segunda-feira, setembro 11, 2017

Comentários Eleison: Aliado benevolente? - II

Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DXXX (530) (09 de setembro de 2017)


ALIADO BENEVOLENTE? – II


Vossa Excelência, leia, e o senhor descobrirá,
Como os vilões têm uma influência completamente vil!


Quando, no ano passado, o bispo Athanasius Schneider de Astana, no Cazaquistão, em entrevista ao Adelante la Fe, expressou muitas opiniões em concordância com a Tradição Católica e com as posições tomadas por Dom Lefebvre, estes “Comentários” (498, 17 de janeiro de 2017) perguntaram se ele seria um verdadeiro aliado da Fraternidade do Arcebispo.

Em julho deste ano, ele autorizou a publicação de um artigo em que expressa suas opiniões ainda mais católicas e em que favorece a Tradição. Não sendo antes um verdadeiro aliado, ele o teria se tornado? Para responder à pergunta, é preciso fazer uma distinção: subjetivamente, seu coração está no lugar certo, porque ele quer salvar as almas pela aplicação fiel da Tradição imutável; mas, objetivamente, sua mente ainda não compreendeu o suficiente, porque ele ainda pensa, ou diz que pensa, que a intenção original do Vaticano II não era a de criar uma nova Igreja. Mas, Vossa Excelência, Nosso Senhor disse que por seus frutos o senhor os conhecerá. E quais os frutos do Vaticano II? A Neoigreja!

Assim, muito do que Dom Schneider diz dessa vez sobre a Tradição Católica é a doutrina católica, inteiramente verdadeira. Por exemplo (parágrafo 6), a Tradição é o critério pelo qual julgar todas as doutrinas posteriores, e (8), em caso de dúvida levantada por ambiguidade ou por novidade, a Tradição tem a prioridade. Há ambiguidades e novidades do Vaticano II que se chocam com a Tradição (10), e a “Hermenêutica da Continuidade” é insuficiente para resolver o choque.  Infelizmente (19), durante cinquenta anos uma Nomenklatura (burocracia de estilo comunista) dentro da Igreja usou as ambiguidades do Vaticano II para distorcer a intenção original do Concílio e criar uma nova igreja, de tipo relativista e protestante. Chega hoje ao ápice (20) o uso das ambiguidades objetivas do Concílio e seus desvios da Tradição para bloquear toda discussão, declarando que estas são “infalíveis”. Mas esta “infalibilização” do Concílio deve ser interrompida (22), e dar lugar à discussão teológica gratuita e aberta, para a qual (24) uma FSSPX reconhecida canonicamente poderia dar uma valiosa contribuição. A verdadeira doutrina é verdadeiramente pastoral, e, segundo a vontade de Deus, ela somente salva as almas. Esse é, até agora, o último artigo do Bispo.

Mas, Sua Excelência, o que faz com que o senhor tenha tanta certeza de que a intenção original do Concílio não era a de criar uma Neoigreja neoprotestante? O senhor acha que as ambiguidades não foram deliberadas? O senhor não leu, por exemplo, como o Pe. Schillebeeckx admitiu que elas foram plantadas como bombas-relógio, para serem detonadas após o Concílio? Talvez muitos Padres do Concílio possam ter dito após o Concílio, tal como disse Guilherme II da Áustria: “Ich habe es nicht gewollt”, ou seja, eu não queria isso (Primeira Guerra Mundial). Mas certamente nem todos eles não queriam a Neoigreja, e os “poderosos e influentes” [“movers and shakers”] a queriam. O senhor não pode pensar que a “nova igreja”, como o senhor mesmo a chama, saiu do Concílio por acidente! Estude livros sobre o Concílio, como “O Reno se Lança no Tibre”, de Raplh Wiltgen. O Concílio foi uma luta época, e os católicos perderam.

E se a Neoigreja é fruto de uma minoria conspiradora que conduz uma massa de cardeais, bispos, sacerdotes e leigos em direção a ela, que assistem a muita televisão e não rezam o suficiente, o senhor realmente acha que “discussão teológica livre e aberta” resolva o problema? Meio ano antes de morrer, o Arcebispo Lefebvre disse que o verdadeiro problema com o Vaticano II não era nem mesmo os grandes erros identificáveis como a liberdade religiosa, a colegialidade e o ecumenismo, mas um subjetivismo onipresente que esvazia a doutrina católica de toda sua força objetiva e assim dissolve a Igreja Católica. E a questão não é se o Arcebispo disse isso, mas se isso é verdade. E é rotundamente verdadeiro. A mente do homem moderno foi reduzida a mingau, por sua própria culpa, e pela Maçonaria em particular. Excelência, o senhor conhece algo sobre a Maçonaria, ou pensa, como tantas almas pobres foram induzidas a pensar, que é uma organização inofensiva de bons samaritanos, injustamente caluniada?

Entre 2009 e 2011, houve meia dúzia de sessões de “debate teológico livre e aberto” entre quatro teólogos de Roma e quatro da FSSPX (antes de sua traição pelo Capítulo Geral de 2012). Resultado? Nada! Menzingen prometeu que publicaria o conteúdo das discussões. Nós ainda estamos aguardando. Para agradar a Roma, alguém dentro da FSSPX quer varrer a Tradição para baixo do tapete!

Kyrie eleison.


Traduzido por Cristoph Klug.