terça-feira, junho 16, 2020

Comentários Eleison: Malícia do Modernismo - V

Comentários Eleison  –  por Dom Williamson
Número DCLXXIV (674) - (13 de junho de 2020)


MALÍCIA DO MODERNISMO - V





Má doutrina não implica necessariamente má vontade.
Boa vontade não implica necessariamente boa doutrina.

Há pelo menos mais uma consideração importante por apresentar antes de deixarmos o modernismo em paz (pelo menos por enquanto), e é uma profecia do Pe. Frederick Faber (1814-1863) a respeito de nossos próprios tempos, que certamente já apareceu mais de uma vez nestes "Comentários". Ele disse palavras segundo as quais o fim do mundo se caracterizará por homens que farão o mal pensando que estão fazendo o bem.

Parece lógico. Mesmo no fim do mundo, os homens ainda terão sua natureza dada por Deus, que, como tal, é boa, subjacente aos seus pecados originais e pessoais, por mais pesados que sejam nos últimos tempos – II Tim. III, 1-5. Por essa natureza subjacente, que subjaz até ao pecado original inato, os homens têm uma inclinação natural subjacente ao bem. No entanto, a multidão de homens sob o anticristo e seus antecessores seguirá os passos do mal que será causado ou que estará sendo preparado. Como esse bem e esse mal poderão coexistir dentro deles?

A vontade humana não pode querer nada que a mente humana não lhe tenha apresentado primeiro. Diante de cada desejo humano, deve haver um pensamento humano. O desejo de um não objeto só pode ser um não desejo. Portanto, a vontade depende de a mente ter previamente captado seu próprio objeto, e como a mente deve primeiramente captar seu próprio objeto, sempre há a intervenção prévia da mente entre o ato da vontade e o seu objeto. Mas agora vem Kant, que diz que a mente não pode captar seu próprio objeto real, mas somente o que ela mesma fabrica. Isso significa que a vontade e seu objeto real não estão mais adequadamente conectados. Isso significa que uma boa vontade pode fazer com que as coisas sejam na realidade más, e que uma má vontade pode fazer com que algo seja na realidade bom, mas, dado o pecado original dos homens, este último caso será menos frequente. E assim, quando Kant desconecta a mente da realidade objetiva, faz com que seja muito mais fácil para a vontade querer algo mau quando parece ser bom. Assim, em todo um mundo atual de mentes  desconectadas da realidade objetiva, é muito mais fácil para os homens continuarem sendo de boa vontade, mesmo quando desejam o que na realidade não é bom, porque a mente foi radicalmente lesada.

Eis o que o Pe. Faber está profetizando. Ele está dizendo que, no fim do mundo, o problema não estará tanto nos corações maus ou na má vontade, como nos bons corações com mentes lesadas; em outras palavras, nos bons corações com maus princípios. O que isso significa na prática? Significa que atualmente haverá um grande número de católicos que podem ter a Fé, e que têm boas intenções, mas cujas mentes funcionam mal porque seguem, conscientemente, mas com maior frequência inconscientemente, os ensinamentos de Kant, de modo que sua boa vontade está consequentemente debilitada. Então eles já não podem ver como a Neoigreja está sendo uma gangrena sobre a verdadeira Igreja Católica, ou como a Fraternidade Sacerdotal São Pio X do Arcebispo está sendo gangrenada por seus sucessores. Mas, em muitos casos, a cegueira de tais almas não é necessariamente por malícia ou por falta de boa vontade.

Segue-se que, ao lidar com essas almas nas quais o subjetivo foi separado do objetivo por um mundo inteiro lesado por Kant, não se deve esquecer que um católico pode facilmente cometer um dos dois erros opostos, mas conectados. Ou ele pode dizer que essas almas são tão inocentes de coração que não podem ser equivocadas na mente, e então a Neoigreja não pode estar tão equivocada, e então deve voltar a unir-se a ela, à Pachamama e a todos – assim se comportam hoje os líderes da Neofraternidade e todos os que os seguem –; ou pode dizer que os erros na mente da Neoigreja e da Neofraternidade que desejam voltar a unir-se são tão graves que não podem ser a verdadeira Igreja ou a verdadeira Fraternidade, e ambas devem ser absolutamente evitadas – assim argumentam e se comportam aqueles conhecidos como sedevacantistas e aqueles que recusam o rótulo de sedevacantistas, mas assumem posições sedevacantistas.

Pelo contrário, se eu reconheço como Kant separou o sujeito do objeto, não direi que essas almas são de boa vontade e, portanto, sua doutrina é boa; nem que sua doutrina é tão falsa que elas devam ser de má vontade. Em vez disso, direi que subjetivamente elas podem ser de boa vontade, mas, em todo caso, são objetivamente de tão má doutrina que, para a minha salvação eterna, não posso segui-las ou fazer-lhes companhia. E com o Santo Rosário, implorarei a Nossa Senhora que mantenha meu coração e minha mente em equilíbrio na verdade.

Kyrie eleison.




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