Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DXVII (517) (10 de junho de 2017)
HIPOCRISIA REFINADA
Rótulos enganam. A verdade é dita pelos frutos.
Francisco arranca as próprias raízes da Igreja.
Vamos
assumir, então, com o primeiro artigo aqui do Padre Gleize publicado há seis
semanas (EC 511), que não é certo que um Papa não possa cair em heresia. Para
salvar almas desde Lutero até os dias de hoje, Deus pode ter dado graças
especiais às autoridades de Sua Igreja da decadente Quinta Idade para resistir
a essa decadência, mas essa Idade chegou praticamente ao fim com o Vaticano II.
Os Papas conciliares têm sido a morte da Igreja. Mas são eles hereges formais?
O interesse no segundo artigo do padre Gleize está onde ele destaca como esses
Papas conseguiram ir matando a Igreja subvertendo a doutrina católica enquanto
parecem permanecer católicos. Qual é a técnica deles? O Padre Gleize examina o
caso dos cinco "dubia", ou pontos duvidosos, levantados pelos quatro
Cardeais contra o texto do Papa Francisco Amoris
Laetitia (AL): esses pontos fazem
dele um negador consciente e voluntário da doutrina definida da Igreja?
Aparentemente não, diz o Padre Gleize, mas, com efeito, sim.
Aparentemente
não, porque em cada um dos cinco pontos o Papa Francisco não nega diretamente a
doutrina da Igreja, antes ele a deixa ambígua, ou a deixa de fora. O primeiro
dos cinco pontos é um exemplo de ambiguidade: o Papa não diz: "Divorciados
podem receber Comunhão", mas "em certos casos os divorciados
podem receber Comunhão". Aqui o "em certos casos" está aberto a
uma interpretação ampla ou estreita. É ambíguo, e essa ambiguidade é capaz de
minar a Lei da Igreja, porque há muitos divorciados e muitos sacerdotes e
prelados que ficarão felizes em adotar a interpretação ampla.
Nos
quatro pontos restantes, o Papa mina a doutrina católica não por negação, mas
por omissão. Por exemplo (quarto ponto), ele não diz: "Não existe tal
coisa como um ato objetivamente pecaminoso", porque a Igreja sempre designou
uma série de atos objetivamente pecaminosos, começando pelos Dez Mandamentos de
Deus. Em vez disso, o Papa diz: "A pecaminosidade objetiva não significa
necessariamente culpabilidade subjetiva". Ora, é claro que a Igreja nunca
negou que possa haver circunstâncias para este ou aquele ato que tiram sua
culpa, mas colocar a desculpa subjetiva em primeiro plano é colocar o pecado
objetivo em segundo plano. Os pecadores vão adorar! No entanto, a Igreja
Católica sempre classificou a natureza objetiva e a correção ou incorreção moral
dos atos acima da culpabilidade subjetiva desta ou daquela pessoa que comete o
ato. "A exceção faz a regra", diz um provérbio, e outro, "Os
casos difíceis fazem uma lei ruim". Pelo contrário, o subjetivismo do Papa
Francisco mina a lei da Igreja (e o senso comum) com casos difíceis, mesmo quando
ele evita contrariar diretamente a lei da Igreja. O Padre Gleize conclui que as
cinco dúvidas dos quatro cardeais estão totalmente justificadas.
No
entanto, o Papa está cobrindo seus rastros ao não fazer declarações dogmáticas
ou antidogmáticas. Ele mesmo escreve na AL
que seu propósito é "colecionar contribuições dos dois Sínodos sobre a
família, juntamente com outras considerações capazes de orientar o pensamento,
o diálogo ou a prática pastoral". Este manifestamente não é um propósito
dogmático. Por conseguinte, é difícil colocar no Papa Francisco o rótulo de
"herege formal". Mas, assim como o Vaticano II manifestou ser apenas
um Concílio "pastoral", isto é, não doutrinal, e, no entanto, fez
voar pelos ares a doutrina católica e a Igreja , assim o Papa Francisco está na
AL não manifestando que ele está
ensinando doutrina, e ainda assim ele está mandando pelos ares a moral católica
e a família. É o clássico meio comunista e neomodernista de subversão, em que
se usa aspectos práticos para minar a verdade, não em princípio, mas na
prática. Comparem Roma com Dom Fellay: "Obtenham reconhecimento prático
primeiro, depois falamos sobre doutrina". Comparem Dom Fellay com a FSSPX:
"Não estamos mudando a doutrina", enquanto ele mesmo praticamente não
exala mais uma palavra de crítica sobre a destruição da Igreja pelo Papa
Francisco. Teria Dom Lefebvre mantido o silêncio? Fazer a pergunta é
respondê-la.
O
Padre Gleize conclui que o Papa Francisco pode não ser um "herege formal",
mas ele está certamente "favorecendo a heresia". "O herege
formal" deveria ser o pior dos dois rótulos, mas não neste fim incorreto
da Quinta Idade da Igreja, quando a hipocrisia dos inimigos da Igreja é mais
refinada que nunca. Que o céu nos ajude mais do que nunca! Rezem os Quinze
Mistérios do Rosário todos os dias!
Kyrie
eleison.