domingo, abril 26, 2015

Comentários Eleison: A Cultura Importa!

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDVI (406) - (25 de abril de 2015): 

A CULTURA IMPORTA!

Caso lhe seja possível, venha ao Dr. White escutar,
Para a verdadeira Fé com o homem moderno corretamente relacionar.


            Da tarde da sexta-feira dia 1º de maio, até o meio-dia do domingo, 3 de maio, será proferida aqui na Casa Rainha dos Mártires, Broadstairs, outra palestra do Dr. David White. Tal como o fez no ano passado sobre Charles Dickens, neste ano falará sobre T. S. Eliot (1888 – 1965), outro gigante da literatura inglesa com uma conexão direta com este canto da Inglaterra. Foi em um pavilhão ao ar livre com vista para a praia de Margate, que fica a cerca de oito quilômetros ao norte de Broadstairs, que entre outubro e novembro de 1921 o poeta anglo-americano mundialmente famoso retomou a caneta e compôs umas cinquenta linhas da terceira das cinco partes do poema mais influente do século XX, ao menos na língua inglesa: A Terra Desolada (1922).
           
            O poema é um retrato brilhante do vazio nos corações e nas mentes dos homens logo após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Em A Terra Desolada, Eliot criou um novo modo fragmentário de escrever poesia, que capturou a condição espiritual fragmentada do homem moderno. Por sua compreensão ampla e profunda das obras de arte do passado, notadamente Dante e Shakespeare, Eliot foi capaz de dar forma à pobreza espiritual dos tempos atuais. Por exemplo, em seis linhas do poema que estão claramente conectadas a Margate, uma das três meninas da classe trabalhadora conta como perdeu sua honra por nada, e para iluminar o vazio das vidas das três donzelas, as palavras destas estão enquadradas em fragmentos da canção das três donzelas do Reno, que abre e fecha a visão cósmica do épico de Wagner, O Anel do Nibelungo.
           
            O vazio e o nada. Por que raios os católicos devem se preocupar com autores tão deprimentes? A salvação é por Nosso Senhor Jesus Cristo, não pela cultura, especialmente não pela cultura niilista. Uma resposta particular concerne a T. S. Eliot. Uma resposta geral concerne a toda a “cultura”, definida como aquelas narrativas, pinturas e músicas com as quais todos os homens de todas as épocas não podem deixar de suprir e formar seus corações e mentes.

            Quanto a T. S. Eliot, ele mesmo logo descartou que A Terra Desolada se tratasse de “resmungos rítmicos”, e poucos anos depois veio a se tornar membro da Igreja Anglicana. Ele deu brilhante expressão ao nada moderno, mas não chegou a chafurdar nele. Passou a escrever um número de peças e especialmente o longo poema dos Quatro Quartetos, que não são de modo algum niilistas, e sobre os quais o Dr. White, que adora Eliot, estará também falando em Broadstairs em alguns dias. Depois de ter entendido honestamente o problema, Eliot não tomou nenhuma solução de avestruz, como têm feito os inúmeros católicos que se deixaram levar pelo Vaticano II.   

            Pois, decerto, a cultura em geral está para a religião (irreligião), como os subúrbios estão para o centro da cidade. E, assim como um general militar que tem a tarefa de defender uma cidade seria tolo de deixar os subúrbios serem ocupados pelo inimigo, assim também nenhum católico preocupado com a sua religião pode estar indiferente às narrativas, pinturas e músicas que estão a moldar as almas em torno dele. É claro que a religião (ou irreligião) é central na vida humana, e comparada a ela, a “cultura” é periférica, pois a cultura do homem é, no fundo, um produto derivado de sua relação com seu Deus. No entanto, a cultura e a religião interagem. Por exemplo, se muitos católicos não estivessem enfeitiçados pela “Noviça Rebelde”, eles teriam se deixado levar tão facilmente pelo Vaticano II? Ou, se os atuais líderes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X tivessem, ao contrastar a cultura católica com a anticultura moderna, se atido à profundidade do problema moderno, estariam agora pretendendo voltar a se submeter aos perpetradores do Vaticano II? A cultura pode importar tanto como o Céu e o Inferno!


Kyrie eleison. 

sábado, abril 18, 2015

Comentários Eleison: Bom Senso Sobre a Vacância da Sé

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDV (405) - (18 de abril de 2015): 


BOM SENSO SOBRE A VACÂNCIA DA SÉ – I

Concílios da Igreja podem desligar um Papa herege,
Mas Cristo o depõe, pois de sua total destruição Ele a protege.


            Os sacerdotes Dominicanos de Avrileé, França, fizeram a todos nós um grande favor ao republicar as considerações sobre a Sé vacante de Roma escritas há uns quatrocentos anos por um famoso teólogo tomista da Espanha, João de Santo Tomás (1589-1644). Por ser um fiel sucessor de Santo Tomás de Aquino, ele se beneficia daquela sabedoria superior da Idade Média, época em que os teólogos podiam medir os homens por Deus ao invés de medir Deus pelos homens, uma tendência que começou como uma necessidade (se as almas não podiam mais tomar a penicilina medieval, teriam de tomar um remédio menos eficaz), mas que culminou no Vaticano II. Eis aqui, de forma bem resumida, as principais ideias de João de Santo Tomás sobre a deposição de um Papa:

I Pode um Papa ser deposto?
Reposta: sim, pois os católicos são obrigados a se separar dos hereges depois destes terem sido advertidos (Tt 3, 10). Além disso, um Papa herético põe toda a Igreja em um estado de legítima defesa. Mas o Papa deve ser primeiro advertido tão oficialmente quanto seja possível, para que possa se retratar. Também sua heresia deve ser pública, e declarada tão oficialmente quanto seja possível, para evitar confusão generalizada entre os católicos, vinculados entre si pela obediência.

II Por quem ele deve ser oficialmente declarado herege?
Resposta: não pelos Cardeais, porque embora eles possam eleger um Papa, não podem depor nenhum, porque é a Igreja Universal que é ameaçada por um Papa herético, e então a maior autoridade universal possível da Igreja é a única que pode depô-lo, a saber, um Concílio da Igreja composto de um quorum de todos os Cardeais e Bispos da Igreja. Estes poderiam ser convocados não autorizadamente (o que só o Papa pode fazer), mas entre eles.

III Por qual autoridade poderia um Concílio da Igreja depor o Papa?
(Aqui está a principal dificuldade, porque Cristo dá ao Papa poder supremo sobre toda a Igreja, sem exceção, tal como o Vaticano I definiu em 1870. Já João de Santo Tomás deu argumentos de autoridade, razão e Direito Canônico para provar esse supremo poder do Papa. Então, como pode um Concílio, sendo inferior ao Papa, ainda assim depô-lo? João de Santo Tomás adota a solução fornecida por outro famoso teólogo dominicano, Tomás Caetano (1469-1534). A deposição do Papa por parte da Igreja cairia não sobre o Papa enquanto Papa, mas sobre a ligação entre o homem e seu Papado. Isso pode parecer um tanto sutil, mas é lógico.)

            Por um lado, nem mesmo o Concílio da Igreja tem autoridade sobre o Papa; mas por outro lado, a Igreja é obrigada a evitar os hereges e a proteger o rebanho. Portanto, como em um Conclave os Cardeais são os ministros de Cristo para vincular esse homem ao Papado, mas somente Cristo dá a ele sua autoridade papal; assim o Concílio da Igreja seria por sua declaração solene os ministros de Cristo para desvincular esse herege do Papado, mas somente Cristo, por sua autoridade divina acima do Papa, poderia autorizadamente depô-lo. Em outras palavras, o Concílio da Igreja deporia o Papa não autorizadamente, mas apenas ministerialmente. João de Santo Tomás confirma esta conclusão com base no Direito Canônico da Igreja, que afirma em muitos lugares que somente Deus pode depor o Papa, mas que a Igreja pode julgar sua heresia.

            Infelizmente, como assinalam os Dominicanos de Avrilée, quase todos os Cardeais e Bispos da Igreja hoje estão tão infectados pelo modernismo que não há esperança humana de um Concílio da Igreja que veja de modo claro o bastante para condenar o modernismo dos Papas conciliares. Nós podemos apenas orar e esperar pela solução divina, que virá na boa hora de Deus. A seguir: não estaria um Papa automaticamente deposto por uma simples heresia sua?


Kyrie eleison. 

sábado, abril 11, 2015

Comentários Eleison: Fé Debilitada

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDIV (404) - (11 de abril de 2015):

FÉ DEBILITADA


Quando a Fé não está em jogo, deve-se obedecer?
A fé da Fraternidade está hoje de debilidade a padecer.


            O editorial em um boletim recente de um Priorado, escrito por um honrado colega da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, mostra uma das principais razões pelas quais os sacerdotes da Fraternidade até o momento não se uniram à “Resistência” – eles ainda não acreditam que a Fé esteja em jogo. Gostaríamos de saber o que mais seria preciso para convencê-los. Isso reforça a certeza de que os líderes no Quartel General da FSSPX estão convencidos de que eles mesmos não estão mudando a Fé, o que faz com que seja muito mais fácil continuar persuadindo os sacerdotes e leigos da Fraternidade de que eles não estão mudando a Fé. Mas, se eles tivessem a Fé verdadeira, como poderiam estar sonhando em pôr sua defesa lefebvriana sob o controle dos neomodernistas em Roma?

            O título do editorial é “Obedecendo aos Superiores Falíveis”. Ele reconhece que a resistência a Superiores falíveis é legitima quando a Fé está em jogo, mas o editorial enfatiza mais os limites que devem ser definidos para tal resistência: anarquia e desrespeito à autoridade nunca são lícitos; obediência aos Superiores legítimos é essencial em qualquer sociedade; os Superiores têm graças especiais de Estado; deve-se ter cuidado ao alertar o rebanho que não pode fazer as distinções necessárias; há um perigoso espírito de independência circulando pelo mundo atualmente (Bento XV); nomes ofensivos devem ser evitados, etc. – os princípios são impecáveis. O problema reside em sua aplicação.

            Por exemplo, enquanto evita nomes ofensivos, o editorial reconhece, no entanto, que Pio IX classificou os “católicos liberais” como os “piores inimigos” da Igreja. De fato, em qualquer crise da Igreja, identificar e nomear os inimigos da Igreja – como se fez, por exemplo, com os “Protestantes” da Reforma – é o primeiro grande passo para se poder combatê-los. O autor do editorial indubitavelmente admitiria isso nas situações em que a Fé está em jogo, enquanto seguiria negando que há alguma crise de Fé dentro da Fraternidade. Mas Padre, o senhor acha que os católicos liberais do século XIX que foram objeto da condenação de Pio IX teriam negado nem que fosse um dos Artigos de Fé? Pelo contrário, eles teriam vigorosamente afirmado sua crença em cada um deles. E, no entanto, eles não condenaram com o mesmo vigor o Sílabo dos Erros de Pio IX? O problema que há para que uma mente moderna seja católica reside não em sua aceitação ou rejeição de alguma verdade de Fé, mas em sua subversão instintiva de qualquer verdade que seja; e essa espantosa dissolução da mente é, sem um milagre divino, um problema virtualmente insolúvel para e da Fé.

            E isso atingiu a cúpula da Fraternidade. Padre, o senhor reconhece que a “hermenêutica da continuidade” de Bento XVI equivale à suspensão da lei da não contradição? Já estudou o parágrafo III.5 da Declaração Doutrinal de abril de 2012 de Dom Fellay, um documento que ele circunstancialmente “retirou”, mas do qual nunca substancialmente se retratou? Ele afirma que as declarações não Tradicionais do Vaticano II devem ser interpretadas como Tradicionais. Isso não é um exemplo perfeito de “hermenêutica da continuidade”, de interpretação se exaltando sobre a realidade? Então você realmente acha que a Fraternidade não tem problema de fé quando seu Superior se une a Roma para suspender a lei da não-contradição, e nada, tão alegremente quanto um peixe n’água, em contradições e no que Churchill graciosamente chamou de “inexatidões terminológicas”?

            De qualquer forma, o senhor também diz que todo aquele que “duvida de que a hierarquia ainda possa existir no início do século XXI exclui a si mesmo da vida católica”. Façamos uma distinção: se alguém duvida disso em princípio, pode-se concordar com o senhor; mas se este alguém está simplesmente a relatar o que se observa na prática, não pode ser que esteja meramente a observar a extensão, um século mais tarde, daquilo que você mesmo menciona: o que Bento XV já em 1914 observava como “o perigoso espírito de independência”?

Kyrie eleison

segunda-feira, abril 06, 2015

Comentários Eleison: Enfermidade imaginária

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDIII (403) - (4 de abril de 2015): 

ENFERMIDADE IMAGINÁRIA


Parece que os Papas conciliares Nosso Senhor abandonou?
Não se a sua perda integral da fé Ele evitou.


            A iniqüidade dos verdadeiros Papas, que estão constantemente a destruir tudo o que é católico, é tão misteriosa que há quatro semanas nestes “Comentários” nós vimos Dom Lefebvre a considerar seriamente se a Sé de Roma estaria vacante. Ele nunca pretendeu, como fazem os liberais, que a destruição não seria de fato destruição, mas ao mesmo tempo o senso que tinha sobre a Igreja era forte o bastante para que viesse a adotar a solução sedevacantista. Então, ao menos em agosto de 1976, o problema lhe pareceu “teologicamente insolúvel”. Estes “Comentários” sugeriram que poderia haver outra linha de solução que pessoas com a mente tão sã como a do Arcebispo dificilmente chegariam a imaginar. Mas vamos tentar imaginá-la.  

            A fim de ridicularizar esta solução, um sedevacantista inveterado apelidou-a certa vez de “mentevacantismo”; mas este rótulo lhe serve. Ela não implica dizer que a Sé de Roma está vacante, mas que as mentes dos Papas estão vacantes, ou, melhor dizendo, suas mentes se desfizeram do senso de realidade, suas mentes estão vazias de realidade. Especialmente desde a Reforma Protestante, os homens têm cada vez mais se liberado de Deus. Para fazê-lo, eles devem liberar suas mentes da realidade que os circunda, porque toda a realidade vem de Deus e aponta de volta para Ele. Aqui está a ilusão liberal, a derradeira liberação, conhecida também como “podridão mental”, “doença mental” ou “mentevacantismo”, porque a mente humana foi projetada por Deus para explorar a realidade, e não a fantasia ou a ilusão.

            Pois bem, de 1517 a 1958 os Papas católicos resistiram e repeliram constantemente a podridão mental que engolia o resto do mundo que já marchava lentamente rumo ao fim; mas um sem número de católicos: leigos, sacerdotes, bispos e finalmente cardeais, foram sendo progressivamente infectados com a ilusão liberal, vindo a se convencer de que ela criaria uma admirável Igreja nova para o Admirável Mundo Novo. Assim, no conclave papal de 1958, por exemplo, ainda que o Cardeal Siri tenha sido validamente eleito, os liberais tinham bastante poder para forçar a falsa eleição de João XXIII sobre o Conclave, e então, por convalidação, sobre a Igreja Universal.
           
            Mas o que é um liberal? Ele é um sonhador, a viver não no mundo real, mas em um País das Maravilhas fabricado pelo homem. Contudo, quanto mais e mais as mentes humanas se desligam da realidade e se lançam no sonho, menos e menos oportunidades ele tem de realizar seu propósito, porque mais e mais o mundo todo ao seu redor está sendo substituído pelo País das Maravilhas. Isto significa que nos tempos modernos é cada vez mais fácil para um homem – e todo Papa continua sendo homem – estar objetivamente no País das Maravilhas e, no entanto, estar subjetivamente convencido de que está na realidade. Eis a doença mental observada em primeira mão por um sacerdote da FSSPX em todos os quatro “teólogos” romanos que tomaram parte nas discussões entre Roma e a FSSPX entre 2009 e 2011 (reparem nas aspas para os teólogos: no País das Maravilhas tudo é uma imitação irreal do real, então, sem nenhum sinal como as aspas, nós facilmente tomamos a imitação pela realidade).           

            Segue-se que os Papas conciliares estão, ao menos em parte, “sinceramente” equivocados. Se essa “sinceridade” é internamente válida, só Deus pode julgar. Mas externamente ela é uma realidade objetiva, mais e mais presente à nossa volta em nosso dia a dia. Portanto, os Papas conciliares não são vilões inteiramente conscientes, porque em suas mentes enfermas eles estão servindo à verdadeira Igreja ao tornar irreconhecível a antiga Igreja pelo processo de transformação em País das Maravilhas. Agora, suas intenções subjetivamente boas têm objetivamente pavimentado o caminho do Inferno para a verdadeira Igreja, mas não se pode dizer que essas boas intenções mostram que a oração do Pai Nosso tem segurado sua fé para que não falhe completamente (cf. Lc 22, 32)? Mesmo Paulo VI condenou a contracepção, emitiu um “Credo” relativamente bom, chorou pela perda das vocações, e falou da fumaça de Satanás entrando na Igreja depois do Vaticano II. Pode então alguém não dizer que mesmo com Paulo VI Nosso Senhor manteve sua promessa de cuidar de Pedro?


Kyrie eleison.