sábado, março 15, 2014

Comentários Eleison: Política da Resistência I

Comentários Eleison – por Dom Williamson
CCCXLVIII (348) - (15 de março de 2014): 


POLÍTICA DA RESISTÊNCIA I


            No atual estado desastroso em que estão a Igreja e o mundo, dois princípios centrais, dentre outros, estão em jogo, um permanente e primário, e outro temporário e secundário, mas ambos são mesmo centrais. Sua interação deverá ser decisiva para guiar nossas ações.

            O princípio permanente é o de que “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11, 6). Isto se dá porque todos os homens provêm de Deus dotados de um livre-arbítrio a fim de que o utilizem de tal modo que sejam capazes de ir para Deus quando morrerem, e desfrutar da beatífica visão de Deus pela eternidade. Esses termos obrigatórios de nossa existência terrena constituem uma oferta extremamente generosa por parte de Deus, dado o quão relativamente pouco é requerido de nossa parte (Is 64, 4). Mas o mínimo que nós podemos fazer, um simples começo, é reconhecer Sua Existência. Dada a bondade de Sua Criação em torno de nós, é “inescusável” não reconhecê-la (Rm 1, 20), e, portanto, sem a fé mais elementar Nele é impossível agradá-Lo.

            O princípio temporário é aquele em que o Pastor é ferido e as ovelhas estão dispersas (Zc 13, 7), texto citado por Nosso Senhor no caminho para o Horto do Getsêmani (Mt 26, 31). Depois de 4.000 anos de contínua decadência, Deus assumiu uma natureza humana para fundar uma Igreja a fim de possibilitar os homens para salvarem suas almas pelos últimos 2.000 anos da existência humana nesta terra. Durante os primeiros mil desses anos a decadência foi seriamente interrompida, mas depois de uns poucos séculos ela aumentou novamente, a ponto de, com o Vaticano II, infectar os líderes mesmos da própria Igreja de Deus, os Papas,  sobre os quais ela foi edificada e designada a depender. A partir de então se tornou muito difícil para o homem perceber como Deus os dotou para que salvem suas almas.

            Por conseguinte, por um lado, objetivamente falando, as verdades permanentes para a salvação não foram nem um pouco alteradas pela queda dos Papas conciliares, e essas verdades devem ser mantidas enquanto ainda houver almas a serem salvas. Foi a glória de Monsenhor Lefebvre defender essas verdades contra a queda dos homens da Igreja e do mundo, enquanto que é a desgraça de seus sucessores as estar comprometendo pelo interesse de se reunir a esses homens da Igreja e seu mundo.

            Por outro lado, subjetivamente falando, essa desgraça está mitigada pelo eclipse temporário dessas grandes verdades devido à queda dos Papas. Não é nada fácil, mesmo para os bispos, enxergarem direito quando o Bispo de Roma está enxergando torto. Segue-se que aqueles que pela graça de Deus – e por nada mais – enxergam direito, devem ter uma compaixão de 360 graus pelas almas tomadas pela confusão não totalmente por sua própria culpa. Assim, parece-me, se Tiago está convencido de que para salvar sua alma ele deve permanecer na Neoigreja, eu não preciso martelá-lo para que saia dela. E se Clara está convencida de que não há nenhum problema grave dentro da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, eu não devo forçá-la a entender que sim, há. E se João não pode ver nenhuma outra maneira de manter a Fé sem acreditar que de algum modo a Sé de Roma está vacante, eu preciso não mais do que insistir com ele que essa crença não é obrigatória.

            Ainda, em meio a toda essa dispersão das ovelhas, alguém deve manter a disposição delas na Verdade objetiva, se é que as pobres pedras não terão de fazê-lo (Lc 19, 40), porque é preciso pelo menos buscar essa Verdade se queremos salvar as nossas almas. Contudo, que os católicos a busquem com toda a devida consideração para com a cegueira de suas ovelhas companheiras, ao menos enquanto o Pastor permanecer ferido.

Kyrie eleison.