Comentários Eleison – por Dom Williamson
Número DCXVII (617) - (11 de maio de 2019):
BREXIT – II
Brexistas, vocês querem
realmente ser abençoados?
Busquem primeiro o
Reino de Deus. Ele acrescentará o resto.
Há um poema
inglês do século XIX merecidamente famoso que lança muita luz sobre o enorme
rebuliço que foi despertado pela tentativa do povo britânico de escapar das
redes da União Europeia. "Dover Beach [A Praia de Dover]" foi escrito
provavelmente em 1851 por Matthew Arnold (1822-1888), e apresenta em quatro
versos irregulares sua profunda melancolia quando se encontra em pé na beira do
Canal da Mancha escutando o ritmo incessante das ondas na praia em frente a
casa onde se encontra para passar a noite com sua amada, presumivelmente sua legítima
esposa.
O primeiro
verso é uma bela descrição do litoral iluminado pela lua e das ondas, que
conclui com a “eterna nota de tristeza” que ele parece ouvir nas ondas. Como um
completo erudito clássico, ele recorda uma citação do dramaturgo grego Sófocles
(496-406 a. C.), que ouviu no mesmo vai e vem das ondas em uma praia parecida a
milhares de quilômetros de distância, e há mais de dois mil anos, “o turvo vai
e vem da miséria humana”, e o espírito de Arnold se volta para os profundos
problemas de sua própria época, a da era Vitoriana. Arnold nunca foi católico,
mas no terceiro verso ele remonta esses problemas à perda da Fé em seu século
XIX, cujo “rugido melancólico de retirada lenta” parece ouvir o som das ondas que
se esvaem diante dele.
No quarto e
último verso, ele apresenta a única solução que tem para o problema da vida que
desaparece do que uma vez foi a cristandade, e que é voltar-se para sua amada
ao seu lado e implorar-lhe que permaneça fiel a ele, porque tudo o que eles
realmente têm é um ao outro. Assim, na obscura conclusão do poema, tudo o mais
Não tem
realmente alegria nem amor nem luz,
Nem certeza
nem paz nem amparo para a dor;
E estamos aqui
como em uma planície obscura
Arrastados por
confusos alarmes de luta e fuga,
Onde exércitos
ignorantes se chocam à noite.
Assim, Arnold
teve fé suficiente para ver que o problema essencial de sua civilização era a
perda da fé religiosa, mas lhe faltava a fé para acreditar na alternativa real
e existente para a obscuridade e para a confusão resultantes, nomeadamente, a
Igreja Católica. Da mesma forma, os brexistas têm instintos sadios suficientes
para sentirem que a União Europeia está indo na direção errada, mas eles têm
menos religião ainda do que Arnold, e então eles têm menos ideia do que ele
tinha de como evitar a “planície obscura”. Portanto, o debate sobre o Brexit
continua sendo um “choque de exércitos ignorantes à noite”, porque todo mundo
está enquadrando o debate no âmbito econômico, quando na realidade o verdadeiro
debate é religioso, entre os últimos vestígios das nações cristãs, por um lado,
e, por outro lado, o início do Anticristo com sua Nova Ordem Mundial. É a
dimensão religiosa que dá ao debate sua força em ambos os lados. É a falta de
religião de ambos os lados que dá ao debate sua confusão.
Pois, de fato,
Deus é o grande ausente da “civilização” moderna, mas como disse certa vez o
Cardeal Pie, se Ele não governa com Sua presença, Ele governará com Sua
ausência. Sem Ele, o debate sobre o Brexit está sendo conduzido sob a
perspectiva econômica, e desse modo os brexistas estão fadados a perder. Mas será
que eles estão dispostos a se voltarem para Deus? Eis a questão.
Kyrie eleison.
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