sábado, setembro 27, 2014

Comentários Eleison: Castigo Chegando

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXXVI (376) - (27 de setembro de 2014): 

CASTIGO CHEGANDO


            Padre Constant Louis Marie (1876-1966) não é um nome bem conhecido entre as almas a quem Deus deu a ciência de como irá corrigir o mundo atual, mas foi, para os que o conheceram, um sacerdote muito próximo de Deus. Doutor em teologia, professor de seminário, fundador de um convento para mulheres e de um seminário para homens, com uma grande devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, ele foi inclusive amigo do Padre Pio, que disse sobre ele a alguns peregrinos franceses em San Giovanni Rotondo: “Por que vocês vêm me ver quando têm tão grande santo na França?”.

            Padre Pel passava noites na igreja, em pé e com a fronte apoiada no Tabernáculo, conversando com Deus em um estado de êxtase permanente. Morreu num acidente de carro logo depois do Vaticano II, mas não antes que um seminarista, um de seus filhos espirituais, tivesse a chance de anotar uma profecia sua, datada de 1945, referente ao castigo que atingiria especialmente a França. Aqui está, citada, ou abreviada:

            “Meu filho”, disse o Pe Pel, “saiba que com os pecados do mundo aumentando em horror à medida que esta época avança, grandes castigos de Deus descerão sobre a terra, e nenhum continente será poupado de Sua Ira. A França, por ser culpada de apostasia e por negar a sua vocação, será severamente castigada. Ao leste de uma linha que se estende desde Bordeaux, no sudoeste, até Lille, no nordeste, tudo será devastado e incendiado pelos povos invasores do oriente, e também por grandes meteoritos em chamas que cairão como uma chuva de fogo sobre toda a terra, e especialmente sobre essas regiões. Revoluções, guerras, epidemias, pragas, gases químicos venenosos, terremotos violentos e um novo despertar de vulcões extintos na França destruirão tudo...

              A França a oeste daquela linha será menos afetada... devido à fé enraizada na Vendeia e na Bretanha... mas qualquer dos piores inimigos de Deus que ali buscar refúgio do cataclismo mundial será encontrado, onde quer que se esconda,  e condenado à morte pelos demônios, pois a Ira de Deus é justa e santa. A intensa escuridão causada pela guerra, gigantescos incêndios e fragmentos de estrelas em chamas que cairão por três dias e três noites fará o sol desaparecer, e apenas as velas benzidas em Candelária (2 de fevereiro) darão luz nas mãos dos crentes, mas os ímpios não verão essa luz miraculosa, pois haverá escuridão em suas almas.

            Deste modo, meu filho, três quartos da humanidade serão destruídos, e em certas partes da França os sobreviventes terão de andar cerca de cem quilômetros para encontrar outro ser humano vivo... Muitas nações desaparecerão da face do mapa... Uma França assim purificada virá a ser a renovada ‘Filha Mais Velha da Igreja’, pois todos os Cains e Judas terão desaparecido nesse ‘Juízo sobre as Nações’”. Este não é ainda o fim dos tempos, mas tão grande é o castigo devido aos pecados das nações, que Nosso Senhor disse ao Pe Pel que será ainda mais grave do que a desolação no fim do mundo.

            Caros leitores, o que concluímos? Que cada um de nós se esforce ao máximo, principalmente com a ajuda dos sacramentos católicos que Deus nos deu com esse fim, para viver na graça divina e não em estado de pecado, e faça uso integral do tempo que Ele nos dá entre o agora e a Hora de Sua Justiça, para orar a fim de que o maior número possível de pecadores se arrependam e salvem suas almas para a eternidade quando o castigo se abater sobre nós. Deus, tende piedade. Maria, socorrei-nos.


Kyrie eleison.  

segunda-feira, setembro 22, 2014

Comentários Eleison: Contexto Alterado

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXXV (375) - (20 de setembro de 2014): 

CONTEXTO ALTERADO


             A partir de argumentos contra o sedevacantismo, nos quais este é tido como um erro míope em face de uma situação completamente anormal, um amigo italiano (C.C.) formou uma visão mais extensa de tal situação. Mesmo sem ser um sacerdote ou teólogo, ele se aventura a opinar que o sedevacantismo é apenas uma de muitas tentativas na Igreja de ajustar a crise de hoje nas categorias de ontem. Não há dúvida de que a teologia católica não pode ser modificada, mas a situação real à qual essa teologia tem de ser aplicada sofreu uma profunda mudança com o Vaticano II. Aqui está um parágrafo chave seu sobre o que realmente foi alterado:

 
            “Por sua recusa da realidade objetiva da existência de Deus, bem como da necessidade de se submeter à Sua Lei, o mundo atual não é normal, assim como não o é a unidade católica presente, e tanto que substituiu Deus pelo homem no centro das coisas. A Igreja chegou a esse estado anormal de coisas não por um desvio repentino, mas seguindo um longo e complexo processo de afastamento de Deus, cujos efeitos diruptivos emergiram com o Vaticano II. Por centenas de anos os germes da dissolução foram cultivados dentro da Igreja, abrigados por homens aos quais foi permitido ocupar todos os postos da hierarquia, inclusive a Sé de Pedro.”

            
            Meu amigo prossegue afirmando que se alguém deixa de levar em consideração essa anormalidade generalizada do estado atual da Igreja, que é inacreditavelmente, mas seguramente, pior que nunca, corre o risco de tratar de uma realidade que não existe mais, com o emprego de termos de referência que não se aplicam mais. Assim, os sedevacantistas, por exemplo, dirão que os homens da Igreja de hoje devem saber o que estão fazendo, pois são homens inteligentes e instruídos. Não é assim, diz C.C., pois ainda que sua pregação e prática possam não ser mais católicas, eles estão convencidos de que são plenamente ortodoxas. O mundo todo enlouqueceu, e eles simplesmente enlouqueceram com ele, não por perda da razão, mas por terem desistido do uso dela; e a medida que sua fé católica segue enfraquecendo, vai se tornando mais difícil impedi-los de perdê-la por completo.    

          
            Alguém poderia, então, objetar que Deus teria abandonado a Sua Igreja. Como resposta, C.C. recorre a três citações das Escrituras. Em primeiro lugar, Lc 18, 8, onde Nosso Senhor pergunta se ainda encontrará a Fé na terra em Seu retorno. Obviamente, um pequeno restante de sacerdotes e leigos (talvez com alguns bispos) será suficiente para assegurar a indefectibilidade da Igreja até o fim do mundo (pense-se nas presentes dificuldades da “Resistência” em tomar forma). De modo similar, em segundo lugar, Mt 24, 11-14, onde é previsto que muitos falsos profetas enganarão muitas almas, e a caridade esfriará. E em terceiro lugar, Lc 22, 31-32, onde Nosso Senhor instrui Pedro a confirmar seus irmãos na fé depois de sua conversão, sugerindo fortemente que a sua fé iria primeiro falhar. Então, quase toda a hierarquia pode falhar, incluindo Pedro, sem que a Igreja deixe de ser indefectível, tal como quando todos os Apóstolos fugiram do Jardim de Getsêmane (Mt 26, 56).

 
            Concluindo, a visão de C.C. para a Igreja de amanhã ou de depois de amanhã é muito parecida com o que diz o Pe. Calmel: que cada um de nós cumpra com seu dever de acordo com seu estado de vida, e tome parte na construção de uma rede de pequenas fortalezas de Fé, cada uma com um sacerdote que assegure os sacramentos, mas doravante sem a teologia da Igreja atualmente inaplicável, sem a aprovação canônica cuja obtenção é inviável, e sem nenhuma parede divisória obsoleta sobre a qual a Fé terá fluído. Os fortes estarão unidos pela Verdade e terão contatos mútuos de caridade. O resto está nas mãos de Deus.

Kyrie eleison. 

 

domingo, setembro 14, 2014

Comentários Eleison: Papas falíveis


Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXXIV (374) - (13 de setembro de 2014): 

PAPAS FALÍVEIS

            Nem os liberais nem os sedevacantistas gostam que se diga que eles são como cara e coroa de uma mesma moeda, mas isto é verdade. Nenhum deles, por exemplo, concebe uma terceira alternativa. Vejam como Dom Fellay, em sua Carta aos Três Bispos de 14 de abril de 2012, não conseguia enxergar nenhuma alternativa ao seu liberalismo que não fosse o sedevacantismo. Em contrapartida, para muitos sedevacantistas, se um sujeito aceita que qualquer um dos papas conciliares tenha sido realmente Papa, só pode ser então um liberal; e se alguém critica o sedevacantismo, então está a promover o liberalismo. Mas não é assim, absolutamente!

            Por que não? Porque ambos estão cometendo o mesmo erro de exagerar a infalibilidade do Papa. Por quê? Seria porque eles são homens modernos que acreditam mais nas pessoas do que nas instituições? E porque deveria ser esta uma característica do homem moderno? Porque mais ou menos a partir do protestantismo em diante, cada vez menos instituições têm verdadeiramente buscado o bem comum, enquanto mais e mais têm buscado algum interesse privado tal como o dinheiro (minha reclamação contra vocês), o que naturalmente diminui nosso respeito por elas. Por exemplo, bons homens impediram por um tempo a corrupta instituição bancária moderna de produzir imediatamente todos os seus efeitos maléficos, mas os “banksters” corruptos de hoje estão finalmente mostrando o que as instituições do sistema bancário de reserva fracionária e os bancos centrais são em si mesmos desde o princípio. O Diabo está nas estruturas modernas graças aos inimigos de Deus e do homem.

            Assim, é compreensível que os católicos modernos tendam a colocar muita fé no Papa e muito pouca na Igreja, e aqui está a resposta ao leitor que me perguntou por que eu não escrevo sobre a infalibilidade da mesma maneira que fazem os manuais clássicos de teologia católica. Esses manuais são maravilhosos ao seu modo, mas foram todos escritos antes do Vaticano II, e tendem a atribuir ao Papa uma infalibilidade que pertence à Igreja. Por exemplo, a infalibilidade, em seu ápice, é passível de ser apresentada nesses manuais como uma definição solene do Papa, ou do Papa com o Concílio, mas de qualquer modo, do Papa. O dilema liberal-sedevacantista é, por assim dizer, um castigo, a consequência dessa tendência de superestimar a pessoa e subestimar a instituição, pois a Igreja não é uma instituição meramente humana.

            Pois, em primeiro lugar, a cobertura de neve do Magistério Solene sobre a montanha do Magistério Ordinário é apenas o cume de um modo muito limitado – é totalmente dependente do cume da rocha sob a neve. E em segundo lugar, pelo mais autorizado texto da Igreja sobre a infalibilidade, a Definição do verdadeiramente católico Concílio Vaticano I (1870), nós sabemos que a infalibilidade do Papa provém da Igreja, e não o contrário. Quando o Papa emprega as quatro condições necessárias para o ensinamento ex cathedra, então, diz a definição, ele possui “...aquela infalibilidade da qual o divino Redentor quis que gozasse Sua Igreja na definição da doutrina...” Mas, claro! De onde mais poderia vir a infalibilidade senão de Deus? Os melhores seres humanos, e alguns Papas foram muito bons seres humanos, podem ser inerrantes, ou seja, podem não cometer erros, mas por terem eles o pecado original, não podem ser infalíveis como só Deus pode ser. Se eles são infalíveis, a infalibilidade deve vir por sua humanidade, mas de fora, de Deus, que decide concedê-la por meio da Igreja Católica, e essa infalibilidade precisa ser um dom apenas momentâneo, conforme a duração da Definição.
 
            Portanto, fora dos momentos ex cathedra de um Papa, nada o impede de falar contrassensos tal como o faz a nova religião do Vaticano II. Assim, nem os liberais nem os sedevacantistas precisam ou devem dar atenção a tais contrassensos, porque, como Dom Lefebvre disse, eles têm dois mil anos de ensinamento Ordinariamente infalível da Igreja pelo qual se julga tratar-se de contrassensos.


Kyrie eleison

domingo, setembro 07, 2014

Comentários Eleison: Donoso Cortés - I

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCLXXII (373) - (06 de setembro de 2014): 

DONOSO CORTÉS - I



            Um dos mais importantes dogmas católicos é o do pecado original, pelo qual todos os seres humanos (exceto Nosso Senhor e Sua Mãe) têm a natureza seriamente manchada desde a concepção por nossa misteriosa solidariedade com Adão, o pai de toda a humanidade, que, com Eva, caiu no primeiro de todos os pecados humanos no jardim do Éden. É certo para a maioria das pessoas de hoje que a Queda é apenas uma fábula, ou mitologia, e é por isso que elas têm construído uma Disneylândia à nossa volta. Em princípio, os católicos creem no pecado original, mas tão sedutora é essa Disneylândia que, na prática, muitos dificilmente o encaram com seriedade; afinal, não é nada agradável acreditar que todos somos pecadores. Não estamos todos nadando em um mar adocicado de amor, amor, amor?!

            Mas um homem que viu muito claramente o pecado original em ação foi o nobre espanhol, escritor e diplomata, Donoso Cortés (1808-1853). Sua vida se estendeu na primeira metade do século XIX, quando, no desenrolar da Revolução Francesa (1789), a Europa estava lentamente, mas constantemente, substituindo a antiga ordem cristã (“antigo regime”) pela Nova Ordem Mundial judaico-maçônica. Exteriormente, a antiga ordem foi colocada de volta no lugar pelo Congresso de Viena (1815), mas interiormente ela nunca mais foi a mesma, pois as mentes dos homens estavam então ancoradas em fundamentos diferentes, fundamentos liberais, notoriamente a separação entre a Igreja e o Estado. Quando Donoso, ainda jovem, ingressou na política espanhola, proclamou-se liberal, mas na medida em que observava as ideias revolucionárias funcionando na prática, foi se tornando mais e mais conservador, até que em 1847 se converteu à antiga religião católica da Espanha. Desde então até sua morte precoce ele escreveu e pronunciou palavras que transmitiram por toda a Europa sua profética análise católica sobre os erros radicais modernos que forjaram a Nova Ordem Mundial.

            Por trás de todos esses erros, ele destacou dois: a negação do cuidado sobrenatural de Deus por todas as Suas criaturas, e a negação do pecado original. De sua Carta ao Cardeal Fornari (1852), provêm os dois parágrafos seguintes que conectam o pecado original ao surgimento da democracia e à diminuição da Igreja:

            “Se a luz da nossa razão não foi obscurecida, essa luz é suficiente, não necessita da Fé para descobrir a verdade. Se a Fé não é necessária, então a razão humana é soberana e independente. O progresso da verdade então depende do progresso da razão, que depende, por sua vez, do exercício da razão; tal exercício consiste na discussão; por isso a discussão constitui a verdadeira lei fundamental das sociedades modernas, o único crisol em que, por um processo de fusão, as verdades se separam dos erros. Deste princípio de discussão flui a liberdade de imprensa, a inviolabilidade da liberdade de expressão e a soberania real das assembléias deliberativas”.

            Donoso continua com um diagnóstico paralelo das consequências decorrentes da suposição de que a vontade do homem está livre do pecado original: “Se a vontade do homem não está enferma, então ele não precisa de nenhum auxílio da graça para buscar o bem, pois sua atração já seria suficiente: se ele não precisa da graça, então também não necessita da oração e dos sacramentos que a proporcionam”. Se a oração não é necessária, é inútil; e assim o são a contemplação e as ordens contemplativas religiosas, que devidamente desaparecem. Se o homem não precisa dos sacramentos, então não precisa dos sacerdotes que os administram, que devem ser devidamente banidos. E o desprezo pelo sacerdócio resulta por toda parte no desprezo pela Igreja, que equivale em todos os lugares ao desprezo por Deus.

            De tais falsos princípios, Donoso Cortés previu um desastre sem paralelo em um futuro muito próximo. Este tem sido adiado por mais de 150 anos – mas, por quanto tempo mais?

Kyrie eleison.