Número DCLXV (665) – (11 de abril de 2020):
A Igreja Sepultada – I
Em pequenos grupos a
Igreja consegue sobreviver, mesmo sepultada,
E, erguendo-se
novamente, ela terá todo tipo de vida.
Se se acredita
em Nossa Senhora de La Salette e no Venerável Bartolomeu Holzhauser, o que
estamos vivendo hoje é apenas o fim da Quinta Idade do mundo, não é ainda o fim
da Sétima e Última Idade do mundo. A Quinta Idade deve terminar em um grande castigo,
prelúdio da breve Sexta Idade, que será o maior e mais glorioso triunfo da Igreja
em toda a sua história, prelúdio, por sua vez, da Sétima Idade, que verá o
surgimento do anticristo, a maior perseguição de toda a história da Igreja e o ocaso
do mundo tal como o conhecemos, que será misteriosamente substituído por
"novos céus e uma nova terra" (II Pedro III, 13). Se é isso o que São
Pedro, o Venerável Holzhauser e Nossa Senhora de La Salette quiseram dizer,
certamente a Igreja se reerguerá de sua tumba atual bem antes de decolar no fim
do mundo para o Céu. A questão é: como sobreviverá e sairá de sua tumba atual?
O ponto
essencial que se deve compreender é que a Igreja pertence a Deus, que a Igreja
é dirigida pelo Espírito de Deus, e que a ação deste Espírito Santo é
comparável à do vento que sopra onde quer, e sabemos que está ali, porque
podemos ouvi-lo, mas não sabemos de onde vem nem para onde vai (Jo. III, 8).
Portanto, os pensamentos de Deus estarão muito acima dos nossos pensamentos
como homens, e precisamos acostumar-nos, por exemplo, com que os primeiros
sejam os últimos, e os últimos sejam os primeiros (Mt. XX, 16). Assim, desde
1970, quando a Fraternidade Sacerdotal São Pio X foi fundada, até 2012, quando
seus líderes estabeleceram as condições para que a Fraternidade se voltasse sob
os romanos conciliares, ela foi a vanguarda na defesa da Fé; mas desde 2012 ela
passou a ser oficialmente como um cachorrinho de colo dos romanos. O Sistema tragou
a Fraternidade, e, por ela ser um dos primeiros, passou a tornar-se um dos últimos,
porque o Diabo não deixaria que ela se detivesse na metade do caminho.
Nesse ponto,
muitos católicos da Tradição desejavam com todo o coração que uma pós-Fraternidade
surgisse para tomar o lugar da Fraternidade. Mas uma pós-Fraternidade poderia
muito bem não ter sido a vontade de Deus. Os anos de 2010 não eram mais os anos
de 1970 ou de 1980, quando o Arcebispo Lefebvre conseguiu construir a Fraternidade
mundial. A desintegração dos corações e das mentes foi muito mais avançada do
que nos anos de 1970, e, desde 2012, está acelerando. Veja-se quão pouco bom
senso os homens têm hoje, e cada vez menos. É claro que a graça de Deus pode transformar
seres humanos desintegrados em católicos integrais, mas Deus raramente força o
livre-arbítrio dos homens; portanto, se os homens insistirem em transformar seu
interior em uma espécie de pântano lamacento, pode ser que o helicóptero da
graça sobrenatural de Deus nem tente pousar, por receio de desaparecer na lama.
Certamente
Deus manterá a Igreja ao longo dos anos de 2020. Será por meio de um movimento
de “Resistência” sem estrutura nem organização, e com conflitos endêmicos entre
os membros que resistem inclusive uns aos outros? Se todos os resistentes compartilham
pelo menos a mesma Fé verdadeira, seu movimento ainda pode ser o candidato
preferencial na defesa da fé, e sua falta de estrutura pode até ser inclusive uma
vantagem caso isto signifique que não há uma única cabeça cuja captura seria
demasiadamente suscetível de significar a queda de toda a estrutura, porque o
homem moderno não sabe como obedecer ou desobedecer. E se os que resistem têm,
além disso, um mínimo de bom senso e caridade, podem até continuar juntos sem
ter de devorarem-se uns aos outros. E se a “Resistência” não é um rótulo pelo
qual orgulhar-se, também não é uma coisa ruim, porque a situação já foi para muito
além dos meros rótulos.
De qualquer
forma, o que é vitalmente necessário para os católicos que desejam salvar suas
almas mantendo a fé é ver como e por que o mundo que nos rodeia mina e corrompe
sua fé católica. Não é necessariamente por falta de boa vontade ou de boas
intenções; pelo contrário. Enquanto os protestantes originais eram inimigos
abertos e amargos da fé, seus sucessores, liberais em todo o mundo, podem ser
sinceramente amigáveis com os católicos, sempre que estes compartilhem
seu profundo princípio de que a verdade só pode ser subjetiva, que existe
apenas um dogma, segundo o qual todos os outros dogmas são opcionais, que as ideias
não importam, que "tudo que você precisa é de amor", que todas as
religiões têm o mesmo Deus, e assim por diante. Esse dogma tornou-se tão
instintivo que já nem é mais discutido, e é por isso que é tão perigoso. A
verdade é descartada fora do tribunal, mesmo antes que se possam pôr os pés na
sala. Mas, se não há verdade, como pode haver um Deus verdadeiro?
Kyrie eleison.
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