Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCLXIV (664) – (3 de abril de 2020):
A Igreja de nosso
Senhor, amigos, segue a linha de Deus,
E não a nossa, por
estranho que pareça.
Certamente
muitos leitores conhecem a liturgia da Semana Santa, normalmente comemorada na
próxima semana, as narrativas evangélicas da Paixão de Nosso Senhor, mas talvez
não tenham pensado em quantos dos vários momentos da Paixão podem ser aplicados
à situação dos católicos de hoje. Tomemos, por exemplo, o cativeiro de Nosso
Senhor no Horto do Getsêmani. Ele disse muitas coisas, cada uma das quais é um
mundo em interpretação.
Na noite de
quinta-feira, Jerusalém está cheia de peregrinos da Judeia, da Galileia e da
Diáspora, e há uma tensão elétrica em toda a cidade, porque todas as pessoas
importantes estão lá está para a grande festa da Páscoa, e a tensão está
centrada em torno de Jesus. Ele é muito amado por seus apóstolos e discípulos,
e pelo grande número de pessoas que Ele ensinou, curou, consolou e ajudou nos
últimos três anos de seu ministério terrestre. Por outro lado, parece que as
autoridades religiosas do templo, os sumos sacerdotes e os escribas e fariseus
o desaprovam severamente, e o querem absolutamente fora do caminho. O que Ele
fez de errado? E o que eles vão fazer com Ele? A cidade inteira fala de Jesus.
Nessa
atmosfera tensa, Ele celebrou a Última Ceia com Seus Apóstolos, acrescentando
cerimônias estranhas, mas imensamente sérias, às do Antigo Testamento, e
falando como se estivesse prestes a deixá-los. Ele envia Judas Iscariotes a
seguir o caminho que este escolhera, e depois leva os outros Apóstolos ao Horto
do Getsêmani. Estes estão assustados e inquietos, mas Pedro está pronto para
lutar, tendo trazido uma espada consigo. Jesus deixa para trás oito dos onze,
levando Pedro, Tiago e João ainda mais para dentro do olival, onde Ele lhes pede
que rezem, advertindo-os de que, se não o fizerem, a tentação poderá pegá-los.
Então Ele os deixa também para trás, e reza sozinho Sua terrível agonia em três
partes, encontrando-os dormindo cada vez que volta a reunir-se com eles.
Finalmente, Judas Iscariotes traz a Guarda do Templo para prender Nosso Senhor,
longe das pessoas que se arriscaram para protegê-Lo, e o trai com um beijo.
Pedro fica furioso, saca a espada e, em defesa de seu amado Mestre, corta a
orelha de um servo do Sumo Sacerdote, somente para que Jesus lhe diga que baixe
sua espada. Jesus dá três razões para isto.
Em primeiro
lugar: "Todos os que usarem a espada, pela espada perecerão". Nosso
Senhor não precisa ser o Valete dos Paus, mas o Rei e Copas, na luta
essencialmente espiritual pela salvação eterna das almas. Isso Ele nunca pode
fazer por meio de violência, que só gerará contraviolência. Em segundo lugar,
da mesma forma: "Crês que não posso invocar meu Pai, e Ele imediatamente não
me enviaria mais de doze legiões de anjos?". Obviamente, o Criador do
universo tem ampla força física para derrubar exércitos inteiros de inimigos de
Seu Filho, mas não é assim que Eles ganhariam almas, pelo contrário. A força
superior só alienaria as almas fisicamente esmagadas por Deus. E em terceiro
lugar: “Como então as Escrituras se cumpririam, segundo as quais é necessário que
assim seja?”. O plano de Deus, consignado à Sagrada Escritura, tem sido desde
toda a eternidade que Jesus alcançará as almas (uma minoria) por Ele mesmo sendo
esmagado! Jesus vencerá sendo, como dizemos hoje, ao menos em aparência, um
"perdedor"! Nesse ponto, é Pedro quem “perde”, e com total
incompreensão de seu amado Mestre, ele foge, seguido pelos outros dez
apóstolos.
Como muitos
tradicionalistas homens de hoje, Pedro é um homem de homens. Ele é
"macho". Não lhe falta nada de fé, coragem ou devoção em relação ao
seu divino Mestre, mas dormiu, em vez de rezar no Horto. Se ele tivesse
rezado em vez de dormir, seus pensamentos poderiam ter sido divinos em vez de
humanos, humanos demais, e ele poderia ter entendido que Jesus estava marchando
para um nível muito mais alto do que o de Pedro, por mais corajoso e devoto que
Pedro tivesse sido. Pelo liberalismo ou pelo sedevacantismo, católicos hoje em
dia cortam não apenas a orelha de um dos servos do sumo sacerdote, mas também cortam
a cabeça do próprio Sumo Sacerdote por meio de uma quase-heresia suave ou de um
quase-cisma. Mas o próprio Senhor não nos alertou que Sua Igreja também vencerá
perdendo? No fim do mundo (Lc. XVIII, 8), não terá quase desaparecido?
Mistério...
Kyrie eleison.
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