encantados e seduzidos por muitas outras maneiras mais “atualizadas” de pensar sobre o mundo. Resumindo, os modernistas não desafiarão o tomismo em seu próprio território, de fato eles poderão alegar que concordam totalmente com ele no território deles. Eles simplesmente alegarão que em tempos modernos o terreno foi modificado, e então o tomismo não é mais unicamente válido, ou já não é mais o único modo de chegar à verdade. Assim, os seguidores do Vaticano II podem realmente pensar que concordam com o tomismo, mas não concordam com ele absolutamente.
Deixemos a aritmética elementar ilustrar mais uma vez a questão. Dois e dois são quatro, e na vida real, na realidade, não podem ser nada mais, nem três nem cinco. Mas um aritmético moderno poderia dizer: “dizer que dois e dois são unicamente ou exclusivamente quatro, é ter a mente muito fechada. É muito mais criativo e progressista dizer que podem também ser cinco ou seis – vamos abrir a mente – seis milhões!”. E porque esse aritmético moderno não exclui dois e dois como sendo quatro, mas alegremente inclui isto em sua ampla mentalidade, ele pode acreditar sinceramente que sua aritmética não contradiz a velha aritmética. Mas quem não pode ver que na realidade ele está minando completamente a “antiga” e verdadeira aritmética? Aquela aritmética que corresponde à única realidade fora de nossas mentes não somente inclui que dois e dois são quatro, mas também exclui absolutamente que seja outra coisa. E é somente essa aritmética que corresponde àquela realidade única, ou seja, que é verdadeira. Assim a crença e o pensamento que correspondem à única ordem de realidade natural e sobrenatural de Deus existiram evidentemente por muitos séculos antes de Santo Tomás de Aquino (1225-1274). Ele simplesmente reuniu tudo em um sistema incomparável. Mas não é o sistema que faz com que sejam verdadeiros. O que os torna unicamente verdadeiros como um sistema é a sua correspondência única como um sistema com a realidade.
Portanto, se os escritores dessa revista tomista são também professos seguidores do Vaticano II, eles certamente não acreditarão que o tomismo seja, no sentido apresentado aqui, único. Nesse caso, eles podem ser chamados de “tomistas de catálogo telefônico”, mas seguramente não são verdadeiros tomistas. Será que o sacerdote supramencionado saberá fazer sempre a distinção? Não se ele está agora se permitindo ser conduzido pelo Vaticano II.

Kyrie eleison

terça-feira, julho 26, 2016

Comentários Eleison: Academia Diagnosticada

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXI (471) - (23 de julho de 2016)


ACADEMIA  DIAGNOSTICADA


Se à Academia faltam a rima e a razão,
É porque os homens da Igreja cometeram traição.



Quando Sua Excelência me perguntou, na qualidade de estudante de história, se eu concordava com ele que o fenomenismo agnóstico condenado na Pascendi seria a maior e única pista para entender a cena moderna, eu concordei superficialmente. A partir de então passei a me perguntar como os homens, especialmente os letrados, puderam algum dia levar a sério a insensatez de que a mente não conhece nada além dos fenômenos ou aparências. E recordei – depois de frequentar aulas universitárias pelos últimos três anos e meio e ouvir cuidadosamente alguns brilhantes professores que pareciam ter senso de realidade, e muitos outros que não – como eu mesmo comecei a questionar por que alguns têm um grande senso de realidade e outros, com os mesmos ou semelhantes graus de doutoramento, adotam ideias tão selvagens e irracionais. Permita-me dar-lhe a resposta deste observador de anos da cena acadêmica...

Depois de pensar um pouco, percebi que os professores mais lógicos eram católicos, porque na melhor das hipóteses eles podem ser conservadores, mas têm uma visão realística do mundo. As ideias e os conceitos que ensinam são, majoritariamente, sensatos. Por outro lado, os ensinamentos da maioria dos professores são atrapalhados, confusos e insensatos. Eles professam ideias bizarras e estranhas e as respaldam com meias verdades. Eles adotam quase toda noção que esteja em voga, como o aquecimento global ou a mudança climática (a nova “evolução”) e a apresentam como verdade. Seu raciocínio por detrás dessas noções é pura insensatez e não resiste a um escrutínio minucioso. Comecei a questionar: como homens tão letrados podem ser tão ignorantes? Depois de muito pensar, encontrei o que, estou seguro, é a verdadeira resposta.

Dado que os professores que são mais sensatos são homens que ao menos se esforçam para ser católicos, há razão em pensar que possuem algo que os pagãos não têm. Antes da revolta de Martinho Lutero, a maioria dos acadêmicos ou homens letrados eram católicos que usavam sua razão e possuíam senso comum, de modo que todos ensinavam e acreditavam na mesma verdade. Quando Lutero fez estragos na Igreja, também fez estragos em muitos clérigos letrados e professores universitários. Em particular, sua nova religião eliminou o Sacramento da Confirmação pelo qual sabemos que os católicos recebem os sete dons do Espírito Santo, quatro dos quais para a mente: Ciência, Sabedoria, Entendimento e Conselho. Todos os quatro faltam aos professores agnósticos de hoje. Estes podem ser gente bem educada, erudita, mas não podem fazer uso de seu conhecimento de uma maneira racional ou aplicá-lo à realidade. Como Pio X diz, eles desenvolvem fantasias e apresentam-nas como verdades, e, mais ainda, convencem-se de que são brilhantes quando, de fato, estão chafurdando em ignorância. Eles são do culto do 2 + 2 = 5! E são orgulhosos dele.

Nessa teoria, a atual destruição da academia proveria do abandono de Lutero do sacramento da Confirmação e do fato de as universidades da Europa terem-se tornado menos e menos católicas. Eventualmente, milhares de professores que se lançaram ao mundo da academia foram educados para além de sua habilidade de raciocinar. Na falta de Ciência, de Sabedoria, de Conhecimento e de Conselho, em seu sentido mais alto, como dons de Deus, eles desenvolveram nas universidades a panóplia dos erros de hoje, ou “ismos”. Por exemplo, afirmar que o aquecimento global destruirá o homem e o mundo é insensatez pura; e isso é ainda ensinado e crido nas universidades modernas, como se fosse 2 + 2 = 4. E essas ideias venenosas são engolidas pela juventude ingênua nas universidades, como biscoitos no chá da tarde, especialmente a ideia de que a Verdade é meramente o que cada um de nós acredita que seja, e a Razão que se dane.

Assim, segue que quando o Vaticano II escolheu seguir as pegadas de Lutero ao abandonar a Tradição e ao “renovar” o sacramento da Confirmação, de modo a ameaçar sua validade, os católicos também puseram em perigo os dons do Espírito Santo, e perderam correspondentemente a habilidade de pensar, porque a Confirmação da Neoigreja agora se destina somente a torná-los “cristãos melhores”.


Kyrie eleison

segunda-feira, julho 18, 2016

Comentários Eleison: Brexist - Spexit?

Comentários Eleison CDLXX (470), 16 de julho de 2016

 BREXIT – SPEXIT?

Por Dom Richard Williamson
Tradução: Cristoph Klug

Enquanto Menzingen pelas sirenes de Roma é encantado,
Para manter a Fé, guerra avisada não mata soldado.

Existe algo chamado “Zeitgeist”, ou espírito da época. Uma prova seria o paralelo que pode ser estabelecido entre o plebiscito da Grã-Bretanha de 23 de junho para renunciar ao abraço da quase comunista União Europeia, e a reunião de Superiores da FSSPX em 28 de junho com o Comunicado de Dom Fellay de 29 de junho declarando que a Fraternidade agora renuncia ao abraço da Roma neo-modernista – “Spexit”, para abreviar. Mas assim como o “Comentário” da semana passada sugeriu que o Brexit seria admirável, mas duvidosamente eficaz, poder-se-ia temer que o São-Pio-Exit poderia ter tranquilizado muitos bons católicos por pensar que a Fraternidade recuperou o rumo, mesmo que em poucos dias a Roma oficial e Mons. Fellay tenham voltado a dizer que os contatos continuam...

A base do paralelo é a apostasia que caracteriza a Quinta Época da Igreja, desde 1517 até 2017 (ou mais além), pela qual os povos do mundo, lenta porém progressivamente têm dado suas costas a Deus para substituí-lo pelo Homem. Mas sua consciência não está tranquila no processo. Consequentemente, exteriormente eles anelam a liberação de Deus e os benefícios materiais da Nova Ordem Mundial. Assim, um bom instinto antigo levou os britânicos a votar para tornarem-se independentes do Comunismo, mas sendo quase todos materialistas ateus, eles são comunistas sem o nome, e então agora dificilmente sabem o que fazer com o seu Brexit. Assim, pode-se temer que haja mais no “Spexit” do que parece.

Por exemplo, o excelente site hispânico “Non Possumus” assinalou que quando o Comunicado de 29 de junho diz que se espera um Papa “que favoreça concretamente o retorno à Santa Tradição” (2+2=4 ou 5), isto não é a mesma coisa que um Papa “que tenha voltado à Tradição” (2+2=4, e exclusivamente 4). Muito menos é tranquilizador que em 2 de julho Dom Fellay tenha convocado para uma quinta Cruzada de Rosários, já prevista em 24 de junho como uma possibilidade pelo padre Girouard, no oeste do Canadá. Recordando como Dom Fellay mostrou como presentes da Mãe de Deus, tanto a duvidosa liberação do verdadeiro rito da Missa no Summorum Pontificum em 2007, como o “levantamento” das “excomunhões” inexistentes em 2009, o padre Girouard teme que um reconhecimento unilateral da Fraternidade por parte da Roma oficial possa ser mesmo assim apresentado como uma resposta d’Ela a essa nova Cruzada de Rosários. Eis aqui como o padre Girouard imagina o reconhecimento sendo apresentado por Dom Fellay:

“Na Cruzada pedimos pela proteção da Fraternidade. Graças aos 12 milhões de Rosários, a BVN obteve para nós, do Coração de Seu Filho, essa especial proteção! Sim, o Santo Padre firmou esse documento onde ele nos reconhece a nós e nos promete dar sua proteção pessoal para que possamos continuar “como somos”. Esse novo presente de Deus e da BVM é verdadeiramente um novo meio dado a nós pela Divina Providência para continuar melhor nosso trabalho para a extensão do Reinado Social de Cristo! Isso é também a reparação de uma grave injustiça! É verdadeiramente um sinal de que Roma mudou para melhor! Nosso venerável fundador, Dom Lefebvre, teria aceitado esse presente providencial. Certamente, podemos estar seguros de que ele uniu suas orações às da BVM para obtê-lo de Nosso Senhor, e que ele está agora regozijando-se com Ela no Céu! Em ação de graças por esse maravilhoso presente da Providência, renovemos oficialmente a consagração da Fraternidade aos Corações de Jesus e Maria, e tenhamos um Te Deum cantado em todas as nossas capelas!”

Neste panorama, acrescenta o padre Girouard, a qualquer pessoa que rejeite a reunião da Fraternidade com Roma se fará parecer como se estivesse resistindo a Deus e desprezando a Sua Mãe.

Esses temores são no momento apenas imaginários. O que é certo é que o “Spexit” de 25 a 28 de junho não terá de forma alguma retirado a resolução de Dom Fellay de conduzir a Fraternidade de Dom Lefebvre aos braços de Roma neomodernista. Para ele, esse é o único caminho a seguir, em contraposição a “desprezar aos bons Romanos” e “estancar-se” em uma resistência que está fora de moda e já não é relevante para a evolução da situação.


Kyrie eleison.

Comentários Eleison: Brexit, sério?

Comentários Eleison CDLXIX (469), 9 de julho de 2016 

– BREXIT – SÉRIO?

Por Dom Richard Nelson Williamson
Tradução: Cristoph Klug

O Brexit nos lembra mais uma vez ­– 
Edificar sem Deus é insensatez. 

Muitos leitores destes “Comentários” devem estar supondo que, como um inglês a quem nada agrada a Nova Ordem Mundial, devo estar em regozijos sobre o resultado do plebiscito recente do povo britânico, que ainda que por uma margem relativamente pequena decidiu deixar a União Europeia quase-comunista. Desgraçadamente, devo admitir que tudo o que aprendi durante as últimas décadas sobre a NOM faz-me duvidar de que a aparente saída da Grã-Bretanha finalmente culminará em uma reafirmação do que alguma vez foi o melhor na Grã-Bretanha. Atravessando o Atlântico, da mesma forma, poderia gostar de Trump e odiar Hillary, mas seguramente os dois foram colocados juntos para teatralizar para nós um show de marionetes Colombina e Arlequim. 

Tomem, por exemplo, concernente ao Brexit, o artigo de 24 de junho de um americano de alto nível que diz a verdade, Paul Craig Roberts (ver paulcraigroberts.org), sobre por que “Apesar do voto, as probabilidades estão contra o Reino Unido em deixar a União Europeia”. Ele escreve: “O povo britânico não deveria ser tão cândido ao ponto de pensar que o voto resolve a questão. A luta apenas começou”. Ele adverte o povo britânico a esperar que: seu governo se volte para eles e lhes diga que a União Europeia está oferecendo um melhor tratamento, então fiquemos; que a Reserva Federal, o Banco Central Europeu, o Banco do Japão e os Fundos especulativos de Nova York golpeiem a libra esterlina como prova de que o voto Brexit está ruindo a economia britânica (esse golpe já ocorreu); que o voto Brexit seja mostrado como tendo debilitado a Europa frente à “agressão russa” (agressão que é uma fabricação da NOM); que os líderes do Brexit sejam pressionados para alcançar um compromisso com a União Europeia; etc. E Robert diz que os leitores podem imaginar por si mesmos muito mais de tais probabilidades, recordando-os como a Irlanda votou contra a Europa há anos até que foi pressionada a votar a favor. 

Contudo, em henrymakow.com/2016/06/ brexit-what-is-the-globalist-game, há outro artigo que em minha opinião aprofunda ainda mais, porque Henry Makow vai mais além por trás do show de Colombina e Arlequim. Makow tem a vantagem de ser o que os globalistas sem dúvida chamam “antissemita”, ou melhor, um “detestador de judeus” porque Makow mesmo é um judeu. Verdadeiramente, somente aqueles aliados ao Messias, o Cristo, podem avaliar corretamente o Anticristo. 

A tese do artigo é que “os favoráveis ao Brexit lamentavam como o Establishment se alinhou contra si mesmo, sendo que, na realidade, o contrário é que é verdade”. Para provar essa tese o artigo nomeia em sua causa numerosos políticos britânicos, tanto Conservadores como Trabalhistas, que são mais ou menos fervorosos globalistas e que fizeram campanha a favor do Brexit (deve ser fácil conferir os nomes para quem quer que o queira). Do mesmo modo, em relação aos veículos de mídia britânicos, o artigo elenca numerosas revistas e jornalistas que normalmente promovem o globalismo, e que fizeram campanhas favoráveis ao Brexit. Então, o que foi o Brexit? O artigo dá crédito a Putin por estar muito mais perto da verdade ao ter sugerido que foi para “chantagear” a Europa a fim de estabelecer melhores termos com o Reino Unido. O artigo vai mais além: o Brexit foi pensado para forçar a Europa a “render-se completamente aos Sionistas Anglo-Americanos, belicistas e privatizadores corporativos”, e o artigo conclui que o Brexit não foi “com toda a certeza, um triunfo contra o globalismo”. E o mesmo Makow acrescenta: “Evidentemente os poderes estabelecidos decidiram que a Inglaterra fora da Europa, mais que dentro dela, pode ser um instrumento mais efetivo da tirania mundial do banco central maçônico”. 

Talvez essas especulações (mas não o nível delas) não sejam corretas, mas o que é mais certo é: de que valem a Europa ou o Reino Unido sem Deus? Construir sem Ele é construir em vão, diz o Salmista. Por outro lado, quem em todo esse debate menciona sequer uma vez Seu nome? Se o Brexit pudesse chegar a ser algo verdadeiramente positivo, precisaria de um líder com visão. Sem Deus, de onde proviria ele? 


Kyrie eleison.

sexta-feira, julho 01, 2016

Comentários Eleison: Descarrilem o comando


Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXVII (467) - (25 de junho de 2016)

DESCARRILEM O COMANDO


A Fraternidade ainda não afundou, mas está prestes a afundar.
Rezem por seus líderes, que como bêbados estão a cambalear.

Alguns católicos que amam a Igreja e compreendem o que a Fraternidade São Pio X poderia e deveria estar fazendo por ela sentiram-se recentemente acalentados pelas palavras de um de seus bispos. Eles pensaram que talvez a Fraternidade ainda pudesse voltar atrás mesmo estando à beira de um acordo por meio do qual ela se poria a si mesma sob o controle de alguns dos (objetivamente) piores inimigos da Igreja em toda sua história: os oficiais neomodernistas da Roma de hoje. De fato, houve muitas boas coisas ditas por Dom de Galarreta em seu sermão de ordenações em 3 de junho, em Winona, Minnesota, antes de sua mudança para Virginia, mas nenhum amigo da Fé católica deveria suscitar esperanças muito grandes.

Seu sermão começou conectando o sacerdócio católico a Nosso Senhor Jesus Cristo como o único Caminho, Verdade e Vida. Mas, continuou ele, há hoje na Igreja um relativismo na doutrina que abre as portas ao relativismo na moral e a escândalos como os do recente Sínodo Romano, que considerou, inclusive, dar a Sagrada Comunhão a casais divorciados e “recasados”. O bispo disse que esses escândalos estavam arraigados no Vaticano II, e ele castigou o Concílio como sendo a má árvore do qual eles são meramente os lógicos maus frutos. Pois bem, Monsenhor Pozzo suscitou esperanças várias semanas atrás de que a Fraternidade, para obter o reconhecimento oficial de Roma, poderia não ter de aceitar o Concílio, mas o bispo corretamente assinalou que ambos, o papa Francisco e o cardeal Mueller, têm desde então frustrado tais esperanças ao deixar claro que o reconhecimento da Fraternidade por parte deles ainda requererá tal aceitação.

O bispo concluiu, “Consequentemente, é também claro que a luta (da Fraternidade) continua. Como disse nosso Superior Geral, Dom Fellay, se temos de escolher entre a fé e um compromisso, a escolha já está feita: não ao compromisso”. Palavras de combate, mas o bispo imediatamente acrescentou uma possível via de escape, do tipo que já nos é familiar quando vindas dele: “Deus pode certamente mudar as circunstâncias e colocar-nos numa situação diferente da qual todos nós esperamos”. Não poderiam as “circunstâncias mudadas” incluir algum engenhoso entendimento agradável a Roma e ao Superior Geral, o qual este último aceitaria? (De nada adiantou Dom de Galarreta ter pouco antes citado palavras do Superior Geral que vão de encontro à própria política deste, suas próprias palavras não definem normalmente esse Superior Geral.)

O que fortemente sugere que as palavras de combate não correspondem de fato às intenções pessoais do Superior Geral é a velocidade com que o texto, com elas inclusas, foi retirado (para ser manipulado ou descartado?) do site oficial da Fraternidade nos EUA, tão logo fora colocado lá. Que oficial de menor escalão da Fraternidade pode ter dado a ordem de praticamente desautorizar as palavras de um de seus próprios bispos? Essa suspeita é confirmada por uma conferência dada em 5 de junho pelo segundo comandante da Fraternidade aos paroquianos da igreja da Fraternidade em Houston, Texas, e não desautorizada desde então pelo Quartel General (comentários em itálico):

O Pe. Pfluger disse que não há nada de errado em continuar com Roma (ilusão); que a Fraternidade irá como ela é (ilusão): que ela deve-se mover com os tempos, e que agora é a hora de estar em Roma (ilusão); que o Arcebispo Lefebvre também se contradisse a si mesmo muitas vezes em seu tempo (ilusão – veja o “Comentário Eleison” de 11 de junho); e, finalmente, que aqui e agora devemos confiar em Dom Fellay (depois de todas as suas “inexatidões terminológicas”? – ilusão!). Mas o primeiro assistente da Fraternidade tem total liberdade para dizer tais coisas, porque elas são fiéis ao impulso que a Fraternidade dá em cima de si mesma para colocar-se sobre o controle romano.

Concluindo, queridos leitores, em nome de todo o bem que a verdadeira Fraternidade poderia e deveria estar fazendo para a Igreja Universal, por todos os meios, rezem para que um milagre descarrile este comando até Roma, e exerça qualquer pressão possível sobre os Superiores que tomarão parte na reunião do fim de junho (que não é ainda um Capítulo Geral, mas que prepara para a fatalidade) para que eles se façam a si mesmo instrumentos de Deus no descarrilamento dessa direção.

Kyrie eleison.