segunda-feira, maio 23, 2016

Comentários Eleison: Sentimentos Doutrinais

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXII (462)- (21 de maio de 2016)
Sentimentos Doutrinais
Demos graças a Deus pelas mulheres dispostas a por Cristo a sofrer.
Elas são Seu escudo, para de Sua ira nos proteger.
Parece que o “Comentário” da semana passada (CE 461) não foi do agrado de todos. Os leitores podem ter adivinhado que o autor anônimo da longa citação tinha o mesmo sexo que as também citadas Santa Teresa de Ávila (“sofrer ou morrer”) e Santa Maria Madalena de Pazzi (“sofrer e não morrer”), e a citação anônima pode ter parecido excessivamente emocional. Mas o contraste com os sentimentos do Papa Bento citados na semana anterior (CE 460) foi deliberado. Enquanto o texto do homem mostrou sentimentos governando a doutrina, o texto da mulher mostrou a doutrina governando os sentimentos. É melhor, obviamente, a mulher colocando Deus em primeiro lugar, como Cristo no Horto do Getsêmani (Pai, afasta de mim este cálice, mas não conforme a minha vontade...), do que o homem colocando os sentimentos em primeiro lugar e transformando a doutrina e a religião católicas na religião conciliar.
O surpreendente contraste destaca que a primazia de Deus significa que a doutrina vem primeiro, enquanto que a primazia dos sentimentos significa que o homem vem primeiro. Mas a vida não se trata de evitar o sofrimento: se trata, sim, de alcançar o Céu. Se, então, eu descreio em Deus e adoro a Mamon (Mt. VI, 24), não crerei em nada além da vida, e pagarei por mais e mais drogas caras para evitar o sofrimento nesta vida, já que não há outra. Assim, as “democracias” ocidentais criam ruinosos Estados de bem-estar, um atrás do outro, porque a maneira mais segura de um político “democrático” ser eleito ou não é tomar uma posição contra ou a favor da medicina gratuita. O cuidado com o corpo é tudo o que resta na vida de muitos homens que não têm Deus. Assim, o secularismo arruína o Estado: “Se o Senhor não edifica a casa, em vão trabalham os que a edificam” (Sl. CXXVI, 1), enquanto que “Feliz o povo cujo Deus é o Senhor” (Sl. CXLIII,15). A religião governa a política e também a economia: qualquer falsa religião, para seu mal; a religião verdadeira, para seu bem.
Na base de sua entrevista de outubro (CE 460), Bento poderia ter respondido: “Sim, mas que utilidade tem uma religião na qual creem cada vez menos pessoas? No homem moderno, a religião católica de todos os tempos perdeu a capacidade de ser confiável. A doutrina de ontem pode ser verdadeira o quanto for, mas que utilidade ela tem se não fala ao homem como ele é hoje, onde ele está hoje? A doutrina é para as almas, mas como posso falar ao homem contemporâneo sobre o sofrimento redentor ou sobre a Redenção, quando o sofrimento não tem sentido para ele? O Concílio foi absolutamente necessário para refundir a doutrina em uma forma inteligível para os homens tais como eles são hoje”.
E para esta posição implícita na entrevista de Bento, eis uma possível resposta: “Sua Santidade, a doutrina é para as almas, sim, mas para salvá-las do castigo eterno, e não para prepará-las para ele. A doutrina consiste em palavras, as palavras expressam conceitos, os conceitos vêm, em última instância, de coisas reais sendo concebidas. Sua Santidade, Deus, a alma imortal do homem, a morte, o Juízo e a inevitabilidade da salvação ou a condenação eterna são realidades externas à minha mente? Se são realidades independentes de mim, alguma delas mudou desde os tempos modernos? E se nenhuma delas mudou, absolutamente, então as doutrinas que as expressam não expressam também, junto com a doutrina do pecado original, um perigo real para todo homem vivente de cair no Inferno? Neste caso, por mais desagradável que se possam sentir essas realidades, que possível serviço faço eu para meu próximo ao fazer com que as doutrinas sejam sentidas de modo mais agradável, de maneira que ocultem o perigo eterno em vez de advertir sobre ele? Que importância tem seus sentimentos em comparação com a de se compreender e assimilar as verdadeiras doutrinas para ser plenamente feliz e não completamente atormentado por toda a eternidade – por toda a eternidade?”.
Mas em nosso mundo apóstata, a massa de homens quer somente que se lhes contem fábulas (II Tm. IV, 4) para amortecer seus pecados. O resultado é que para manter o mundo moral em equilíbrio, deve haver um número de almas místicas, conhecidas somente por Deus, que tomem sobre si mesmas agudos sofrimentos por Cristo e pelo próximo, e é muito provável que a maioria delas seja de mulheres.

Kyrie eleison.

Comentários Eleison: Sentimentos Cristãos

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXI (461) - (14 de maio de 2016)
Sentimentos Cristãos

Cristo mostrou que sofrer é um dom precioso.
Para as almas abatidas, eis aqui uma exaltação dada por Deus.

Como pode ter ocorrido ao Papa Bento que Deus Pai tivesse sido cruel com Deus Filho ao fazê-lo pagar pelos pecados do mundo (cf. CE da semana passada)? “Um batismo tenho para batizar-me”, disse o próprio Filho, “e como me angustio até que venha a cumprir-se” (Lc. XII,50). Santa Teresa de Ávila quis “sofrer ou morrer”, mas Santa Maria Madalena de Pazzi quis “sofrer e não morrer”. A seguinte citação apresenta aquela compreensão cristã sobre o sofrimento da qual carece o moderno Bento:

A quem posso contar o que estou sofrendo? A ninguém nesta terra, porque não é um sofrimento desta terra, e ninguém no mundo entenderia. O sofrimento é uma doce espécie de dor e uma dolorosa espécie de doçura. Queria sofrer dez vezes, cem vezes mais. Por nada no mundo eu gostaria que parasse. Isto ainda não significa que não esteja sofrendo. Sofro como se estivesse sendo agarrada pela garganta, oprimida pelas faces de uma prensa, queimada em um forno, perfurada no próprio coração.

Se eu pudesse me mover, estar por minha conta e risco, de modo que pudesse me mover e cantar para dar vazão ao que estou sentindo por dentro, porque a dor é realmente sentida, seria um alívio. Mas estou cravada como Jesus na Cruz. Não posso nem me mover, nem estar por minha própria conta, e tenho de morder minha língua para não satisfazer a curiosidade das pessoas em relação à minha doce agonia. Morder minha língua é pouco. Somente com grande esforço posso controlar o impulso de deixar sair o pranto da dor e da alegria sobrenatural que brota dentro e quer queimar com toda a força de uma chama abrasadora ou da água que sai aos borbotões.

A face de Jesus, sombreada de dor quando Pilatos o mostrou à multidão, atrai-me como o espetáculo de algum desastre. Ele está diante de mim e me olha, de pé sobre as escadas do Pretório, sua cabeça coroada de espinhos, suas mãos atadas diante da vestimenta de idiota que lhe foi dada por Herodes para ridicularizá-lo, mas, em verdade, vestindo-o de um branco que corresponde à sua perfeita Inocência. Ele nada diz, mas tudo n’Ele está falando, chamando-me, pedindo-me algo.

Para quê? Ele está me pedindo que o ame. Sei que é isso, e dou-lhe até que me sinto morrer com uma espada transpassando meu peito. Mas Ele ainda me pede algo que não compreendo. E queria compreender. Não entender é uma tortura para mim. Desejaria poder dar-lhe tudo o que quer, mesmo se tivesse de padecer uma morte agonizante. E ainda não posso lhe dar isto.

Seu rosto, cheio de dor, atrai-me e fascina-me. Ele é tão belo quando é o Mestre ou quando é Ressuscitado da morte. Mas vê-lo me enche simplesmente de alegria, enquanto vê-lo em dor me enche de um amor incomensurável, inigualável mesmo ao cuidado de uma mãe por sua criatura que sofre.

Sim, compreendo realmente que o amor compassivo é a crucificação da criatura que segue seu Mestre por todo o caminho até a tormenta final. É um amor tirânico, que bloqueia todo pensamento que não seja o da Sua dor. Já não pertencemos a nós mesmos. Vivemos somente para consolar a Sua tortura, e esta é nossa tormenta, a que literalmente nos mata. E, sem embargo, cada lágrima que derramamos pela dor é mais cara que uma pérola de grande valor, e cada dor Sua na qual podemos entrar é mais ambicionada que qualquer tesouro.

Padre, tentei contar-lhe o que estou padecendo, mas tento em vão. Entre todas as visões que Deus me deu, contemplar Seu sofrimento será sempre o que leva minha alma ao sétimo céu. Morrer de amor enquanto se contempla seu sofrimento – que morte poderia ser mais bela?

Kyrie eleison.


Nota do blog: Sobre Valtorta, recomendamos a seguinte leitura: http://borboletasaoluar.blogspot.com.br/2016/04/respostas-acusacoes-levantadas_29.html

sábado, maio 07, 2016

Comentários Eleison: Os Sentimentos de Bento

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLX (460) - (07 de maio de 2016)

OS SENTIMENTOS DE BENTO


Quando a Redenção é tornada tão agradável por Bento,
Então Cristo passa a ser nada mais que açúcar e condimento.

Quando, há dois meses, uma entrevista que Bento XVI deu a um padre jesuíta em outubro do ano passado foi publicada na Itália, alguns católicos equivocadamente “piedosos” entenderam que o Papa anterior estava retornando à doutrina tradicional sobre a absoluta necessidade da pertença à Igreja Católica para a salvação. Infelizmente, esta entrevista mostra, na realidade, um impenitente modernista medindo não o homem moderno pela Verdade católica, mas a Verdade pelo o que o homem moderno pode ou não pode compreender e aceitar. Para fazer justiça, o entrevistador levantou quatro questões sérias, e Bento não as evitou. Eis aqui um resumo da entrevista, cruelmente breve, mas não essencialmente injusto, com comentários acrescentados em itálico:

P: A vem através de uma comunidade, que, por sua vez, é um presente de Deus?

R: A Fé é um contato vivo e pessoal com Deus, mediado por uma comunidade viva, porque, para crer, eu preciso testemunhar Deus, isto é, a Igreja, que não é somente um conjunto de ideias (é verdade, mas um conjunto de ideias é precisamente o objetivo da fé na qual se crê. Bento compartilha do subjetivismo moderno). Por meio dos sacramentos da Igreja (de acordo com os parâmetros objetivos da Fé) eu entro em contato vivo com Cristo.

P: Pode o homem moderno compreender a JUSTIFICAÇÃO pela de Paulo? (Observem a prioridade do homem moderno.)

R: Para o homem moderno, Deus não pode deixar que a maioria dos homens sofra a eterna danação (mesmo comentário). A preocupação com a salvação pessoal desapareceu nessa maioria (então, o quê? A doutrina deve mudar?). Mas o homem moderno ainda reconhece sua própria necessidade de misericórdia, de modo que ele conhece sua própria indignidade. De fato, ele espera um amor salvador, isto é, a misericórdia de Deus, que o justifique (então, o homem peca, espera a misericórdia de Deus, e isto o justifica? Isto é puro protestantismo!). Ao contrário, a ideia clássica de Deus como o Pai que sacrifica Seu próprio Filho para satisfazer Sua própria justiça é incompreensível hoje em dia. Pois bem, o Pai e o Filho tinham a mesma vontade (mas Jesus como Deus e homem tinha duas vontades!), e o mal do mundo foi completamente superado, tal como precisava sê-lo pela participação de Deus no sofrimento do mundo, no qual o Pai e o Filho participaram da mesma forma (mas o Pai como Deus não poderia sofrer, e somente como homem poderia Cristo sofrer! Essa nova doutrina esvazia a Encarnação, a Cruz, o pecado da humanidade, a justiça de Deus, nossa Redenção! Que restou de Catolicismo?).

P: O ensino da Igreja sobre o INFERNO evoluiu nos tempos modernos?

R: “Neste ponto, estamos diante de uma profunda evolução do dogma” (sic! Mas o dogma não pode evoluir. Como um homem moderno, Bento não tem noção alguma de uma verdade não alterada nem alterável). “Depois do Vaticano II, a convicção de que os não batizados estão perdidos para sempre foi finalmente abandonada” (como se o Vaticano II pudesse mudar o ensinamento da Igreja!). Mas aí se levanta um problema – por que ainda ser cristão (boa pergunta!)? A solução de Rahner, de que todos os homens são cristãos anônimos, exclui o drama da conversão (somente “drama” – e não “absoluta necessidade”?). A solução dos pluralistas, pela qual todas as religiões são suficientes para a salvação é inadequada (de fato). A solução de De Lubac é que Cristo e a Igreja, de algum modo, substituem toda a humanidade, digamos, por crer, praticar e sofrer pela verdade. Ao menos umas poucas almas são necessárias para isto.

P: Se o mal deve ser reparado, o sacramento da CONFISSÃO o repara?

R: Cristo sozinho pode reparar o mal, mas a Confissão sempre nos coloca ao lado de Cristo.

Em vista de tal entrevista, alguém pode ainda duvidar de que os líderes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X estejam seriamente iludidos por pensar que a Fraternidade pode se submeter com segurança a esses romanos? A partir do humanismo e do protestantismo, uma falsa visão da Redenção embebeu os ossos modernos, e desses ossos modernos, por fim, os clérigos católicos. O Vaticano II ensina e prega um Cristianismo sem a Cruz. Isto é bem popular, mas completamente falso. Que Deus tenha piedade desses clérigos.


Kyrie eleison.

domingo, maio 01, 2016

Comentários Eleison: Declaração de Bispos – II

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLIX (459) - (30 de abril de 2016)

A Declaração dos Bispos – II


Uma verdadeira desorientação infernal
Clamou por outra consagração episcopal

Eis a segunda e última parte da Declaração dos bispos sobre a consagração do bispo Dom Tomás de Aquino, no dia 19 de março, no Brasil, seis semanas atrás:

Todavia, o mais grave de todo o século XXI é talvez essa massa de Católicos, clérigos e leigos, que ainda segue mansamente aos destruidores. Com efeito, como é que muitos dos destruidores não veem o que fazem? Em razão uma “desorientação diabólica” evocada já antes do Concílio pela Irmã Lúcia de Fátima. E como muitos dos leigos ainda não veem que a autoridade católica não existe senão que para estabelecer a Verdade católica, e que desde que ela a traiu perdeu seu direito a ser obedecida? Pela mesma desorientação. E em que esta consiste exatamente? Na perda da Verdade, na perda progressiva de todo sentido da existência mesma da Verdade objetiva, porque quiseram se libertar da realidade de Deus e de suas criaturas, para substituí-la pela fantasia dos homens, com o fim de poder fazer o que lhes dê vontade. Sempre a falsa liberdade. 

Mas Deus não abandona sua Igreja, e por isso, nos anos de 1970, suscitou a Dom Lefebvre para vir em sua ajuda. Este soube reconhecer que os Papas e seus confrades no concílio abandonaram a Tradição da Igreja em nome da modernidade, e, fazendo isso, terminariam por destruir a Igreja. E então, soube constituir no interior da Igreja, como que por um milagre, uma sólida resistência diante da obra de destruição sob a forma de uma Fraternidade Sacerdotal dedicada a São Pio X, Papa perfeitamente perspicaz com respeito à corrupção dos tempos modernos. Não obstante, as autoridades romanas não suportaram que se lhes negasse sua suposta “renovação” conciliar, e eles fizeram tudo para que esta resistência desaparecesse; mas Dom Lefebvre os enfrentou.   

Para assegurar a sobrevivência de sua obra, de uma importância única para a defesa da Tradição católica, em 1988 Dom Lefebvre procedeu a consagrar quatro bispos contra a vontade explícita das autoridades romanas extraviadas, mas implicitamente de acordo com a vontade dos Papas de toda a história da Igreja, salvo dos últimos quatro, todos ganhados pelo concílio. Esta decisão heroica de Dom Lefebvre foi logo justificada amplamente pela decadência ininterrupta das autoridades da Igreja, que não fizeram mais que conformá-la ao século apodrecido. Desses quatro bispos, o que falava espanhol devia instalar-se na América do Sul para ocupar-se dos fiéis que queriam conservar a Fé de sempre em todo este continente antes tão católico, mas onde não haviam bispos seguros para levá-los ao Céu. 

Desgraçadamente, a decadência não cessou desde então, senão que agora é a FSSPX que cai, por sua vez, vítima da putrefação universal. Durante seu Capítulo Geral de 2012, seus chefes, sob o seu superior Geral, a fizeram-se voltar ao Concílio. Em lugar de insistir sobre a primazia da doutrina católica de sempre, da Tradição, eles abriram a porta para um acordo com a Roma oficial, consagrada ao concílio.

E, portanto, desde 2012, a mesma desorientação abriu passo no interior da Fraternidade, e, ao menos no momento, já não podemos contar com seus bispos. É muito triste, mas é normal no estado atual da Igreja e do mundo. Portanto, de novo é necessário consagrar um bispo para assegurar a sobrevivência da Fé de sempre, sobretudo em todo um continente de almas que necessitam de um verdadeiro pastor para se salvar para a eternidade.

Que Deus esteja com ele! Roguemos à Santíssima Virgem para que Ela o guarde debaixo de seu manto, fiel até a morte.

Dom Jean-Michael Faure
Dom Richard Williamson


Kyrie eleison.