Comentários Eleison - por Dom Williamson
CDLIII (453) - (19 de março de 2016):
Dom Tomás, um monge com suficientes fé e caridade,
E agora um bispo, satisfazendo a Deus (e aos leitores) a vontade.
No dia da
consagração, queira Deus, de Dom Tomás de Aquino como terceiro bispo para a
"Resistência" católica de hoje, parece apropriado reproduzir o
testemunho de um amigo próximo dele, o professor Carlos Nougué, que atualmente
lidera uma Casa de Estudos junto ao Mosteiro da Santa Cruz de Dom Tomás. Este
testemunho, que muitos de vocês podem não ter visto, está apenas levemente
adaptado do original, que pode ser acessado no excelente site mexicano Non Possumus [N.T.: e no site em língua
portuguesa “Estudos Tomistas”, do próprio autor]. Observem em particular a boa influência de
Corção, a conexão próxima com Dom Lefebvre, a recusa de se aproximar da Roma
neomodernista e dos métodos estalinistas de Dom Fellay.
Kyrie eleison!
Miguel Ferreira da Costa nasceu no Rio de
Janeiro, Brasil, em 1954. Até a Faculdade de Advocacia, fez seus estudos no
Colégio de São Bento do Rio de Janeiro, onde tive a oportunidade de ser por um
breve tempo seu colega de classe. Fez parte do movimento tradicionalista e
antimodernista organizado em torno de Gustavo Corção e da revista Permanência;
teve início então sua vida de “fiel guerreiro e veterano da guerra pós-conciliar
pela Fé". Começou, como dito, a cursar Advocacia, mas abandonou-a para
tornar-se monge beneditino, com o nome de Tomás de Aquino, no mosteiro francês
do Barroux, que tinha então por superior a Dom Gérard; e foi ordenado sacerdote
em 1980, em Êcone, por Dom Marcel Lefebvre. Pôde então privar da amizade, do
exemplo, dos ensinamentos do fundador da FSSPX.
Em 1987 ele veio ao Brasil com um grupo de
monges do Barroux para fundar o Mosteiro da Santa Cruz, em Nova Friburgo, Rio
de Janeiro/Brasil. Nesse ínterim, porém, Dom Gérard, contra a instância de Dom
Lefebvre, marchou para um acordo com a Roma conciliar, contra o que se opôs
também Dom Tomás de Aquino. A separação foi então inevitável. O Mosteiro da
Santa Cruz, com total apoio e incentivo de Dom Lefebvre, tornou-se assim, em
1988, independente, ainda que amigo da FSSPX. Contudo, em razão de uma orientação
por escrito emitida pelo Arcebispo, a FSSPX não teria jurisdição sobre ele,
porque como Prior do Mosteiro era necessária a Dom Tomás a autonomia.
A carta foi providencial, porque as relações
entre a FSSPX e o Mosteiro foram-se deteriorando, sobretudo com a aproximação
daquela à Roma neomodernista. Quando Bento XVI publicou seu Motu proprio sobre o “rito extraordinário”, Dom Tomás de
Aquino negou-se a cantar na Missa de domingo o Te Deum pedido por Dom Fellay
para comemorar o documento papal, e, especialmente pela “suspensão das
excomunhões” pelo mesmo papa, escreveu Dom Tomás a Dom Fellay uma carta em que
dizia que não seguiria seus passos rumo a um acordo com a Roma conciliar. Um
tempo depois, aparecem no Mosteiro (sou testemunha presencial disto) Dom de
Galarreta e o Padre Bouchacourt para dizer a Dom Tomás que ele teria quinze
dias para deixá-lo; se não o fizesse, o Mosteiro deixaria de receber ajuda e
sacramentos (incluído o da ordem) da FSSPX.
Escrevi a Dom Fellay para queixar-me de tal
injustiça, e ele respondeu-me que Dom Tomás tinha um problema mental, e que
enquanto ele não deixasse o Mosteiro, não receberia apoio da Fraternidade. Respondi-lhe:
“Devo ter eu também o mesmo problema mental, porque convivo há doze anos com
Dom Tomás e nunca o percebi nele”. Tratava-se em verdade de algo similar ao
stalinismo e seus hospitais psiquiátricos para opositores. Hesitou então Dom
Tomás: se deixasse o Mosteiro, seria a ruína deste com respeito à Fé; se porém
permanecesse, privá-lo-ia de toda a ajuda de que necessitava. Então Dom
Williamson escreveu uma carta a Dom Tomás em que assegurava ao Mosteiro todos
os sacramentos; poderia assim Dom Tomás permanecer nele.
Foi o suficiente para que todos aqui
reagíssemos: foi o começo do que hoje se conhece por Resistência, e que teve
por órgão primeiro a página web
chamada SPES, hoje desativada por ter cumprido já o papel a que se destinava. O
Mosteiro passou a ser então centro de acolhimento para os sacerdotes que,
querendo deixar a FSSPX pela traição de seus superiores, hesitavam porém em
sair justo por não ter onde viver fora dela. Foi o lugar da sagração de Dom
Faure, e será agora o lugar da sagração do mesmo Dom Tomás de Aquino Ferreira
da Costa, meu pai espiritual e o amigo mais entranhável que Deus me poderia
haver dado.