Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCXXXIII (633) - (31 de agosto de 2019)
“PÓS-MODERNIDADE”? – II
Deus nos dá liberdade, faculdade
do livre-arbítrio,
Mas não o direito de
escolher entre o bem e o mal.
Sob o risco de
cansar os leitores com variações sobre o tema da Verdade, estes
"Comentários" farão mais comentários sobre o resumo do livro Culture as
religion; the post-modern interpretation of the relationship between culture
and religion de Wojcieck Niemczewski, citado aqui na semana
passada. Porque em verdade devemos salvar nossas almas, e um grave perigo no
caminho para salvarmos nossas almas é o enceguecimento de nossa faculdade mais
elevada, que é a nossa mente, sobre a qual se segue imediatamente a corrupção
de nossos corações. E o perigo mais profundo para nossas mentes hoje em dia é a
suposição universal de que as ideias não importam, que a verdade não é
importante. Vejam como o Vaticano II preferiu a modernidade ao catolicismo
fiel, especialmente no documento conciliar Gaudium
et Spes, e depois como a Fraternidade Sacerdotal São Pio X preferiu os
romanos conciliares ao seu fiel fundador, e, em cada caso, como a grande
maioria dos sacerdotes e dos leigos seguiram a corrente.
Vamos começar
colocando em ordem os pensamentos de Niemczewski, para ver de onde vem e para
onde vai: 1 Não há um Deus objetivo,
porque "Deus" é a fabricação subjetiva dentro de cada um de nós. 2 Portanto, as antigas “verdades” da
religião e da filosofia de ontem não têm mais fundamento. 3 Além disso, elas não se encaixam mais no mundo real de hoje, que
está mudando em todos os âmbitos, e mais rápido do que nunca. 4 Pior ainda, elas estão bloqueando o
progresso moderno, ou a “cultura da escolha” que nos permite adaptar-nos às
mudanças, e que garante a liberdade de cada um de nós para construir seu
próprio modo de vida. 5 Para
permanecer adaptável à modernidade, o homem pós-moderno deve aceitar essa
“cultura da escolha” não universal e não obrigatória que não impõe ao homem nem
normas nem nenhum ser superior a ele. 6 Como conclusão, a verdade deve dar
lugar à liberdade, a religião à cultura, e a direção à deriva. 7 Abaixo a
verdade; viva a "cultura da escolha"!
Infelizmente
para o homem pós-moderno, existe uma realidade fora de sua mente, tão próxima a
ele quanto seus próprios braços e pernas, e essa realidade extramental tem leis
próprias, que não são de modo algum dependentes de sua mente. Por exemplo, se
ele tiver dor de dente, terá que ir ao dentista e não ao peixeiro. E essas leis
não são somente físicas, mas também morais. Por exemplo, se uma menina pobre
realiza um aborto, ela não será capaz de desfazer-se de suas dores de
consciência, por mais que ela o queira. O livre-arbítrio de cada um de nós,
seres humanos, é inquestionavelmente livre – daí a possibilidade da “cultura da
escolha” de Niemczewski –, mas essa cultura da escolha só pode funcionar
dentro, e não fora, do contexto estruturado das leis da realidade extramental,
físicas e morais. Assim, sou livre para escolher para toda a minha eternidade o
Céu ou o Inferno, mas não sou livre para escolher romper seriamente a lei moral
e ainda assim ir para o Céu.
Os antigos
gregos, no seu apogeu, precederam a Encarnação de Nosso Senhor por séculos, de
modo que não tinham nenhum benefício da graça sobrenatural ou iluminação. Mas,
naturalmente, eles observaram – não inventaram – as graves e inevitáveis consequências
de os seres humanos terem se levantado contra a estrutura moral da vida humana,
e deram a isso um nome: “húbris”, que hoje chamaríamos "orgulho".
Assim, a apresentação de Niemczewski da "cultura da escolha" começa
por negar a Deus e termina por desafiá-lo, mas, embora ela possa inclinar as
mentes dos homens em favor de sua "cultura", é incapaz de modificar a
Existência eterna e inefável de Deus, ou a necessidade eterna e absoluta da
Verdade. Por exemplo, se se afirma que não existe algo como a verdade, então
pelo menos esta opinião seria uma verdade. Portanto, ao negar todo ou qualquer
dogma, ninguém é tão dogmático quanto os maçons, e, em seu enfraquecimento
subjetivo de toda a doutrina, ninguém é tão doutrinário quanto os modernistas e
os neomodernistas.
Em suma, um
homem como Niemczewski se recusa a reconhecer que em torno da esfera de escolha
da humanidade há um anel de realidade que não é da escolha do homem. Os
clérigos do Vaticano II se recusam a reconhecer que o Depósito da Fé não pode
ser modernizado. E os líderes da Neofraternidade Sacerdotal São Pio X
recusam-se a reconhecer que os romanos conciliares são mercadores de fantasia.
A "cultura da escolha" terminará custando caro para todos eles. Pode
custar-lhes a eternidade se não conseguirem recobrar seus
sentidos católicos.
Kyrie eleison.
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