Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCL (650) - (28 de dezembro de 2019)
FALAR ALTO E CLARAMENTE!
"Roma não está
mais em Roma", dizia o Arcebispo.
O lar espiritual dos
católicos está hoje em outro lugar.
Se houve
grandes mentes no passado, é porque elas pensaram em coisas grandes, o que
significa, explícita ou implicitamente, coisas de Deus; e se elas realmente
foram grandes mentes, seu pensamento não terá sido somente destrutivo. Uma
dessas mentes foi certamente Shakespeare, da Inglaterra. Como católico, ele lutou
contra a apostasia de seu país no momento em que ela atingia seu apogeu, por
volta de 1600. Mas essa mudança da Inglaterra para o protestantismo significava
para o escritor que, se ele não quisesse ser enforcado, eviscerado e
esquartejado, teria de camuflar sua mensagem católica, como demonstrou Clare
Asquith em seu livro lançado em 2005, “Shadowplay [Jogo de Sombras]”, onde ela elevou
a literatura inglesa muito acima dos “patriotas” ingleses e dos anões da
crítica literária.
Para dar
apenas um exemplo, no apêndice do livro sobre o Soneto 152 de Shakespeare, ela
mostra como, do começo ao fim do texto, sob a aplicação óbvia a uma mulher que
Shakespeare conheceu, existe um segundo significado completo de aplicação muito
mais ampla para ele mesmo como escritor que falhou em advertir seus
compatriotas como deveria ter feito. Aqui estão as 14 linhas do soneto,
juntamente com seu significado aparente:
In loving thee thou know’st I am forsworn
But thou art twice forsworn to me love swearing,
In act thy bed-vow broke and new faith torn,
In vowing new hate after new love bearing.
But why of two oaths’ breach do I accuse thee,
When I break twenty? I am perjured most,
For all my vows are oaths but to misuse thee,
And all my honest faith in thee is lost;
For I have sworn deep oaths of thy deep kindness,
Oaths of thy love, thy truth, thy constancy,
And, to enlighten thee, gave eyes to blindness,
Or made them swear against the thing they see.
For I have sworn thee fair:
more perjured eye,
To swear against the truth so
foul a lie.1
Sabes que ao amar-te quebro uma
promessa, mas
jurando que me amas, tu quebras
duas promessas: tu
abandonaste a cama do teu marido,
e depois voltaste para ele
("nova fé", "novo
amor") para tão logo abandoná-lo de novo.
Mas por que te acuso de quebrares
dois juramentos quando
Eu quebro vinte? Sou eu o perjuro
maior, pois
para teu próprio mal, eu fiz
tantos juramentos sobre
tua bondade quando eu sabia que não
eras boa.
Assim, jurei que tu eras muito gentil,
muito amorosa, muito sincera,
muito fiel, e para pôr-te
em uma boa luz, eu me fiz ver o
que eu
não vi, ou jurei que não vi o que
o olho viu.
Pois
jurei que eras boa. Que terrível
perjúrio
da minha parte, quando isso é tão falso!
Curiosamente,
o texto do soneto faz mais sentido em seu significado oculto, referindo-se à
Inglaterra infiel, do que em seu significado aparente, que se refere à amante
infiel de Shakespeare. Assim, “Merrie Englande” foi uma esposa fiel da Igreja
Católica por 900 anos. Mas pelo Ato de Supremacia de Henrique VIII (1534),
("Em ato"), a Inglaterra rompeu seu matrimônio ("voto nupcial")
com a Igreja Católica e tomou o protestantismo como amante. Em seguida,
casou-se novamente com a Igreja Católica sob Mary Tudor (1553, "nova
fé", "novo amor"), para sem seguida recair em adultério com o
protestantismo sob Elizabeth I (1558, "rasgaste a nova fé",
"novo ódio" pela Igreja Católica). Mas Shakespeare (1564-1616) se
culpa por uma infidelidade ainda mais grave, porque no curso daqueles anos ele
glorificou repetidamente ("para iluminar-te") a Inglaterra com seus
infiéis governantes Tudor, por exemplo, em seus Dramas Históricos, glorificou
os danos sofridos pela Inglaterra ("para teu próprio mal”), porque, como
católico, sabia muito bem que o protestantismo seria a ruína da “Merrie
Englande”. Com certeza!
E que dizer
dos tempos de hoje? O padrão se repete: por mais de 1900 anos, os católicos do
mundo estiveram fielmente casados com a verdadeira Igreja, mas com o Vaticano
II (1962-1965), a maioria deles seguiu os maus líderes até chegar mais ou menos
ao adultério com o mundo moderno (“quebraste o voto nupcial”). Então, o Arcebispo
Lefebvre (1905–1991) levou muitos de volta à verdadeira Igreja Católica (“nova
fé”, “novo amor” ou renovação da antiga fé e do antigo amor), para então
ver seus sucessores à frente da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que ele
fundou em 1970, recaírem no desejo adúltero de reunião com a Roma conciliar, fundado
sobre um "novo ódio" pela verdade pré-conciliar.
Qual é a conclusão?
Qualquer Shakespeare entre nós, ou qualquer católico, deve falar forte e
claramente, que, como tal, a Roma de Pachamama não é outra coisa que uma
abominação, da qual se deve fugir.
Kyrie eleison.
________________________
1 Ao amar-te, sabes
que sou perjuro,
Mas tu o és duas vezes por teu
amor jurar-me,
Em ato, quebraste o voto nupcial,
rasgaste a nova fé,
Ao jurares novo ódio depois de um
novo amor.
Mas por que eu te acuso de
quebrar dois juramentos,
Quando quebro vinte? Eu sou mais
perjuro,
Pois todos os meus votos são
juramentos para teu próprio mal,
E toda a minha fé sincera em ti
está perdida;
Pois tantos juramentos fiz de tua
imensa bondade,
Juramentos de teu amor, de tua
verdade, de tua fidelidade,
E, para iluminar-te, dei olhos à
cegueira,
Ou fi-los jurarem contra as
coisas que viam.
Pois
jurei que és sincera: olhos mais perjuros,
Jurei contra
a verdade tão imunda mentira.
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