quarta-feira, fevereiro 12, 2014

Comentários Eleison: Infalibilidade da Igreja I

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXLIII (343) - (08 de fevereiro de 2014): 


Infalibilidade da Igreja I



            O principal problema dos sedevacantistas é, provavelmente, a infalibilidade da Igreja (os Papas conciliares são terrivelmente falíveis – então, como eles podem ser verdadeiramente Papas?). No entanto, a infalibilidade precisa ser analisada mais do que apenas a fim de aliviar o sedevacantismo. É um grande problema moderno a preferência pela autoridade em detrimento da verdade.

            “Infalibilidade” significa inabilidade para errar, ou para cair no erro. O Concílio Vaticano I definiu em 1870 que o Papa não pode errar quando quatro condições estão presentes: ele deve (1) falar como Papa, (2) em questão de Fé ou de moral, (3) de modo definitivo e (4) com a clara intenção de obrigar toda a Igreja. Sob elas, um ensinamento pertence ao que é chamado de Magistério “Extraordinário”, pois, por um lado, o Papa raramente combina todas as quatro condições, e, por outro lado, ele ensina muitas outras verdades que não podem errar ou estar erradas porque elas têm sido sempre ensinadas pela Igreja, e assim elas pertencem ao que o Vaticano I chamou de “Magistério Ordinário Universal” da Igreja, também infalível. A questão é: como o Magistério Extraordinário do Papa se relaciona com o Magistério Ordinário da Igreja?

            A Santa Madre Igreja ensina que o Depósito da Fé, ou Revelação pública, foi completado na morte do último Apóstolo vivo, ou seja, em torno de 105 dC. Desde então nenhuma outra verdade foi acrescentada, ou poderia ter sido acrescentada, a esse Depósito, ou corpo de verdades reveladas. Portanto, nenhuma definição “extraordinária” pode acrescentar um jota de verdade a esse Depósito. Apenas se acrescenta, em benefício dos crentes, certeza a alguma verdade já pertencente ao Depósito, mas cuja pertença não estava suficientemente clara de antemão. Em uma ordem quádrupla vem em primeiro lugar uma REALIDADE objetiva, independente de qualquer mente humana, tal como o fato histórico da Mãe de Deus concebida sem o pecado original. Em segundo lugar vem a VERDADE em uma mente que se conforma à realidade. Só em terceiro lugar vem uma DEFINIÇÃO infalível, quando um Papa combina todas as quatro condições para definir essa verdade. E em quarto lugar, surge dessa definição a CERTEZA para os crentes dessa verdade. Assim, enquanto a realidade gera a verdade, uma Definição simplesmente cria certeza em relação àquela verdade.

            Mas a realidade e sua verdade já pertenciam ao Magistério Ordinário, pois não resta dúvida de que um Papa jamais definiu infalivelmente uma verdade fora do Depósito da Fé. Assim, o Magistério Ordinário é para o Magistério Extraordinário o que o cachorro é para o rabo, e não o que o rabo é para o cachorro! O problema é que a Definição de 1870 deu tal prestígio ao Magistério Extraordinário, que o Magistério Ordinário, em comparação, começou a esmorecer, a ponto de os católicos, mesmo os teólogos, se verem impelidos a fabricar para ele uma infalibilidade como aquela do Magistério Extraordinário. Mas isso é tolice. O Magistério Extraordinário pressupõe o Magistério Ordinário, e existe apenas para dar certeza (4) à uma verdade (2) já ensinada pelo Magistério Ordinário.

            O ponto pode ser ilustrado por uma montanha coberta de neve. A montanha de modo algum depende da neve, salvo para se tornar mais visível do que ela já é. Ao contrário, a neve depende completamente da montanha para estar onde ela, a neve, está. De mesmo modo, o Magistério Extraordinário faz não mais pelo Magistério Ordinário do que torná-lo mais claramente ou mais certamente visível. Quanto mais o inverno se aproxima, mais baixo é o limite da cobertura de neve. Nos tempos atuais, quanto mais a caridade esfria, mais definições do Magistério Extraordinário podem vir a ser necessárias, mas isso não faz delas a perfeição do Magistério da Igreja. Ao contrário, elas sinalizam uma fraqueza dos crentes em relação às verdades de sua Fé. Quanto mais saudável um homem é, de menos pílulas ele necessita.

Na próxima semana, a aplicação, tanto ao sedevacantismo como à presente crise da FSSPX.       

Kyrie eleison.


Resumo:

           O Magistério Ordinário infalível da Igreja é para o Magistério Extraordinário infalível do Papa o que o cachorro é para o rabo, e não o que o rabo é para o cachorro.