segunda-feira, outubro 10, 2016

Comentários Eleison: Novamente, Sedevacantismo – II

Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLXXXII (482) - (8 de outubro de 2016):   


NOVAMENTE, SEDEVACANTISMO  –  II


Os sedevacantistas pretendem a Igreja salvar,
O fato é que a limites humanos estão eles a se escravizar.

Para qualquer alma católica que hoje compreende a gravidade da crise na Igreja e se aflige em relação a isto, a simplicidade do sedevacantismo, que rejeita como inválidos a Igreja e os papas do Vaticano II, pode tornar-se uma séria tentação. Pior, a aparente lógica dos argumentos dos eclesiavacantistas e dos sedevacantistas podem tornar esta tentação uma armadilha mental que pode, na pior das hipóteses, levar um católico a perder a sua fé completamente. É por isso que estes “Comentários” retornarão mais detalhadamente ao argumento principal dos muitos argumentos expostos por BpS no artigo de 1991, mencionado aqui semana passada. Eis, novamente, o tal argumento:

Premissa maior: a Igreja Católica é absolutamente infalível (tem a garantia do próprio Deus de que durará até o fim do mundo – cf. Mt. XXVIII,20). Premissa menor: Mas a Igreja Conciliar ou Igreja Novus Ordo, solapada pelo neomodernismo e pelo liberalismo, representa uma absoluta falibilidade. Conclusão: a Igreja Novus Ordo é absolutamente não católica e seus papas são absolutamente não papas. Em outras palavras, a Igreja é absolutamente branca enquanto a Neoigreja é absolutamente preta, de modo que a Igreja e a Neoigreja são absolutamente diferentes. Para mentes que gostam de pensar no preto e no branco sem algo entre eles, este argumento tem muito apelo. Mas para mentes que reconhecem que na vida real as coisas são frequentemente cinzas, ou uma mistura de preto e de branco (sem que o preto deixe de ser preto ou o branco deixe de ser branco), o argumento é muito absoluto para ser verdadeiro. Assim, na premissa maior há um exagero sobre a infalibilidade da Igreja, e na premissa menor há um exagero em relação à falibilidade da Neoigreja. A teoria pode ser absoluta, mas a realidade raramente o é. Vejamos a infalibilidade e a falibilidade conciliar como são na realidade.

Quanto à premissa maior, os sedevacantistas frequentemente exageram a infalibilidade da Igreja, assim como frequentemente exageram a infalibilidade do papa, porque é isto que precisam para suportar seu horror emocional em relação ao que se tornou a Igreja Católica a partir do Concílio. Mas, na realidade, assim como aquela infalibilidade não exclui grandes erros de alguns papas na história da Igreja e somente se aplica quando o papa está seja ordinariamente dizendo o que a Igreja sempre disse, seja extraordinariamente empregando todas as quatro condições da definição de 1870, também a infalibilidade da Igreja não exclui absolutamente algumas grandes falibilidades em certos momentos da história eclesiástica, tais como os triunfos do Islã, do Protestantismo ou do Anticristo (Lc. XVIII,8), senão que exclui absolutamente uma falibilidade total ou uma falha total (Mt. XXVIII, 20). Assim, a infalibilidade não é tão absoluta quanto BpS pretende que seja.  

Quanto à premissa menor, é verdade que a falibilidade do conciliarismo é consideravelmente mais grave do que aquela do Islã ou do Protestantismo, porque ataca a cabeça e o coração da Igreja em Roma, algo que estas últimas não fazem. Não obstante, mesmo meio século de conciliarismo (1965 a 2016) não fez a Igreja falhar totalmente. Por exemplo, Dom Lefebvre – e ele não estava sozinho – manteve a fé de 1970 a 1991, seus sucessores fizeram o mesmo, mais ou menos, de 1991 a 2012, e a combatida “Resistência" mantém-se na linha dele; e antes que a Igreja humanamente entre em colapso, num futuro não tão distante, sua infalibilidade inquestionavelmente será divinamente salva, antes do fim do mundo – Mt. XXIV, 21-22. Assim, o conciliarismo como uma falibilidade da Igreja também não é tão absoluto quanto BpS pretende que seja.

Desse modo, seus silogismos precisam ser reformulados – Premissa maior: a infalibilidade da Igreja não exclui grandes falhas, mas tão somente uma falibilidade total. Premissa menor: o Vaticano II foi uma grande, mas não total, falibilidade da Igreja (mesmo se os católicos conscientes de seu perigo tenham de evitá-la por completo, sob o risco de contaminação). Conclusão: a infalibilidade da Igreja não exclui o Vaticano II. Brevemente, a Igreja do próprio Deus é maior que toda a iniquidade do Demônio ou do homem, mesmo o Vaticano II. A falibilidade conciliar pode bem ser de uma gravidade sem precedente em toda a história da Igreja, mas a infalibilidade da Igreja e a infalibilidade dos papas vêm de Deus e não dos homens. Como liberais, os sedevacantistas estão pensando humanamente, todos humanamente demais.

Kyrie eleison.



Tradução de Leticia Fantin.