Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCXLIX (649) - (21 de dezembro de 2019)
DOIS BISPOS
Homens com alguma decência
acreditam no compromisso.
Na Consagração da
Rússia está a solução.
Desde o verão
e outono de 2012, quando ficou claro que dois dos três Bispos da Fraternidade
Sacerdotal São Pio X não assumiam mais a mesma posição no que se refere às
relações dela com Roma que haviam assumido em sua carta de 7 de abril daquele
ano dirigida ao QG da Fraternidade, que seguidores dela, sacerdotes e leigos, têm-se
perguntado o porquê dessa mudança. Poucas pessoas, então, ou desde então, tomaram
essa mudança de posição dos Bispos como uma questão de pessoas ou personalidades.
Como a carta alertava severamente contra o abandono da clara recusa do
Arcebispo Lefebvre de contatos com a Roma não convertida, a maioria das pessoas
aceitou a mudança dos dois Bispos pelo que era, ou seja, um assentimento ao
novo princípio do então Superior Geral de “contato antes da conversão”. No
entanto, se a Roma conciliar não havia mudado, senão para pior, entre 1988 e
2012, por que os dois Bispos mudaram?
A questão
mantém toda a sua importância até os dias de hoje. O que deve ganhar a Fraternidade
para a Fé – e não a Fé para a Fraternidade! – por meio de contatos amistosos
da mesma Fraternidade com os romanos conciliares que ainda estão empenhados em
seu ecumenismo do Vaticano II, que chega a incluir a veneração do Papa pelos
ídolos Pachamama nos próprios jardins do Vaticano? Uma coisa parece certa: nos
últimos 20 anos, a Fraternidade tem apostado tudo em relação ao seu futuro
nessa amizade, e desistir dela agora significaria admitir que esses 20 anos teriam
sido um grande erro. Portanto, a Fraternidade, com grande necessidade de novos
Bispos para seu apostolado tradicional em todo o mundo, não pode escolher Bispos
tradicionais e, assim, consagrar os de sua própria escolha, porque esses
certamente desagradariam os conciliares romanos. Portanto, em 2012 os dois Bispos
colocaram uma cruz pesada nas costas, que fica ainda mais pesada a cada ano que
passa: eles ajudaram a levar a Fraternidade para um beco sem saída, e em 2019
ela não pode ter, nem pode não ter, seus próprios Bispos.
Recentemente se
disponibilizaram informações que lançam alguma luz sobre a decisão dos dois Bispos
de abandonarem a linha do Arcebispo de “conversão antes de contatos”. Quanto ao
Bispo de Galarreta, soubemos que tão logo a carta de 7 de abril apareceu na
Internet, ele se apressou em ir ao QG da FSSPX para pedir desculpas ao Superior
Geral por seu aparecimento, ao qual ele renunciou absolutamente. Mas como ele
poderia renunciar ao seu aparecimento sem também dissociar ele mesmo do
conteúdo? Parece que a publicação o fez temer a implosão iminente da Fraternidade
mais do que o conteúdo o fez temer o beco sem saída da Fraternidade, seu
abandono essencial daquela defesa da fé do Arcebispo. A sobrevivência da Fraternidade
era mais importante do que a da fé?
O Bispo
Tissier de Mallerais demorou mais para retirar sua assinatura, por assim dizer,
da carta de 7 de abril, mas no início de 2013 essa retratação também estava
clara. A um amigo, ele deu a seguinte orientação episcopal: a conversão de Roma
hoje não pode acontecer de uma só vez. O reconhecimento oficial nos permitirá
trabalhar com muito mais eficácia dentro da Igreja. Precisamos de paciência e
tato para fazermos as coisas no nosso tempo e não chatearmos os romanos que
ainda não gostam de nossas críticas ao Concílio, mas estamos caminhando
gradualmente – não foi isso que os santos fizeram? Devemos continuar
denunciando escândalos e acusando o Concílio, mas precisamos ser inteligentes
para entendermos o modo de pensar de nossos adversários, que depois de tudo incluem
a Sé de Pedro. A política do Bispo Fellay não fracassou realmente: nada foi
assinado em 13 de junho de 2012, e nada de catastrófico, nada de extraordinário
aconteceu nos últimos 17 meses. Alguns sacerdotes nos deixaram, o que considero
deplorável, por falta de prudência e juízo, mas tudo foi culpa deles. Em
resumo, trate de confiar mais nos outros e menos em você mesmo. Confie na Fraternidade
e em seus líderes. Tudo fica bem quando termina bem. Esse deve ser o espírito
de suas próximas decisões e escritos.
Aqui terminam
as razões do Bispo para recomendar a seu amigo que siga o Bispo Fellay. Mas o
Bispo de Galarreta ou o Bispo Tissier de Mallerais ou o Bispo Fellay entenderam
bem as razões pelas quais o Arcebispo rompeu o contato com os romanos
conciliares? Os três não subestimam gravemente a crise sem precedentes causada
pela traição contínua dos clérigos da Igreja à verdade e à fé? Como o compromisso
doutrinário ou a politicagem meramente humana com Roma podem resolver essa
crise pré-apocalíptica?
Kyrie eleison.
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