segunda-feira, outubro 01, 2012

Comentários Eleison: Sarto, Siri?

“Comentários Eleison” por Mons. Williamson –
Número CCLXXII (272) - 29 de setembro de 2012


SARTO, SIRI?

Em um sermão para a Festa de São Pio XI eu me vi pronunciando «quase uma heresia»: me perguntava em voz alta se Giuseppe Sarto teria desobedecido a destruição da Igreja de Paulo VI se, ao invés de morrer como o Papa Pio X em 1914, ele tivesse morrido como um cardeal em, digamos, 1974. Dentro da Fraternidade São Pio X isso deve soar como uma heresia, porque como a sabedoria do patrono celeste da FSSPX pode ser de algum modo falha? No entanto, a questão não é supérflua.
Em 1970 o Arcebispo Lefebvre fez visitas pessoais a alguns dos melhores cardeais e bispos da Igreja, na esperança de persuadir um mero punhado deles a oferecer resistência pública à revolução do Vaticano II. Ele costumava dizer que apenas meia dúzia de bispos resistindo juntos poderia ter obstruído seriamente a devastação Conciliar da Igreja. Infelizmente, nem mesmo a preferência de Pio XII por seu sucessor, o Cardeal Siri de Gênova, viria a ter promovido uma ação pública contra o Establishment da Igreja. Finalmente, o Bispo de Castro Mayer deu um passo à frente, mas só na década de 1980, quando a Revolução Conciliar já estava bem instalada no topo da Igreja.
Então, como as melhores mentes dentre aquelas com boa formação ficaram tão obscurecidas? Como então alguns dos melhores homens da Igreja naquela época não viram o que o Arcebispo estava vendo, por exemplo: que a "lei" que estabelece a Missa Novus Ordo não era lei de forma alguma, já que pertence à própria natureza da lei ser uma ordenação da razão ao bem comum? Como pôde ele ter ficado relativamente tão sozinho, não deixando que o princípio tão básico do bom senso fosse sufocado pelo respeito à autoridade, quando a própria sobrevivência da Igreja estava sendo colocada em perigo pelo Concílio Vaticano II e a Missa Nova? Como pôde a autoridade ter então assumido o controle sobre a realidade e a verdade?
Minha própria resposta é que há sete séculos a Cristandade vem deslizando em direção à apostasia. Por 700 anos, com nobres interrupções como a Contra-Reforma, a realidade do Catolicismo veio sendo lentamente corroída pela fantasia cancerosa do liberalismo, que é o homem se livrando de Deus através da natureza que se livra da graça, da mente que se livra da verdade objetiva, e da vontade que se livra do certo e errado objetivos. Por um longo tempo, 650 anos, os clérigos católicos se agarraram à realidade e a defenderam. Mas finalmente, bastante da fantasia envolvente da modernidade glamorosa penetrou até os seus ossos, fazendo a realidade perder o controle sobre suas mentes e vontades. Carentes de graça, como São Thomas More disse em sua época sobre os bispos ingleses traindo a Igreja Católica, os bispos conciliares deixaram a fantasia dos homens sobrepujar a realidade de Deus, e a autoridade tomar o lugar da verdade. Há lições práticas para o clero e os leigos.
Colegas dentro e fora da FSSPX, para servir a Deus, vamos tomar cuidado para não reagirmos como Giuseppe Siri quando precisamos reagir como Giuseppe Sarto, com suas magníficas denúncias dos erros modernos na Pascendi, na Lamentabili e na Carta sobre o Sillon. E para obtermos a graça necessária nesta que é a crise mais tremenda de toda a história da Igreja, precisamos rezar tremendamente.
Leigos, se os horrores da vida moderna fazem com que vocês tenham "fome e sede de justiça", alegrem-se, se puderem, pois os horrores os estão mantendo na realidade. E não duvidem que, se perseverarem na sua fome, vocês "serão saciados" (Mt . V, 6). Bem-aventurados os pobres de espírito, os mansos e os que choram, diz Nosso Senhor na mesma ocasião. E para proteger seguramente suas mentes e corações de serem tomados pela fantasia, rezem cinco, ou melhor, quinze Mistérios do Santo Rosário de Nossa Senhora por dia.  

                                                                                                                                                                        Kyrie eleison.