quarta-feira, outubro 28, 2020

Comentários Eleison: Madiran - A Filosofia

 

Comentários Eleison  –  por Dom Williamson

Número DCXCII (692) – (17 de outubro de 2020)



MADIRAN – A FILOSOFIA


Tal como a "arte" moderna se livra das coisas visíveis,

Assim o “pensamento” moderno traz consigo um caos ímpar.


Assim como o Papa Pio X em sua grande Encíclica antimodernista de 1907, a Pascendi, Jean Madiran, em seu livro “A Heresia do Século XX”, parte da filosofia, porque ambos percebem que o problema que torna tão difícil para as mentes modernas compreenderem realmente o catolicismo é antes filosófico que teológico. Assim, a primeira das seis partes do livro de Madiran tem como título "Preâmbulo filosófico".


Surpreendentemente, o próprio Madiran diz aos leitores que eles podem pular o Preâmbulo se quiserem, mas ele só pode tê-lo feito para poupar muitos leitores modernos que são como que alérgicos às absurdidades delinquentes que procedem das chamadas “universidades” de hoje. Na verdade, o argumento do livro de Madiran é tão dependente da verdadeira filosofia quanto independente da "filossofisma" ou pseudofilosofia de hoje.


Mas como e por que a Fé sobrenatural pode ser tão dependente da filosofia, que é o estudo racional de toda a realidade natural, a elevação do (verdadeiro) senso comum, de um nível amador a um profissional, por assim dizer? Eis a resposta: um bom vinicultor não depende de garrafas de vidro limpas e sem rachaduras para fazer um bom vinho, mas ele não pode dirigir seu negócio de vinhos sem essas garrafas, porque se todas as garrafas estiverem sujas por dentro, ninguém vai comprar seu vinho, por melhor que este seja. O vinicultor pressupõe que obterá automaticamente garrafas limpas. Comparada com o vinho, a garrafa de vidro não vale quase nada quando está vazia, mas é absolutamente necessária, sem rachaduras e sem sujeira, para que o vinicultor possa conter seu vinho.


Ora, a razão humana é como a garrafa. É apenas uma faculdade natural, mas quando chega à morte deve conter o vinho sobrenatural da Fé, sob pena de condenação eterna (Mc. XVI, 16). A Fé é um dom supremo de Deus pelo qual a razão de um homem é sobrenaturalmente elevada para crer, mas se essa faculdade da razão for suja por erros e crenças humanas, então, como a garrafa suja, corre o risco de sujar o vinho da crença de Deus, por mais divina que seja essa crença em si mesma. Ora, apenas um pouco de sujeira na garrafa estragará o vinho que ela contém, mas o modernismo na mente é um erro tão radical que estragará, ou minará, qualquer Fé vertida nessa mente. E como o vinho vertido em uma garrafa suja não pode evitar que seja estragado, a Fé católica vertida em uma mente moderna dificilmente pode evitar ser minada. Assim ensinam Pio X, de Corte, Calderón e Madiran, junto com todos os outros que perceberam toda a malícia objetiva de uma mente modernista.


Então, como Madiran em particular prova que os Bispos franceses na década de 1960 já não tinham mentes católicas? Ele parte de uma declaração oficial deles mesmos em dezembro de 1966 (p. 40) onde afirmam que "para uma mente filosófica", as palavras "pessoa" e "natureza", cruciais para a Cristologia (teologia católica de Cristo), mudaram seu significado desde os tempos de Boécio (que elaborou a definição de “pessoa”) e de Tomás de Aquino (que fortaleceu o verdadeiro sentido de “natureza”). Em outras palavras, para os Bispos franceses, a filosofia moderna deixou para trás a filosofia clássica da Igreja incrustada na doutrina imutável da Igreja, de modo que, para eles, o tomismo é obsoleto "para uma mente filosófica", e deve ser descartado.


Mas em uma Igreja cuja doutrina sempre correspondeu ao que nunca muda na realidade extramental, esta perspectiva dos Bispos franceses é absolutamente revolucionária. Isso só pode significar, diz Madiran (43), que eles aceitam a revolução copernicana na filosofia de Immanuel Kant (1724-1804), que colocou a “realidade” não mais fora, mas dentro da mente. No entanto (45, 46), somente na filosofia kantiana existe uma obrigação de aceitar essa internalização da realidade. Somente sob suas próprias premissas se deve chegar às suas conclusões irreais. Por sua escolha moral de Kant em vez de Aquino, os Bispos franceses demonstraram de fato sua apostasia implícita (50) e sua religião antinatural. Declararam sua independência da Verdade de Deus rechaçando a realidade de Deus e da Ordem que Ele implantou na Natureza (60-63).


Madiran conclui sua Parte I dizendo que enquanto o tomismo corresponde à experiência humana de todos os tempos e todos os lugares (66), o kantismo deixou os Bispos franceses mentalmente à deriva, como está a era moderna que eles buscam agradar (67).


Kyrie eleison.

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