Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCLXXXVIII (688) – (19 de setembro de 2020)
“Pensar” é
hoje a dissolução do pensamento.
Madiran? A
destituição da dissolução!
Como filha
mais velha da Igreja, a França sempre teve pensadores e escritores na linha de
frente da defesa da Igreja, e nisto os tempos modernos não são uma exceção. Na
confusão e na desordem dos católicos que surgiram imediatamente após o fim do
Concílio Vaticano II em 1965, um pioneiro notável do que viria a ser o
pensamento "tradicional" foi o francês Jean Madiran (1920-2013),
criador e editor da revista mensal direitista e nacionalista “Itinéraires”
(Itinerários) de 1956 a 1996. Já um autêntico defensor da Fé antes do Concílio,
fez de sua revista uma peça central dessa defesa depois do Concílio, quando ela
se tornou leitura essencial para muitos católicos que tentavam não perder a
cabeça nem a fé.
Na década de
1960, Madiran certamente contribuiu para manter na França o público letrado que
serviria de base de apoio na década de 1970 para que o Arcebispo Lefebvre fosse
capaz de dirigir um movimento “Tradicional” na França a fim de opor-se à
destruição da Igreja por dentro pelo clero conciliar. Madiran e sua revista
também podem ter ajudado seriamente o próprio Arcebispo a chegar à sua
importante decisão no final da década de 1960 de fundar na Suíça francesa a
Fraternidade Sacerdotal São Pio X, destinada a dar sua contribuição decisiva
para a salvação da Tradição Católica durante os 40 anos seguintes. A única vez
que este escritor se lembra de ter visto o Arcebispo correr foi quando Madiran
uma vez estava visitando o seminário de Écône, e o Arcebispo teve de alcançá-lo
pouco antes que retornasse a Paris.
Infelizmente,
a colaboração deles chegou ao fim quando João Paulo II se tornou Papa em 1978,
e Madiran pensou que este resgataria a Igreja, mas, no que diz respeito ao
Arcebispo, Madiran teve sua boa influência, e a "Tradição" estava de
agora em diante bem estabelecida. Precisamos hoje lembrar o quão impensável era
nas décadas de 1950 e 1960 que os católicos duvidassem de seu clero. Aqui está
o enorme mérito de Madiran: uma verdadeira fé não abalada por uma hierarquia
católica quase inteiramente perdida, junto com a coragem de levantar-se e
escrever em público contra a multidão de pessoas que seguem
"fielmente" essa hierarquia por "obediência", ou que sem fé
se regozijava na destruição da Igreja pela maçonaria. O fato de Madiran ter-se
deixado enganar posteriormente por João Paulo II apenas testemunha a força do
magnetismo de Roma, que por um período crucial de tempo ele mesmo havia
conseguido superar a serviço da Verdade Católica.
Sugere-se que
houve algo nele que nunca vacilou pelo fato de que, entre todos os livros que
escreveu em uma vida longa e produtiva, aquele em que ele mesmo disse que
melhor disse o que essencialmente queria dizer é o livro que vamos ver nestes
“Comentários Eleison” – L'hérésie du vingtième siècle [A heresia do século
XX]. Apareceu pela primeira vez em 1968, em outras palavras, no meio da polêmica
que girava em torno do Vaticano II. Contém um prólogo e seis partes,
totalizando talvez sete números destes “Comentários”, porque o livro é um
clássico, mesmo que não tenha tido muitas – ou nenhuma – tradução.
É um clássico
porque é preciso um filósofo tomista para reconhecer e corrigir – como se
analisa uma névoa? –, e Madiran era um filósofo tomista. Mas não qualquer
filósofo tomista, porque a maioria dos Bispos do Vaticano II havia sido
treinada em seu seminário ou em sua congregação nos princípios da filosofia de
Santo Tomás de Aquino. Mas eles não haviam aprendido ou entendido como esses
princípios se aplicam à realidade. Isto se deve ao fato de que é relativamente
fácil ensinar essa filosofia como um catálogo telefônico coerente, que independe
da realidade. Os alunos católicos são dóceis e bebem de tudo, sem
necessariamente compreender que o tomismo é o único e possível relato da única
realidade que nos rodeia. Mas quem pode ensinar a realidade a alunos
nascidos no ar-condicionado ou no aquecedor central e amamentados na televisão?
Madiran foi de uma geração anterior, o que ajuda, mas mesmo assim, para ver o
modernismo tão claramente quanto ele, precisou de uma graça especial de
realismo, como Pio X de Corte, Calderón e alguns outros seletos.
Apertem os
cintos. Madiran vale a pena. Nas próximas semanas, talvez, seu Prólogo.
Kyrie eleison.
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