quarta-feira, dezembro 27, 2017

Comentários Eleison: Narrativa de Natal


Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DXLV (545) (23 de dezembro de 2017)

NARRATIVA DE NATAL


O modo como Deus desceu aos homens faz com que nos maravilhemos.
Elevai-nos ao Céu, ó Deus, para que seus louvores entoemos!

O seguinte momento culminante de uma narrativa decerto apropriada para a época de Natal é colocado na boca da Mãe de Deus quando ela entra novamente na gruta sagrada em Belém para descrever aos amigos que a acompanham o nascimento humano de Deus, no lugar mesmo onde aconteceu. A pessoa que escreve é corajosa, e procura descrever a cena como sendo narrada pela Mãe. Nem todos os leitores destes "Comentários" concordarão que essa tentativa tenha sido bem sucedida. Não importa. Outros leitores poderão deleitar-se com a cena, que realmente aconteceu, e deve ter acontecido de maneira parecida; e para esses leitores apresentamo-la aqui:

"Maria põe-se de pé novamente e entra na gruta: "Tudo está como estava então... Só que na ocasião era noite... José acendeu uma luz quando entrei. Então, e só então ao descer do burro percebi o quão cansada e com frio estava. Um boi recebeu-nos. Eu aproximei-me dele para sentir um pouco de calor, para descansar sobre o feno... onde estou agora, José estendeu o feno para fazer-me uma cama, e ele a secou para nós dois, Jesus e eu, na pequena fogueira feita naquele canto... porque meu esposo angélico tinha por nós o amor de um verdadeiro pai... e ele e eu, segurando-nos um ao outro pelas mãos, como dois irmãos perdidos no escuro da noite, comemos nosso pão e queijo, e então ele foi lá alimentar o fogo, tirando antes seu manto para bloquear a entrada da caverna... Na verdade ele estava velando pela glória de Deus que estava por descer do Céu. Com Jesus, permaneci no feno entre o calor de dois animais, envolta no meu manto e com a manta de lã. Meu amado esposo!... Naquele momento de ânsia para mim, em que enfrentava só o mistério de dar à luz pela primeira vez, algo sempre uma vez desconhecido para qualquer mulher, mas ampliado para mim em razão da singularidade da minha maternidade, e ainda mais pela perspectiva de ver o Filho de Deus emergir da carne mortal, ele, José, foi como uma mãe para mim, como um anjo... meu consolo... ali e sempre...

"E então o silêncio e o sono vieram envolver o Homem Justo... para que ele não visse o que era para mim o abraço diário de Deus... E começaram para mim as ondas ilimitadas de êxtase, rolando de um mar paradisíaco, elevando-me novamente às cristas luminosas, cada vez mais alto, levando-me com elas para cima, mais ainda, num oceano de luz, de mais luz, paz e amor, até encontrar-me perdida no mar de Deus, do seio de Deus... Ouvi ainda uma voz vinda da terra; "Estás dormindo, Maria?" Oh, quão longe! ... Um eco simples, chamando da terra!... tão fraco que quase não toca a alma. Eu não tenho ideia de qual resposta eu lhe dou enquanto subo, e ainda estou subindo nessa imensidade de fogo, de beatitude infinita, da presciência de Deus... até Deus, o próprio Deus... Oh, foi Jesus que nasceu de mim, ou fui eu que nasci dos esplendores da Santíssima Trindade naquela noite? Eu que dei à luz Jesus, ou foi Jesus que me aspirou para a luz? Eu não faço ideia...

"E então a descida, de Coro de anjos em Coro de anjos, de camada de astros em camada de astros; uma descida tão suave e lenta, bem-aventurada e pacífica, como a de uma flor sendo carregada no alto por uma águia que depois a deixa cair, descendo lentamente nas asas do ar, embelezada por uma gema de chuva, por um fragmento de arco-íris arrebatado do céu, e que aterrissa em seu solo nativo... E minha coroa de joias: Jesus, Jesus sobre meu coração...

"Sentada aqui, depois de adorá-Lo de joelhos, eu O amava. Por fim, pude amá-Lo sem as barreiras da carne entre nós, e daqui eu me levantei para levar-lhe ao amor do Justo, que merecia como eu estar entre os primeiros a amá-Lo. E aqui, entre estes dois pilares rústicos, ofereci-O ao Pai. E aqui Ele descansou pela primeira vez sobre o coração de José... Eu balancei-O enquanto José secava o feno ao fogo e mantinha-o quente para colocá-lo no berço do bebê; e depois, ali, adoramo-Lo, curvados diante d’Ele, assim como me curvo agora, bebendo Sua respiração, contemplando até que ponto o amor de Deus pode descer para amar os homens, chorando as lágrimas que são certamente choradas no Céu pelo gozo inesgotável de ver a Deus ".


Kyrie eleison.

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